02/05/2011

Santuário - William Faulkner

Num crescente tom de absurdo, fazendo lembrar o surrealismo literário que, nessa altura despontava em França com Breton, este livro, publicado em 1930, é o primeiro grande marco na carreira literária deste monstro sagrado das letras chamado William Faulkner. Aliás, é nítido neste livro algum esforço do autor para obter sucesso. Ao contrário do que se passa por exemplo na sua obra-prima (O Som e a Fúria) neste livro há uma certa linearidade no enredo. Mesmo assim, quem lesse este livro naquela altura certamente sentiria que estava ali um génio em potência.
Santuário aborda a decadência dos estados sulistas, a solidão e a procura da identidade por parte de personagens sui-generis, como sombras que vagueiam pelo mundo sem um sentido definido, numa procura de algo que nem eles próprios identificam. Nunca sabem para onde se dirigem, o que procuram, qual o sentido dos seus rumos… Temple é o melhor exemplo deste desnorte: estudante de dezoito anos ou pouco mais, filha de um juiz abastado, abandona a faculdade e perde-se num mundo de homens desnorteados e degradados. Degradados como a casa em ruínas onde decorre a maior parte do enredo, onde vai parar Temple: a deusa no santuário das almas perdidas.
Por todo o lado, a violência entranhada na vida das pessoas;
Uma casa em ruínas – 3 homens em ruínas… 3 mortes se seguirão até ao fim do enredo…
um negro na prisão – a monotonia da normalidade
um negro condenado à morte – banal…
uma criança numa caixa de cartão – silenciosa – inútil…
uma cidade sem luz, sem alegria. Cinzenta…
mulheres, essas, sempre arruinadas, sempre perdidas no surreal da vida…
E Popeye, o fantasma, imperador da desgraça, monstruoso e protector; Popeye personifica o poder que há na violência, na força bruta. Pelo contrário, Horace, vítima do amor, é o justiceiro, infeliz, impotente…
Em suma, trata-se de uma obra complexa, profunda, sem o fôlego de outras que se lhe seguiriam mas brilhante pela forma como são descritos a solidão, a tristeza e o desespero humano.

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