06/07/2015

Escritores na Primeira Pessoa - Pedro Jardim



Odete: Fale-nos um pouco sobre si.

Pedro Jardim: Olá a todos! Em primeiro lugar gostava de agradecer à Odete e ao Blogue Destante a oportunidade em me dar a conhecer a todos vocês, a quem ainda não me conhece, e falar-vos um pouco sobre a minha obra. Falando um pouco sobre mim: nasci em Lisboa, tenho 39 anos e sou chefe de Polícia. Licenciei-me em Sociologia, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa e estudei escrita criativa com Margarida Fonseca Santos, João Tordo e o Pedro Chagas Freitas. Apesar de ter nascido em Lisboa, foi no Alentejo, desde muito novo, que descobri o prazer das artes, porque também pinto, e pela literatura. Venci o prémio Mais Literatura 2013 e já editei as obras: As Crónicas do Avô Chico, Chiado Editora (2011); A Senhora da Tapada, Chiado Editora (2012); O Dragão Rouxinol, Alfarroba Edições (2013); Gigante Gigantão, Edições Livro Directo, (2014) e agora O Monstro de Monsanto, com a Esfera dos Livros (2015).


Odete: Como surgiu a escrita na sua vida?  E já agora como surgiu a ideia de escrever um livro? 

Pedro Jardim: A paixão pela escrita nasceu desde muito novo, em Vila Viçosa, berço da poetisa Florbela Espanca. Tudo me movia a escrever: os meus sentimentos, o calor do Alentejo, as cores quentes, a vivência com os meus avós e as aventuras que experienciei na minha infância. Depois fui crescendo e esse amor cresceu comigo. Escrevia sobretudo prosa poética e pensamentos soltos, despegados. Só recentemente, desde 2011, decidi escrever com o fim de editar. Essa ideia, a de escrever um livro, surgiu com o falecimento do meu avô materno. Quis prestar-lhe uma homenagem em forma de livro. Foi a maneira que encontrei para acalmar a dor que sentia. Assim, de certa forma, eu gosto de acreditar que sim, o meu avô ficará vivo, entre as páginas de As Crónicas do Avô Chico. E todos os leitores terão a oportunidade de conhecer um grande homem, um homem simples, que era poeta popular e de um coração enorme.


Odete: Publicou “O Monstro de Monsanto", onde é que se inspirou para escrever o seu livro?

Pedro Jardim: O Monstro de Monsanto é, apesar de já ter obra publicada, o meu primeiro romance. Se é propositado o facto de ser um policial? Sim, claro que sim. Inspirei-me claramente em tudo o que já vive e experienciei com a minha profissão. O facto de ser chefe de Polícia e de ter o curso de investigação criminal ajudou imenso. Tudo aquilo que relato no livro é, apesar de as situações serem ficcionadas, verdade. Tem um grande cunho de verdade. Desde o ter um caso em mãos para se investigar, explicar como se tenta recolher a prova, como se processam alguns trâmites legais, como se relacionam os polícias, a linguagem, tudo foi propositado. Tudo foi pensado para ser assim. Há uma forte verosimilhança, pelo feed back que tenho recebido dos leitores, na primeira parte do livro, quando retracto a cena do assalto ao BES. Posso-vos dizer que tive de entrevistar os meus colegas (um homem e uma mulher) que foram os primeiros a chegar ao local do assalto e que libertaram 4 reféns. E tudo começou daí, tudo nasceu a partir desse relato. Inspiração não me faltou e não me faltará também quando escrever outros policiais, porque o livro O Monstro de Monsanto, melhor, as personagens de O Monstro de Monsanto ainda têm muito para dizer em futuras investigações e em futuros trabalhos meus.       



P: Como foi o percurso até ver o seu primeiro livro publicado?

