27/08/2011

O CANTO do ANJO, A História de Um Castrato


"O Canto do Anjo", de Richard Harvell é um livro de emoções e que nos desperta os sentidos, particularmente o da audição. A descrição por palavras que o autor faz da imensidão de sons que rodeiam Moses, a personagem principal, é notável.
A história começa quando Nicolai descobre um maço de papeis entre as coisas de seu pai, que acaba de falecer. Estes papeis não são mais do que um diário da vida de Moses Forben, cantor conhecido com Lo Svizzero (O Suíço), mas, para Nicolai, é como se fossem um tesouro pois vai permitir-lhe enfim desvendar os segredos daquele homem, seu pai, mas que nunca poderia tê-lo sido pois era um castrato, um cantor com uma voz de anjo, um soprano.
O diário de Moses descreve-nos a sua vida cheia de altos e baixos que começa na Suíça onde, juntamente com a mãe, vivem miseravelmente numa aldeia dos Alpes. Muitas das noites são dormidas no campanário da Igreja. É aí que Moses desperta para os sons: esses sinos, que chegam a rebentar os tímpanos a qualquer pessoa num raio de cinquenta metros, nele, não têm esse efeito, ele consegue apreciar não só os seus sons bem como as vibrações que lhe percorrem os membros. A sua mãe, que toca os sinos, não consegue ouvir qualquer som e os habitantes da aldeia, vendo que o miúdo não fala, move-se sem ser ouvido, desprezam-nos a ambos. O seu próprio pai tenta acabar com a vida do filho pelo que o atira ao rio para alcançar o seu objectivo. Aqui, a sua vida vai ter uma reviravolta importante pois é salvo por dois monges, que passarão a ser os seus dois únicos amigos em muitos anos. Estes levam-no para o mosteiro onde Moses é aceite, a muito custo, e se vai iniciar no canto. Pese embora a sua voz se destaque das dos seus colegas, estes desprezam-no por ele não pertencer à sua classe. No entanto, o mestre do coro fica de tal maneira impressionado que o ajuda a desenvolver ao máximo o seu talento vocal, acompanha-no diariamente, chega ao ponto de acordá-lo a meio da noite para aperfeiçoar certos pormenores. A sua loucura chega a tal ponto que, para imortalizar a voz de Moses, num processo de sofrimento atrós, faz dele um castrato. Ficamos assim a saber porque é que Moses não pode ser o pai de Nicolai e o autor nos revela esse mundo dos Castrati, sopranos de voz angelical, os últimos dos quais cantaram na Capela Sistina.
É no mosteiro que Moses irá conhecer o amor da sua vida - Amalia. Conhece-a quando é requisitado para cantar no quarto da mãe de Amalia, que se encontra gravemente doente. Esse amor impossível é um dos capítulos mais bonitos da vida de Moses. Separado à força de Amalia (que entretanto foi obrigada a casar com outro homem), expulso do convento, este irá participar mais tarde na ópera de Gluck, Orfeo ed Eurídice, em 1762. Este é o momento alto do livro e da própria vida de Moses pois, com o seu canto, reencontra Amália, que há muito pensava que este tinha morrido. Esta reconhece-o pela voz e decidem fugir juntos, ajudados pelos amigos.
Acabo aqui o meu relato da história pois não quero desvendar o seu final. De referir apenas que Moses se tornará um dos melhores cantores da sua época, actuando nos mais importantes palcos da Europa.
Este livro está realmente muito bem escrito, com uma história cativante onde há amizade, amor, camaradagem, mas também ódio, sofrimento e traição, estes sentimentos todos, aliados à sua descrição sublime dos sons faz com que a sua leitura seja realmente um prazer.

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