11/07/2012

O Teu Rosto Será o Último de João Ricardo Pedro


O Teu Rosto Será o Último
de João Ricardo Pedro
Prémio LeYa 2011
Edição/reimpressão:2012
Páginas:208
Editor:Leya
ISBN:9789896602093

"Uma coisa parecia certa: no dia vinte e cinto de Abril de mil novecentos e setenta e quatro, faltaria ainda um bom bocado para as sete da manhã, Celestino apertou a cartucheira à cintura, enfiou a Browning a tiracolo, verificou o tabaco e as mortalhas, esqueceu-se do relógio pendurado num prego que também segurava um calendário e saio porta fora."


Este livro monta seus alicerces na história da família Mendes, esta história é contada através de três homens e das suas, basicamente, amarguras da vida, três gerações que pretendem ser uma representação da nossa recente sociedade, se a isso é permitido a redução a este tipo de estirpe.
O livro inicia no dia vinte e quatro de Abril de mil novecentos e setenta e quatro e com a trágica morte de Celestino lá na pequena aldeia no sopé da serra da Gardunha e com nome de mamífero, terra que Augusto Mendes irá viver após ter adquirido uma casinha a seu colega Policarpo, Policarpo é um aventureiro, amargurado para com a sua pátria quer partir para conhecer o mundo, Policarpo será uma figura fulcral nesta teia criada por João Ricardo Pedro, aranhiço que irá manter e conectar todos estes finos fios desta enorme novela criada pelo autor.
Duarte neto de Augusto é um pianista sublime, interpreta com mestria Beethoven e Bach vive dividido entre a sua genialidade e o "suicídio" da mesma. Acompanhamos o crescimento de Duarte, e revemos nesse crescimento partes de uma infância de uma geração que viveu a pós-revolução sem as preocupações actuais.
Um mar de personagens dão à costa nestas margens literárias, que ajudam a complementar os "contos" que João Ricardo Pedro cria, mas que parecem ter somente o efeito de adorno, pois vão com as ondas e por alto mar ficam.

João Ricardo Pedro, e a sua escrita, surpreende pela forma como cativa como agarra o leitor na simplicidade dessa escrita, nos pequenos pormenores que vai semeando em cada capítulo dissimulados à espera de serem descobertos. Um observador nato,  penso que este romance tem muito de João R. Pedro, não um relato autobiográfico mas um cunho muito pessoal de experiências pessoais.
Um livro diria "meio" português (contrariando alguns comentário que li sobre a exclusividade da sua “portuguesidade”) sim porque alguém me consegue dizer onde a sociedade portuguesa se interessa por Bach, Beethoven ou Mozart? e então por quadros, pinturas? e isto são temas centrais do livro, por isso digo que este livro representa meio Portugal. O resto sim, a aldeia, a liberdade, o ciclismo, o maldizer, o deus, pátria, família, verdadeiros hinos da sociedade portuguesa.
Removendo algum exagero imposto no tipo de linguagem (que me desagradou bastante) quando não alocado a uma personagem, muitos dirão que é raiva do autor, desnecessário digo eu, gostei do livro e pretendo ler mais obras do autor caso ele nos presenteie com mais algumas linhas.

Colocado num estado de graça pela editora que bem necessitava que este prémio tivesse uma maior visibilidade e por conseguinte aumentar o número de vendas, ajudado pela história/vida pessoal do escritor (como centenas de milhares se revêm na vida do autor, neste tempos de austeridade) um recém-desempregado que tem um sonho e consegue vencer a adversidade sendo a excepção à regra, tudo parece envolto num conto de fadas, mas que penso ter sido bem mais duro, bem mais pesado do que aquilo que nos é apresentado, lá conseguiu a editora levar a água a sem moinho e o autor aproveitando a situação, e muito bem, vai de vento em poupa nesta sua caminhada num mundo tão difícil com este, o mundo de bem escrever.

Recomendo esta leitura, mesmo sem sentir que é uma obra extarordinária, reservo algo mais para futuras obras do autor.
Livro abordado na última sessão do clube de leituras Bertrand de Braga. 

8 comentários:

Paula disse...

Olá Angelo, gostei muito do comentário.
No entanto, acho que não o vou ler... :P

Cristina Torrão disse...

Também gostei do comentário.

De facto, já li outros "protestos" contra a linguagem, por vezes, excessiva, embora seja algo que não me incomode muito.
E é verdade que a editora acertou no alvo com a história do próprio autor, em princípio, por acaso, pois qualquer concorrente ao Prémio Leya o faz através de pseudónimo e a verdadeira identidade do vencedor só é averiguada depois de ele ter sido escolhido. De qualquer maneira, esse aspeto do desempregado que atinge o sucesso tem ajudado muito às vendas.

Espero que João Ricardo Pedro tire proveito do seu sucesso.

Ângelo Marques disse...

Olá Cristina,
Sim a Leya tem feito um trabalho excelente na promoção deste novo "hit". Vão explorar este filão até à exaustão.
A linguagem mais "dura" enquanto caracterização de uma personagem não incómoda, o que tem de ser assim tem de falar ;), não consigo enquadrar esse tipo de linguagem no autor, acho que não parece verdadeiro... opiniões.

Acho que JRP já tem, pelo menos, mais um sucesso o seu próximo livro sairá como pãezinhos quentes... curiosidade humana.

Ângelo Marques disse...

Olá Paula,
Não se pode ler tudo, não é verdade, esperemos pelo próximo ;) e que seja breve.

Paula disse...

Qual é o próximo livro que vocês vão ler Ângelo?

Ângelo Marques disse...

O próximo livro será "Grandes Esperanças" de Charles Dickens ;)

Odete Silva disse...

Um livro que quero ler! Gostei da opinião.

Ana C. Nunes disse...

Ângelo, tendo lido também o livro, devo dizer que concordo com a tua opinião.
E não há dúvida que algum do sucesso do livro se deve a esse facto de o autor ser um "espelho" de muitos portugueses neste momento.