Escrito como quem reza, sentido como uma oração, lido e sofrido com uma lágrima hesitante, Morreste-me é uma pequena e bela obra de arte. Bela e triste. Isto leva-me a pensar numa velha questão de filosófica: “pode a beleza ser triste”? Pode, digo eu. Talvez a beleza não esteja na coisa em si, neste caso na escrita, mas no admirável espelho da nossa alma. Um sentimento, uma dor de alma, um sofrimento atroz, são coisas belas quando, admirados, sentimos o nosso próprio espírito abalado. Talvez a arte seja tudo aquilo que mexe connosco. É nesse sentido que Morreste-me é uma belíssima obra de arte.
As palavras de J. L. Peixoto não são feitas de letras. São desenhadas com os átomos da tristeza. São partículas de dor que se juntam para formar dores de alma que irrompem destas páginas e nos invadem o espírito sem piedade.
Peixoto é um génio. Porque escreve bem? Não. Muitos escrevem bem. Mas poucos conseguem escrever a alma. E muito poucos conseguem escrever na alma do leitor. Peixoto invade-a; toma-a de assalto; escraviza-a e tortura-a. Ao ler esta tristeza, o leitor maravilha-se com a própria dor. Como será isto possível? Que estranho prazer é este de sofrer? Ou será apenas a beleza em tons de negro? Expor a dor, partilhá-la com o leitor, mergulhar na escuridão para depois a transportar até quem lê, será essa a beleza destas palavras?
Seja como for, ler Peixoto não é apenas um exercício estético. É descobrir a beleza da escuridão, da dor mais atroz; mas é também vivê-la e revivê-la porque este livro não pode ler-se apenas uma vez.
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