Eis um autor para figurar entre os nomes grandes da literatura nacional; um escritor que vagueia por todas as páginas da vida: todas as que nos fazem rir, sonhar ou chorar.
Afonso Cruz ziguezagueia entre ideias como Vivaldi entre os acordes. As próprias personagens tornam-se secundárias perante a vivacidade com que as ideias fluem, como os sons de Vivaldi.
Neste livro não há uma estória; há várias melodias literárias, “passeios” de Outono, por vezes angustiantes e melancólicos, outras vezes festivos e coloridos.
A Boneca de Kokoschka é arte em estado puro; é a arte de passear pelos sons das palavras como Vivaldi passeia por entre as notas musicais.
Vogel, personagem central que não principal, reza recitando as letras do alfabeto hebraico porque Deus limita-se a jogar Scrabble: eis o surreal de um quadro de Klimt; o surreal da vida, o êxtase que fez de Vivaldi o rei dos sonhos melódicos. Um quadro de Klimt ou o colorido das asas de uma borboleta, feita de tons que percorrem as quatro estações de Vivaldi.
A Boneca de Kokoschka é, pois, um livro para ouvir como quem vê um quadro de Klimt ou para ver como quem lê as Quatro Estações de Vivaldi.
2 comentários:
Ando atrás deste livro há tempos porque tenho ouvido dizer bem dele em todo o lado, e ainda não consegui comprá-lo.
Tenho-o encomendado e nunca mais chega.
Fiquei ainda com mais vontade de o ler.
Vivaldi é bonito.
Um abraço
É um escritor muito original, Isabel.
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