03/12/2010

#19 A Reclamação

Entra na sala com um objectivo bem definido, previamente planeado, mentalmente reviu passo a passo, vezes sem conta, as tácticas de aproximação os ataques que iria proceder aos contra-ataques, as defesas aplicadas aos ataques do opositor, reviu tudo, tudo, como conseguiria sobreviver nesta trincheira, plantada neste campo infernal, mas não estava só iria acompanhado, um soldado nunca está só. Após uma breve introdução (ele "...bom dia...", ela "...bom dia em que posso ajudar...") deu-se a inevitável explosão de sentimentos, firmemente guardados em si, reclama, reclama por algo, algo que adquiriu. Pelo meio das suas barbaridades e trovões pouco se percebe o que reclama e mais importante, porque o reclama. Do outro lado, numa outra trincheira está a impotente vendedora, soldado inimigo outrora neutro ou camarada, anua com a cabeça num consentimento servil, humilha-se perante outros soldados que esperam impacientemente a sua vez, mas que neste momento admiram este espectáculo como meros espectadores, soldados agora neutros, camaradas. Tábuas de madeira, tábuas de salvação separam estes sentimentos entre soldados, fronteira que protege ambos de actos mais hediondos. Existe demasiada violência em actos tão pequenos e insignificantes.

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