Neste post opinarei, separadamente, sobre os dois primeiros livros da série The Lunar Chronicles da Marissa Meyer: Cinder e Scarlet. Ambos publicados em Portugal pela Planeta. No entanto a minha opinião é relativa às versões audiobook em inglês.
"Cinder (The Lunar Chronicles 1)" de Marissa Meyer (Editorial Planeta)
Opinião de Ana Nunes:
Como fã dos contos reunidos pelos irmãos Grimm, fico sempre curiosa com
as reinterpretações que os autores fazem destes clássicos.Se bem feitos,
claro. E, como se pode adivinhar pela capa de Cinder e pelo nome
do próprio livro, este é um recontar de Cinderella, mas não é ela a
única a aparecer neste livro, ou sequer na série.
Cinder acontece num mundo futurista, recém-formado após a IV
Guerra Mundial, mas devastado por uma nova doença que ilude os
cientistas da época.
Cinder, a protagonista, é uma cyborg que trabalha como mecânica de
androids e é quem sustenta a madrasta e as duas irmãs. Peony, uma das
irmãs, é muito amiga de Cinder mas os restantes membros da família
vêem-na como um carrapato. Mesmo quando ela é a seu única fonte de
rendimento.
A princípio parece que esta dinâmica familiar é muito previsível, mas a
autora dá-lhe nova profundidade e o ódio da madrasta até tem a sua
lógica (não que isto a torne numa personagem menos desprezível). Afinal
de contas o seu falecido marido adoptou Cinder sem razão aparente e
deixou-a sozinha a tomar conta de 3três crianças, e sem meio de
subsistência. A autora conseguiu assim transformar a vilã em alguém
cujas motivações são, de certa forma, compreensíveis.
E já que falo nas personagens, há que dizer que a autora conseguiu dar
vida a um leque de personagens muito extenso e dotá-las de
personalidades distintas e interessantes. Excepção feita à Raínha Levana
e aos seus lacaios que, pelo menos neste primeiro volume, parecem ser
pouco mais que estereótipos de vilões.
A minha personagem favorita foi a Cinder que, apesar de se parecer muito
pouco com a princesa da Disney, acabou por se mostrar muito cheia de
personalidade e sei que tem muito mais para mostrar, Também gostei da
Peony (Coitada!) e do Kai, a pesar de ele ser o mais juvenil imperador
alguma vez escrito! Ou não se portasse ele como um pirralho mimalho com a
sensibilidade política de uma ratazana. Contudo isto é compreensível,
dado o que se passou para ele ter que ter estas responsabilidades
políticas. Já para não falar que ele só tem dezanove anos. E, apesar de
tudo, acaba por ser a personagem mais normal de todas. E a normalidade é
uma cosia boa.
Mas já que falo no Kai ... aqueles encontros sucessivos, entre ele a
Cinder, foram demasiado convenientes. Não dá para acreditar que no dia
em que perdeu alguém tão importante ele fosse ter tempo para deambular
pelo palácio à procura de um médico/cientista que já não poderia fazer
nada por ele. Ele teria mais em que pensar, certamente!
Debruçando-me sobre o enredo, há que dizer que o mundo apresentado neste
livro tem imensas potencialidades, especialmente no que diz respeito à
relação Terra-Luna.
A autora conseguiu misturar bem a história clássica num mundo futurista,
dando reviravoltas que a tornaram ainda mais interessante. No entanto,
em certos aspectos acho que exagerou. Refiro-me, por exemplo, ao facto
de a Cinder ser, simultaneamente Cyborg e Lunar. uma pária para
terrestres e Lunares. A coitadinha mais coitadinha de todas!
Outra grande lacuna reside no suposto imenso poder da raínha Levana
que, conseguiu silenciar uma multidão de protestantes num abrir e fechar
de olhos mas que, surpreendentemente, não conseguiu forçar um príncipe
qualquer a casar-se com ela. Faz algum sentido? Eu acho que não.
E, já que falamos em coisas que não fazem sentido, porque é que a Cinder
compactuou, desde logo, com as mentiras do Doutor? Nós até
compreendemos, no fim, as motivações dele mas ela estava a mentir ao seu
soberano, sem qualquer razão para tal.
Enfim, este primeiro volume é uma introdução muito rica a este mundo e
tem história suficiente para nos manter o interesse durante toda a sua
extensão, mesmo ficando ainda muito por responder, não é um volume que
nos deixe pouco satisfeitos.
Noutro ponto, a escrita da autora é bastante acessível, descritiva e
funcional. Não detalha muito a tecnologia mas acaba por ser o
suficiente. Uma coisa boa é o não focar-se demasiado nas descrições.
Fá-lo apenas na medida certa para o leitor ter uma ideia geral e depois
preencher o resto com a sua imaginação.
Em suma, Cinder proporcionou-me várias horas de diversão. Tem um
início muito bom, que integra logo o leitor no mundo futurista e lhe
apresenta as personagens mais relevantes de forma dinâmica.
Com um mundo cheio de promessas, personagens que queremos continuar a seguir, e um enredo que nos prende, Cinder
surpreender-me por não ser mais um romance lamechas para jovens, e
mostrar maturidade narrativa, apesar de os seus protagonistas
continuarem a ser e a portarem-se como adolescentes. Mal posso esperar
para ler o próximo volume!
