Não Humano de Osamu Dazai

Não Humano

de Osamu Dazai

Tradução: Ana Neto

Edição/Publicação: 2011

Editor: Eucleia

Páginas: 128

ISBN: 978-989-8443-11-3

"Vi três fotografias do homem.

A primeira, a que se pode chamar uma fotografia da infância, mostra-o com cerca de dez anos de idade, um pequeno rapaz rodeado por muitas mulheres (as suas irmãs e primas, suponho). Ele está com um hakama axadrezado, junto à borda de uma lagoa de jardim. A sua cabeça está inclinada num ângulo de trinta graus para a esquerda, e os seus dentes estão arreganhados num sorriso feio. Feio? Bem podes questionar a palavra, pois pessoas insensíveis (isto

é, indiferentes a questões de beleza e fealdade) diriam imediatamente, com uma expressão branda e vazia, “Que rapazinho adorável!”. É bem verdade que o que comummente se toma por “adorável” está suficientemente presente na cara desta criança para atribuir algum significado ao elogio."

Este é um livro que percorre a vida de Yozo um humano que não o queria ser, mas que o era e assim viveu, melhor sobreviveu, nas suas constantes contradições sentimentais, muito comum nos humanos.

Este é um daqueles livros que para o leitor fica muito difícil de escrever sobre ele, com a particularidade deste Não Humano ser um livro repleto da falta de sentimentos, ou pelo menos é isso que o autor nos pretender induzir, cria um humano sem sentimentos o dito não humano. Numa obra auto biográfica, a crueldade de Yozo, personagem central, entranha-se na pele do leitor com uma inocuidade insensível. Yozo assemelha-se a um espírito, a sua relação com outras personagens é estranha, bizarra, esta nuvem de fumo, que é Yozo, tem estranhas ligações com alguma personagens, veja-se a ligação com sua amiga de suicídio Tsuneko, onde ela é eficiente mas ele falha o objectivo, passando pela esposa Yoshiko, e no seu testemunho na violação da esposa, ao inseparável mas corrosivo amigo Horiki.

Aqui está um bom exemplo da antítese da leitura light um livrinho com apenas 128 páginas, mas de uma profundidade avassaladora, uma leitura que nos suga para o interior do seu vórtex e que ficará, residual que seja, mesmo após termos unido todas as suas páginas.

Um livro que poderá não agradar a todos pela sua constante deprimisse, mas um livro que adorei.