Pedro Jardim: Eu sempre fui estudante. Desde que me conheço que o sou e vou continuar a sê-lo. A minha vida tem sido uma persistente formação contínua. Comecei a trabalhar com 16 anos para ajudar os meus pais e não foi isso que me impediu de continuar a estudar à noite e terminar o secundário. Vim para Lisboa e, quando ingressei na Polícia, continuei a estudar e tirei vários cursos de especialização, entre eles: o curso de investigação criminal. Cheguei a chefe de Polícia, decidi entrar na universidade e tirar o curso de Sociologia. É claro! Mais tarde, quando me confrontei com o facto de que teria de ter um percurso sério na escrita, lá fui eu tirar uns cursos de escrita criativa. Não tirei um, tirei alguns. Se foram suficientes? Diria que não. Aprende-se imenso, sempre. Os factores intrínsecos: a minha própria vida, a minha predisposição, a minha ânsia de querer fazer bem, de aprender. Mas considero que os factores que mais influenciaram o meu percurso foram, sem dúvida, aqueles que estão ligados a esses cursos: àquilo que se aprende e se nutre ao nível do “conhecimento”. É como desmontar o mundo, fazer o pino, ou revirar as nossas ideias e pensamentos. E isso faz falta, muita falta. Só depois decidi publicar.

Odete: Gosta de ler? Quais os seus autores favoritos portugueses e estrangeiros?

Pedro Jardim: Quando era novo não gostava muito de ler. Escrevia, sim; transportava tudo para o papel, também. Mas ler, não lia muito, tirando livros de banda desenhada. Não lia, de facto, o que os outros escreviam. E depois, do nada, e ainda bem que assim foi, de repente, senti uma necessidade enorme de conhecer, de aprender mais, de ver o que não podia ver, de entrar em outros mundos. Sabem, aquela sensação de ser transportado para outro lugar. E foi então que se plantou em mim a paixão pela literatura. É por isso que, apesar do pouco tempo que tenho disponível, não passo sem ler hoje em dia. Posso indicar alguns autores de que gosto muito (portugueses): Fernando Pessoa (identifico-me muito com ele), um clássico; João Tordo, Afonso Cruz e José Luís Peixoto, contemporâneos; Margarida Fonseca Santos e Luísa Fortes da Cunha, literatura para infância. Outros autores (estrangeiros): Nicholas Sparks, Joel Dicker, Paula Hawkins (uma promessa no policial), Stephenie Meyer, Dan Brown, Ken Follett, Paulo Coelho, entre outros. 


Odete: Mencione um livro que o marcasse pela positiva.

Pedro Jardim: Tenho muitos, mas vou frisar este: As palavras que nunca te direi, de Nicholas Sparks. Foi o primeiro livro que li “de fio a pavio”.


Odete: Existe algum autor que influencie a sua escrita?

Pedro Jardim: Há sempre autores que nos influenciam, há sempre um pouco que fica, sobretudo daqueles que nos dão os seus ensinamentos. Isto, apesar de cada um de nós ficar, diria, com uma impressão digital quando escreve. E quando isso acontece é muito bom; é a forma de sermos identificados quando nos lêem. Posso dizer que o João Tordo me influenciou muito na escrita de romance. Tanto que me levou a tirar um curso com ele. Ele ajudou-me imenso a dar os primeiros passos quando escrevi o meu romance de estreia, este que vos estou agora a dar a conhecer, O Monstro de Monsanto. Incentivou-me muito e o seu feed back foi claramente positivo. Já na escrita para crianças, porque também escrevo para crianças, como já referi, a Margarida Fonseca Santos foi a autora que também me ajudou e que me influenciou quando comecei a escrever este género. Tirei alguns cursos com ela e não me arrependo nada. Ela é a minha capitã da fantasia, digo-o em todo o lado. Se hoje tenho o sucesso que tenho com os meus livros infantis, junto da comunidade escolar e da criançada, em grande parte o devo a ela.  


Odete: Acha que é difícil ser escritor em Portugal? Ou sente que os leitores estão receptivos aos autores portugueses?