"Scarlet (The Lunar Chronicles 2)", de Marissa Meyer (Editorial Planeta)
Opinião de Ana Nunes:
Normalmente as sequelas são sempre mais fracas que os primeiros livros. Pois, Scarlet
não foi! Confesso, como céptica que sou em relação a séries de livros,
estava preparada para uma decepção. Felizmente enganei-me e Scarlet foi praticamente tão bom como Cinder. Em certos aspectos chegou até a ser melhor.
A história começa exactamente onde o anterior terminou, com Cinder a
tentar escapar da prisão e, graças aos seus novos membros cibernéticos e
aos seus poderes lunares, ela consegue fazê-lo com relativa facilidade.
À perna leva Thorne, que é, deixem-me dizer, a melhor personagem
masculina da série até agora. Vá, o Wolf também é fixe mas o Thorne bate
tudo, porque tem sentido de humor. Os outros são sisudos. E o Kai não
conta, porque até arranjar uma espinha dorsal eu vou ignorá-lo. (Espero
mesmo que ele pare de ser uma marioneta. Kai faz alguma loucura, por
favor!)
E bem, já me dispersei. Mas já que falo em personagens, e para não
pensarem que são só os homens da série que dão tinta, há que dizer que a
Scarlet é badass! É que a Cinder é forte mas é porque também tem a
ajuda da sua parte cyborg e do seu dom Lunar, mas a Scarlet é só humana e
ela parte a louça toda. Literalmente, desde o primeiro capítulo em que
aparece. Adorei-a!
A Cinder também esteve muito bem, especialmente o conflito interior que
tinha por causa do seu dom Lunar. E, felizmente, no fim lá tomou uma
decisão madura e decidiu levar a luta à Levana, em vez de andar sempre a
fugir. Quem dera que o Kai aprendesse com ela!
Ainda no plano das personagens, tenho é de retirar algo que disse na minha opinião do Cinder:
Não! A autora afinal não soube fazer da madrasta algo mais que uma vilã
genérica. Caramba! A mulher apareceu numa cena e não podia ser mais ...
madrasta (nada contra as madrastas, mas vocês sabem o que eu quero
dizer; e por falar nisso, nunca entendi porque estas familiares eram
sempre mostradas como más nestas histórias). E por falar em vilãs, ainda
estou à espera de perceber as verdadeiras motivações da Levana. Ninguém
nasce má! O que e que a pôs assim? E porque é que o Kai não lhe deu um
tiro nos miolos quando ela ameaçou cortar-lhe a língua, invadiu o seu
escritório e lhe paralisou os conselheiros. Kai, ganha espinha dorsal,
por favor!
Ok, já devem ter percebido que esta série mexe comigo, mas isso é
óptimo. Adoro quando estou a ler uma história e me apetece entrar nas
páginas para fazer algo diferente. Isso significa que a leitura me está a
afectar, que me sinto envolvida, para o bem e para o mal.
De volta à história, descobrimos finalmente o que aconteceu com Cinder
quando veio parar à Terra e porque é que ela não se recorda de nada. O
elo de ligação entre a Cinder e a avó da Scarlet está muito bem
conseguido. Bem jogado!
Depois temos a sempre presente ameaça de guerra entre a Terra e a Lua,
que está cada vez mais perto (e aquele vislumbre do exército Lunar, no
final, é premonitório). O ataque que a Levana levou a cargo na Terra
podia ter tido mais impacto, se as personagens não estivessem tão
distantes. Mas nesse caso acabou por ser Kai quem nos deu uma melhor
visão do terror, e a decisão dele, apesar de imbecil, não deixa de ser
compreensível. Não que isso vá resolver grande coisa mas ao menos
atrasou o massacre e, no final de contas, é isso o melhor que ele poda
fazer, dadas as circunstâncias.
Depois
temos a história da Scarlet (a capuchinho vermelho) à procura da avó
que, na realidade, foi grande parte do livro, e muito bem. Como já
disse, adorei a Scarlet e adorei o Wolf, por isso o que há para
desgostar no tempo em que passaram juntos? O relacionamento dos dois foi
muito bem explorado e, apesar da traição (que se viu à distância), não
havia dúvidas do que ia suceder no fim. Neste ponto o livro foi muito
mais bem conseguido que o Cinder, já que o leitor teve tempo para conhecer os dois e perceber as suas motivações e o que os unia.
A escrita da autora continua fascinantes, muito carregada de emoção e
acção. Este livro foi bem mais cheio de adrenalina que o primeiro mas
houve um excelente equilíbrio com os momentos de (suposto) relaxe, onde
conhecemos melhor as personagens e os seus relacionamentos.
Em suma, Scarlet foi uma excelente leitura, uma sequela muito bem
conseguida. Empolgante, envolvente e que me deixou com uma vontade
enorme de ler Cress (o terceiro livro da série). E só não o fiz logo porque o quarto (Winter)
só sai em 2015 e eu não quis ficar tanto tempo à espera. Assim espaço
um pouco mais a leitura a ver se não custa tanto. Mas já sei que não vou
conseguir esperar muito mais por Cress. Será que também vai ser uma boa surpresa? Espero bem que sim!
0 comentários:
Enviar um comentário