No prefário, Somerset Maugham, conta-nos que se inspirou num dos versos de Dante, nomeadamenté no Purgatório para escrever “O Véu Pintado”, “…esse véu pintado a que os que vivem chamam Vida.”
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"Deh, quando tu sarai tornato al mondo,
e riposato de la lunga via",
seguitò 'l terzo spirito al secondo,
"Ricorditi di me, che son la Pia;
Siena mi fé, disfecemi Maremma:
salsi colui che 'nnanellata pria
disposando m'avea con la sua gemma"
“Peço-te que, quando ao mundo tornares, e de longa jornada repousares, seguido que for o terceiro espírito ao segundo, te recordes de mim, que sou Pia. Siena me fez, Maremma me desfez: sabe-o aquele que após noivar me desposou com o seu anel.”
e riposato de la lunga via",
seguitò 'l terzo spirito al secondo,
"Ricorditi di me, che son la Pia;
Siena mi fé, disfecemi Maremma:
salsi colui che 'nnanellata pria
disposando m'avea con la sua gemma"
“Peço-te que, quando ao mundo tornares, e de longa jornada repousares, seguido que for o terceiro espírito ao segundo, te recordes de mim, que sou Pia. Siena me fez, Maremma me desfez: sabe-o aquele que após noivar me desposou com o seu anel.”
Nos versos de Dante, Pia é uma fidalga de Siena, que tendo cometido o adultério é levada pelo marido para o seu Castelo em Maremma, onde os vapores venenosos fariam a vingança do esposo, a morte seria lenta, mas chegaria…
Assim, tendo por base o adultério, Somerset desenvolve uma narrativa onde expõe toda a alma humana, é impressionante como o autor consegue construir/”destruir” os personagens conforme a história vai avançando.
Nesta obra temos como personagens centrais, Kitty, Walter (marido de Kitty) e Charles Townsend (amante de Kitty). Das três personagens, aquela em que Somerset se concentra no decorrer da narrativa é Kitty. No início, é caracterizada como uma mulher fútil com atitudes infantis que após ser descoberto o seu adultério é abandonada pelo amante e acaba por passar sérias dificuldades (impostas pelo marido), no entanto estas dificuldades fazem Kitty crescer como mulher, como pessoa. O olhar para o sofrimento dos outros ameniza o seu e faz-lhe ver o mundo com outros olhos. Uns olhos adultos, capazes de opinar e agir de forma segura.
Walter, o marido que ama sem ser amado, não muito atraente, mas muito inteligente, um personagem sensato, seguro de si e do que sente, tem um fim trágico, mas um fim importante para o crescimento de Kitty.
Charles Townsend, o amante perfeito, bonito, que sabe sempre o que dizer, charmoso e, aos olhos de Kitty – inteligente. Esse é o personagem que praticamente não evolui ao longo da história, com o intuito (a meu ver) de ser novamente “avaliado” por Kitty. Pois quando lhe passa os sentimentos por Charles, consegue ver nele apenas o ordinário que é.
Nesta obra, o autor pretendeu dissecar as emoções e consegue-o de forma magistral!
Recomendadíssimo!
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Sinopse:
Kitty sente-se prisioneira de um casamento infeliz e de um estilo de vida que está longe de ser aquele que sonhou para si. Sem que tivesse obtido a notoriedade social que desejava e afastada do seu país e da família devido à profissão do marido - bacteriologista destacado para Hong Kong -, a jovem acaba por encontrar algum consolo numa relação extraconjugal. Mas a traição acaba por ser descoberta pelo marido, que leva a cabo uma estranha e terrível vingança…
Através do despertar espiritual da adorável e fútil Kitty, Somerset Maugham pinta um retrato vívido da presença britânica na China e apresenta-nos uma galeria de personagens inesquecíveis.
O Véu Pintado foi por três vezes adaptado para o cinema: em 1934, num filme protagonizado por Greta Garbo; em 1957, com Bill Travers e Eleanor Parker; e em 2006, num filme realizado por John Curran, com Edward Norton e Naomi Watts nos principais papéis.
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