25/05/2012

O último dia de um condenado

Opinião:

Em “O último dia de um condenado”, Victor Hugo revela-nos todo o seu humanismo, defensor de causas, dos mais fracos e dos oprimidos, através da sua escrita pungente, neste autêntico manifesto contra a pena de morte.

Podemos dizer que o título desta obra é cru e objetivo, realmente não há aqui margem para qualquer simbolismo e o autor descreve-nos o martírio que são os últimos momentos de um condenado à morte numa prisão de Paris no princípio do século XIX. São momentos de grande sofrimento, principalmente ao nível psicológico, em que a espera pela execução da pena se torna um processo inimaginável, algo difícil de descrever. Vendo que o seu fim está próximo, o condenado decide escrever um diário do seu dia-a-dia a partir do momento em que foi condenado e com o objetivo (utópico) de fazer com os juízes não condenem outros homens desta forma. Nesta época, a condenação à morte significa uma palavra: guilhotina. Victor Hugo faz uma crítica ao sistema judicial vigente, os diversos agentes da justiça passam estes processos de uns para os outros tornando-os morosos o que aumentava o sofrimento para quem está a ser julgado. Podemos dizer que existe aqui um paradoxo: por um lado, a criação da guilhotina parece ter como objetivo a eliminação de qualquer dor física na hora da execução. Mas, e até lá? Quem consegue aguentar tal martírio? Em que pensa o condenado? O que vai ser da família da qual se vai separar para sempre? Será que um recurso poderá ter sucesso? Poderá ser abençoado com um perdão por parte do rei? E que suores são estes? E estas tonturas e dores de cabeça? Que sonhos estranhos são estes que impedem o descanso…

Não nos é dado a conhecer o crime que este condenado cometeu mas o autor dá-nos a entender que talvez tenha sido homicídio. Mesmo nestes casos, qualquer que seja o crime, a pena de morte não deveria existir. 

Daquilo que o condenado observa no seu dia-a-dia não podia deixar de mencionar um conjunto de homens com um triste futuro à sua frente: os chamados forçados. É-lhe permitido ver o “espetáculo”, o ritual em que estes são acorrentados e preparados para partirem para o desterro. Estes homens foram condenados às galés, alguns deles para toda a vida. Para os que regressam com a pena cumprida, o futuro não é brilhante e são ostracizados pela sociedade. Por um lado, ninguém lhes dá trabalho, por outro, são obrigados a andar com um passaporte onde têm um registo como forçados e devem-se apresentar periodicamente perante as autoridades. Assim, incapazes de conseguir um meio de subsistência, o único remédio é virarem-se de novo para aquilo que melhor sabem fazer: o crime.
A poucos dias da execução da pena do nosso condenado, é-lhe trazida a sua filha de três anos. Uma alegria imensa apodera-se dele, há dezoito meses que não vê a filha. …”-Sabes quem sou?” …”-Não, senhor”… Que dura realidade, a própria filha já não o conhece e trata-o por senhor. Manda levar a filha, o condenado apercebe-se que já nada lhe resta neste mundo, está pronto para aquilo que lhe querem fazer. Tem que se concentrar para o que lhe falta, talvez ainda tenha uma hora. Lá fora, a multidão está ao rubro, aguarda ansiosamente que o espetáculo tenha início.

Portugal foi um dos primeiros países a abolir a pena de morte. Isso deve deixar-nos orgulhosos.

1 comentários:

Ângelo Marques disse...

interessante a registar