11/02/2013

GERMINAL, de ÉMILE ZOLA






Quando acabamos de ler Germinal, olhando para trás e voltando ao início do romance, ficamos espantados com esse sofrimento imenso e com tanta dor ao longo desta história. Émile Zola descreve-nos as condições de vida desumanas dos mineiros em França, na segunda metade do século IXX. Este é um romance excecional a todos os títulos. Germinal insere-se na obra de Zola, “Os Rougon-Macquart” constituída por vinte! volumes onde o autor faz um retrato da sociedade francesa ao longo do segundo império, através das várias gerações de uma família cujo nome dá o título à obra.

Inserida no naturalismo, escola literária oposta do romantismo que tende a representar a natureza e a descrever os factos observáveis, sem idealizações, sem nenhum preconceito moral ou estético. Esta corrente literária surgiu em França onde teve como cultivadores, para além de Zola, os Goncout, Dandet, Flaubert ou Monpassant.

“Germinal é um mês do calendário republicano, corresponde ao início da Primavera e consequentemente ao renascimento do mundo, podemos verificar que Zola pretende descrever-nos a primavera da igualdade dos trabalhadores. Para aceitarmos este argumento a última frase mostra a germinação dos trabalhadores que compreenderam por fim como se revoltar face às suas condições de vida miseráveis.” Retirado de Wikipédia.

Não posso deixar de enaltecer a forma como o autor se preparou para escrever este seu romance. Para se familiarizar com as condições de vida dos mineiros e com o seu dia-a-dia, Émile Zola trabalhou numa mina durante dois meses. Sentiu na pele as condições duras desse trabalho desumano, viveu nos mesmos bairros dos mineiros, bebeu nas mesmas tabernas que eles, comeu da mesma comida e, mais tarde, viria a participar nas negociações entre os mineiros em greve e as companhias. Penso que essa experiência de vida contribuiu de forma significativa nas descrições realistas do dia-a-dia, das condições de vida, das expectativas e estados de espírito, enfim, do ambiente que se vivia naquela época. Estávamos em plena era da industrialização e os direitos dos trabalhadores eram insignificantes face ao poder do capital.

Com a chegada de Estêvão a Montsu, onde consegue trabalho na mina, Zola começa por descrever-nos o dia-a-dia nos bairros operários. São bairros onde impera a promiscuidade, as casas separadas uma das outras por paredes tão finas que se ouve tudo o que se passa na casa ao lado. São casas pequenas, frias, onde as famílias, na sua maior parte numerosas, têm que se “acamar”, a privacidade não existe. Quando chegam da mina, os membros da família lavam-se todos na cozinha, num alguidar ao pé do fogão, a parte mais quente da casa, homens, mulheres e crianças. Não há aqui tempo para dar importância ao pudor. As crianças com dez anos podem começar a trabalhar nas minas, toda a ajuda é bem-vinda pois os salários deixam muito a desejar. A juntar a tudo isto, a procura de privacidade por parte dos jovens casais, trás por vezes alguns dissabores, pelo que as famílias vêm crescer o seu número quando as condições já são de si bastante difíceis. As donas de casa estão constantemente a fazer “milagres” para pôr comida na mesa quando a magra quinzena depressa se acaba.

Estêvão sente um choque quando começa a trabalhar nas minas. Os mineiros partem de madrugada, formando filas intermináveis dirigindo-se para essa máquina devoradora de carne humana. Chegados ao poço, têm que suportar ventos gelados (estamos no inverno), enquanto aguardam a sua vez para descer. Uma vez no fundo da mina, o trabalho desenrola-se sob temperaturas sufocantes e humidade extrema. O trabalho nos cortes onde é retirado o carvão é ainda manual, um labor de forçados, desumano e fisicamente exigente. Os que empurram os vagões de carvão não têm uma tarefa mais fácil, tudo é descrito com o realismo de quem sabe do que está a falar. Os trabalhadores trabalham por equipas e ganham consoante o número de vagões que conseguem retirar. Mas como são obrigados a fazer entivações, ou seja, reforçar as galerias com madeira, como medida de segurança, perdem tempo que podia ser destinado a retirar carvão. Quando as companhias decidem alterar as condições, nomeadamente pagar a entivação à parte, o que significa os mineiros receberem menos, a revolta explode por todas as minas. É interessante vermos duas correntes emergentes da época, o socialismo, personificado por Estêvão, e o anarquismo, por Suvarine. Os dois são amigos e estão constantemente a conversar sobre a melhor forma de vencer o capital, essa força que os esmaga. Estêvão começa a destacar-se nos comícios com as suas ideias revolucionárias que são bem aceites e, face às alterações inaceitáveis por parte das companhias, os mineiros entram finalmente em greve. Segue-se um braço de ferro de vários meses em que os mineiros tentam resistir estoicamente mas não sem pagarem um preço elevado, a fome impera, a vida já era difícil com trabalho, sem receberem torna-se ainda pior. Mas os mineiros resistem, alimentados desse ideal de transformação onde já conseguem ver a classe operária tomar as rédeas do poder e criar enfim uma sociedade de igualdade para todos.
É-me difícil resumir este romance, considerado a obra-prima de Zola, tanto haveria por dizer. Desde a profundidade das personagens, à descrição realista onde identificamos a corrente literária que Zola impulsionou, a ironia com que descreve a antítese do sofrimento dos mineiros concentrada nessa classe de burgueses abastados, nada neste romance nos deixa indiferentes e Germinal termina precisamente com essa analogia com a natureza, em que os mineiros brotam enfim da terra: “…- um exército cuja germinação iria em breve fazer explodir a terra.”









1 comentários:

helena frontini disse...

Li o livro ainda adolescente e, anos mais tarde,vi o filme. Adorei ambos. O que é raro, mas o filme conseguiu, nomeadamente com a escuridão, transmitir o enorme sofrimento dos mineiros.