Opinião:
Neste livro, Cristina Torrão dá-nos a conhecer um rei, D. Afonso Henriques, na sua dimensão humana, contrariando a tendência que todos nós temos de o encarar acima de tudo como um herói. Aliás, o próprio subtítulo da obra é bem esclarecedor: O Homem.
Desde a sua infância até à morte, Cristina Torrão leva-nos a percorrer todas as peripécias da sua vida, as suas conquistas militares mas também os seus sentimentos, as suas paixões e até os seus defeitos. Por exemplo, ficamos a saber que o nosso primeiro rei era uma pessoa extremamente teimosa. Este defeito, aliás, deu bastante que fazer aos seus conselheiros, como os irmãos Moniz (Egas e Ermígio), bem como ao seu grande amigo e companheiro de todas as lutas, Lourenço.
Um aspecto que me parece muito importante nesta obra é o facto de a autora não cair na armadilha da velha estória dos bons e dos maus. A nossa tradição e a nossa educação veneraram os guerreiros cristãos como heróis que lutaram contra os terríveis muçulmanos. Na verdade, nem os cristãos eram santos nem os muçulmanos eram terríveis; todos eram homens de carne e osso, com as suas qualidades e fraquezas. É muito interessante verificar neste livro como o povo e os próprios exércitos conviviam pacificamente (mouros e cristãos) quando não havia batalhas a travar. De resto, assim como aqui não há bons nem maus, também não há heróis nem bandidos; os nossos guerreiros cristãos muitas vezes ponham em prática estratégias que de cristãs pouco tinham, arrasando aldeias e cidades, destruindo colheitas, violando mulheres, saqueando, etc.
Também é muito interessante a caracterização psicológica das personagens femininas: a pacatez e a fragilidade de D. Mafalda, a força de D. Teresa de quem Afonso Henriques herdou a teimosia e a coragem, a dedicação e o carinho de Elvira, a última grande paixão do grande Rei.
Podemos dizer que o que de mais encantador encontramos neste romance é a forma como acabamos por nos identificar com as personagens, mostrando-nos como a História é feita por pessoas de carne e osso como nós.
É um livro que, embora extenso, nos deixa, no final, com pena de já ter terminado. Resta-nos a consolação de saber que, mais dia, menos dia, teremos por cá um novo romance histórico de Cristina Torrão.
Sinopse:
Neste romance inovador sobre o rei fundador de Portugal, Afonso Henriques é descrito na sua faceta humana, de uma maneira nunca antes focada. A autora neste romance biográfico, consegue mostrar a essência do líder que, em conjunto com uma elite de guerreiros, estrategas e místicos, criou um espaço bem peculiar no Tradutor: contexto europeu.
(comentário também publicado no viajar pela leitura)
1 comentários:
Acho que já era merecido, um bom romance histórico sobre o rei que conseguiu a nossa independência como país. É curioso que têm saído alguns romances históricos sobre raínhas de Portugal (tenho "Filipa de Lencastre", de Isabel Stilwell), a Cristina Torrão aposta mais nos reis. Para quem gosta de romances históricos como eu, só temos a ganhar.
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