Neste livro, Brown imagina um atentado contra o Vaticano pretensamente perpetrado por uma organização antiga e que se julgava extinta, os Illuminati, que reunia cientistas perseguidos pela Igreja desde o século XVI. Os seus primeiros grandes mestres teriam sido Galileu e o grande escultor do Vaticano, Bernini. O método utilizado para ameaçar o Vaticano de destruição total (após terem assassinado o próprio Papa) seria a antimatéria, uma substância com capacidade destrutiva centenas de vezes superior à energia atómica. Brown não consegue escapar ao cliché (o certo é que sem ele dificilmente obteria sucesso), escolhendo um herói super inteligente que resolverá todo o enigma. Para evitar a destruição total da Cidade de Deus, o director do CERN (centro europeu de investigação cientifica onde se desenvolvera a investigação) apela a um especialista em simbologia religiosa para resolver o problema (Robert Langdon). Ele será o herói do livro, juntamente com (o cliché total) uma bela mulher (Vittoria Vetra), filha e parceira de investigações do cientista assassinado pelos Illuminati e que fabricara as primeiras amostras de Antimatéria. É a maior dessas amostras que os assassinos colocam no Vaticano e que os nossos heróis vão tentar recuperar.
As relações entre a ciência e a religião são tema de discussão e de atritos há milhares de anos. A luta continua e continuará. Durante séculos, a Igreja Católica recorreu a meios pouco piedosos para tentar afirmar a sua supremacia na busca da verdade. Muitos foram os cientistas sacrificados nos altares, masmorras e fogueiras. Galileu é apenas o mais visível dos tenebrosos processos da Inquisição. É este o tema que, com coragem e conhecimento de causa, Dan Brown aborda.
Em primeiro lugar, devo dizer que, a julgar por este livro (o único que li de Brown) continua a ser muito despropositada e exagerada a polémica movida por alguns meios católicos. Alguns dos argumentos que defendem a Igreja Católica nesta querela com a ciência, são muito bem defendidos e fundamentados por Brown. No entanto, os maus católicos existem e seria disparatado alguém ter a veleidade de o negar. Assim como os maus cientistas. Não é apenas à Igreja Católica que Brown aponta o dedo acusador: é às Igrejas, à ciência, à Comunicação Social e à maldade humana em geral. Ao Satanás que existe em todo o ser humano.
Para lá das querelas religiosas, há três verdades a meu ver inegáveis na escrita de Brown: a sua infinita imaginação, a capacidade de manter um nível inimitável de suspense e conhecimentos profundos de História, de Física e do funcionamento das mais secretas estruturas da Igreja.
A criatividade de Brown é insuperável: quando o leitor julga ter descoberto o “infiltrado” ou o “traidor”, Brown encarrega-se de o surpreender mostrando-lhe como a pistas que seguira eram falsas. A surpresa do leitor só é superada pela surpresa seguinte. E é assim até ao final do livro: as revelações sucedem-se de forma cada vez mais incrível mas raramente descambando na inverosimilhança que por vezes perturbam este tipo de narrativas. Essas anomalias raramente acontecem em Brown: todos os acontecimentos acabam por encaixar numa lógica perfeita.
Trata-se de uma excelente leitura para férias, desde que a leitura seja acompanhada por uma boa dose de espírito crítico e um certo desprendimento em relação a preconceitos e pré-conceitos. Não fossem os inevitáveis clichés e estaríamos perante uma obra-prima da literatura de suspense. Mesmo assim, Brown fica bem perto desse estatuto.
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