17/05/2012

Quanto Mais Depressa Ando, Mais Pequena Sou de Kjersti Annesdatter Skomsvold

Quanto Mais Depressa Ando, Mais Pequena Sou
de Kjersti Annesdatter Skomsvold
Edição/reimpressão: 2011
Páginas: 142
Editor: Eucleia Editora
ISBN: 9789898443137



"SEMPRE GOSTEI de acabar coisas. Tapa-orelhas, inverno, primavera, verão, outono. A vida de trabalho do Epsilon. Conforma-te. E esta impaciência teve consequências quando, uma vez, o Epsilon me deu uma orquídea no meu aniversário."

Mathea Martinsen e Epsilon são um casal nórdico ou pelo menos vivem na Noruega, Epsilon e fascinado pela estatística aliás é essa a sua ocupação profissional, Mathea sua esposa e narradora desta história é uma solitária sempre o foi mesmo na sua juventude, então agora com os anos idos torna-se uma solitária obcecada pela morte, com alguma disfunção social Mathea vai vivendo a sua solidão da melhor forma que pensa saber.

Um livro onde a leitura não é das mais directas, quero com isto dizer que não se consegue fluir na prosa como uma folha seca flui na corrente de um ribeiro, a tradução (neste caso a falta dela) não ajuda em certos momentos, comentários em alemão sem tradução dificultam a leitura e a avaliação do livro. Um humor cinza recheia este livro fala-nos de uma morbidez muito própria dos escritores nórdicos, difícil de entender a falta de colorido a ausência de emoções fortes esta escrita crua, linear é muito peculiar.

Mesmo com o avançar da idade das personagens nota-se nos pensamentos, já que os movimentos decidiram acompanhar a idade, uma juventude repleta de energia, vivacidade e "aventurismo". O autor, de nome que nem me atrevo a pronunciar, transmite com uma simplicidade momentos da vida, alguns que ouvimos falar mas que nos parecem mitos, apresentamos o fim da vida, de uma das suas personagens, a coincidir com o fim da sua carreira profissional, simbólico mas não o esperava de uma mente que vive tão a norte do hemisfério. A empatia de Mathea com o seu apresentador de TV preferido leva-me a pensar, por momentos, que este efeito é transversal a sociedades a culturas, sendo um processo básico do ser humano.

Transcrevo aqui algumas passagens do livro:

"Neste momento, porém, estar morto é mais especial do que estar vivo, e pensei por vezes que imensas pessoas recebem mais atenção depois da morte do que alguma vez tiveram quando estavam vivas. Embora no meu caso eu vá receber praticamente a mesma." (pág. 73)

"Deve ser aborrecido ser uma árvore, ficar ali parada a olhar. Eu sei passo muito tempo parada a olhar." (pág.106)

"Diz que apesar de a bananeira parecer uma árvore, é, na verdade, apenas uma planta gigantesca que tem flores sem órgãos sexuais e frutos sem sementes. Assim, a banana não sofre fertilização e não desempenha qualquer papel na formação da planta, e quando a bananeira perde os frutos morre. Foi a falta de sentido deste ciclo que fez Buda amar a bananeira, que ele acreditava simbolizar o desespero de todos os feitos terrenos.
Identifico-me com bananas, pois não só sou curvada, como também tenho uma flor sem órgão sexual e fruto sem semente e, por conseguinte, de acordo com Buda, não tenho sentido" (pág. lá para o final esqueci-me de apontar o número correcto)

Um livro que gostei, mas coloco algumas reservas na sua leitura.




5 comentários:

Cristina Torrão disse...

Interesso-me muito por biografias e vou lendo, ou vejo documentários na TV, sobre personalidades célebres (sobre as outras, não há nada, embora eu pense que todos nós temos uma história para contar). Há um aspeto que me impressiona: o fim é sempre amargo, solitário, triste. Há sempre aquela sensação de que não se fez o que se queria, ou que os outros nunca nos fizeram justiça. Isso é válido para pessoas tão importantes como Einstein, por exemplo.
Recentemente, houve um documentário sobre Frederico II o Grande, rei da Prússia, por ocasião dos 300 anos do seu nascimento. Um homem que foi tão poderoso, sentiu-se tão fraco, triste e sozinho, no final.
É impressionante e assustador. Normalmente, não pensamos nisso, mas costuma ser assim.
Ao ler estas linhas, que tão bem transmitem a solidão da velhice, não pude deixar de me lembrar disto.

Paula disse...

Já anotei o título do livro :)
Gostei da tua opinião.

Ângelo Marques disse...

Cristina,
Realmente o livro é muito bom no aspecto de transmitir essa sensação de solidão e velhice muito embora Mathea seja uma personagem muito característica.
Revendo a tua bibliografia imagino o quanto gostes de biografias ;).

Paula,
é bom livro um exemplo clássico da literatura nórdica com excepção para o policial ;)

Daniel disse...

Não concordo com a parte da tradução. Se o original é norueguês, as pouquíssimas palavras ditas em alemão pela personagem não alteram em nada a compreensão do texto. Para mais, a tradução está impecável e a revisão irrepreensível. Tudo o mais depende do estilo da própria autora.
Já agora, é uma autora, e não autor. :)

Ângelo Marques disse...

Olá Daniel,
Devo concordar com a parte da tradução (desconheço o original, mesmo assim ser-me-ia impossível avaliar a tradução). O que critico é mesmo a falta de tradução, e sim são os comentários em Alemão, (no original até pode ser omitido) mas temos que atender o "público" a quem se destina, eu penso não custa nada colocar uma nota de rodapé com a dita tradução agradando a Gregos e sendo imperceptível a Troianos, somente isso (relendo o meu cometário devo dizer que não está bem explicito).
Quanto à autora obrigada pelo esclarecimento ;) pela escrita deduzi um autor.. agora fico ainda mais surpreendido com tal frieza feminina, diga-mos que não é comum.
um abraço e boas leituras