“O
Deus das Moscas” é uma obra perturbante!
Um
avião despenha-se numa ilha deserta com crianças a bordo. O piloto morre, mas as
crianças ficam ilesas. No entanto, encontram-se numa ilha deserta e há que
sobreviver.
Destacam-se
três crianças do grupo, são elas: Rafael, o Bucha (que nunca chegamos a saber o
seu nome) e Jack. Rafael, destaca-se pela coerência e organização; o Bucha pela
inteligência e Jack pela arrogância.
Conscientes
de que sem adultos terão de ter regras de convivência e de higiene, Rafael,
depois de eleito líder, tenta organizar o grupo de forma a manter a ordem, a
sobrevivência e sobretudo a esperança. O Búzio que carrega e que todos respeitam
é sinal de poder, a fogueira que tenta manter sempre acesa é o sinal da
esperança, porque para sobreviver é essencial ter esperança. E assim, depois de
organizados em “sociedade” eis que Jack (o mais arrogante) decide infringir as
regras e criar um segundo grupo em que ele próprio é o líder. Um grupo
desestabilizador, em que o objectivo primeiro é caçar, matar,
matar!
Com
estes dois grupos, William Golding mostra-nos a natureza humana na convivência,
o que somos capazes de fazer para sobreviver. Quer seja salvando ou mesmo
matando. Como um indivíduo é capaz de mudar de comportamento em função dos
outros! O poder do grupo é bastante evidenciado aqui.
Costumamos
dizer que as crianças não têm maldade e realmente não a têm quando nascem.
Existe a chamada “idade da inocência”, no entanto esta é fortemente corrompida
quando o pequeno ser interage com a sociedade.
Há
uma frase que me marcou no livro e que é dita quando um oficial chega à ilha
para salvar os rapazes. Ao ver o caos em que estão, é dito o seguinte: “(…) eu
pensava, que um grupo de rapazes britânicos – sóis britânicos não é verdade? –
seria capaz de fazer bem melhor do que isso.”
Esta
é uma frase proferida por alguém que nunca passou por tamanha necessidade ou
simplesmente nunca pensou no que a natureza humana é capaz de fazer para
sobreviver. Ter de lutar para comer ou para manter uma simples fogueira acesa
pode ser algo muito violento em condições extremas.
Uma
frase vã, fria, desprovida de qualquer compaixão ou compreensão em contraste com
os sentimentos de Rafael que naquele exacto momento estavam ao rubro – era a
próxima caça dos seus amigos.
Uma
leitura excelente!
1 comentários:
Paula, acho que o livro é mesmo sobre isso: a corrupção da inocência e de como a necessidade de sobrevivência pode trazer ao de cima o "animal" do ser-humano.
Gostei muito deste livro, mas a verdade é que choca.
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