Pedro Jardim:Posso dizer que é difícil ser escritor em Portugal. Isto porque se tem de batalhar muito, tem de se trabalhar ainda mais. As editoras estão a fechar as portas, mesmo aos autores mais conhecidos. Muitos passam dificuldades, as pessoas nem sonham. Existem portugueses de grande valor, escritores conhecidos e valorizados não só em Portugal, mas também no estrangeiro. Porém, o meu ponto de vista prende-se com o facto de que temos valores que não são aproveitados, que apesar de mostrarem valor, não são ouvidos, que não chegam onde deveriam chegar. Muitos têm de pagar do seu bolso para editar. É difícil dar o passo e ser reconhecido no mundo editorial e isso reflecte-se um pouco no leitor, porque depende da oferta e a oferta que existe, que se dá mais enfâse é estrangeira e não portuguesa. É mais fácil fazer-se uma tradução de um livro com sucesso lá fora, do que apostar em novos autores. Quem escreve/tenta editar sabe do que falo, sobretudo os escritores emergentes. Eu sei, depende do gosto de cada um, depende do mercado, da moda, da “onda”; mas quando digo que se deve dar oportunidade aos autores nacionais, quero dizer que existem pessoas que devem ser lidas e que para muitos leitores não passam de perfeitos desconhecidos, porque simplesmente não chegam às livrarias e quando chegam, só estão em uma ou duas. Julgo que as oportunidades geram confiança e é essa confiança que deve ser depositada nos autores nacionais.


Odete: Tem mais algum projecto literário em mãos neste momento? Se sim, pode divulgar-nos um pouco sobre ele?

Pedro Jardim: Sim, tenho uma obra que vai ser lançada para meados de Setembro. Será mais uma obra de literatura para infância: O Sapo Maltês. Vai ser mais um livro que irei levar, conjuntamente com o Gigante Gigantão, aos agrupamentos de escolas, externatos e colégios deste nosso país. Espero, pelo menos, que tenha a mesma aceitação do Gigante. As crianças adoram esse livro e continua a ser um grande, grande sucesso. Mas não tenho só esse em mente; tenho pelo menos mais dois de literatura para infância e, como já aflorei na resposta à pergunta anterior, já estou a escrever o meu segundo romance policial. Isabel Lage viverá mais uma grande aventura. Uma enorme investigação está a chegar. Preparem-se! Vai ter muita acção.


Odete: Para terminar, deixe uma mensagem aos nossos leitores.

Pedro Jardim: Vou deixar uma mensagem para aqueles que um dia sonham vir a ser escritor, que desejam que o seu trabalho seja editado. Não é fácil ser escrevente ou ambicionar vir a ser escritor. É muito difícil e tem de se lutar muito para se ter alguma visibilidade e ter uma obra que não seja apenas mais uma, que de certa forma marque algum tipo de diferença. Hoje em dia há muitas ferramentas, muitos cursos, que há uns anos não existiam. Eu tenho apostado na formação em escrita criativa; é uma mais-valia quando queremos fazer uma coisa mais séria. Todos nós podemos ter imaginação, inspiração, contudo temos de possuir as tais ferramentas de que falava – para não deixar entornar a água da fonte da inspiração. Porque o talento pode existir, mas se não for moldado, lapidado, nunca deixará de ser apenas um diamante em bruto. É esse o meu conselho, apostem na vossa formação e tentem editar livros com editoras que se preocupem de facto com os autores e que os ajudem a dar os primeiros passos no mundo literário. Se o fizerem, façam-no para marcar diferença, senão correm o risco de serem mais um. E agora sim, a minha mensagem especial para todos vocês: nunca desistam dos vossos sonhos, são eles que nos mantém vivos. “Os sonhos não se ganham, conquistam-se.” Arrisquem! Deixo-vos um forte abraço. Muito obrigado.

Odete - Muito obrigada pela sua disponibilidade, a equipa do Destante deseja-lhe muito sucesso!


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