23/12/2012

A Cidade Impura, Andrew Miller


Opinião: 
Neste história, estamos em 1785, Paris em vésperas de revolução. Temos uma população descontente para com os seus Reis, uma população farta de ser martirizada em prol dos benefícios dos outros e por conseguinte de uma corrupção que não parece ter fim. Para além do descontentamento da população face a quem está no poder, temos Paris, uma cidade nauseabunda, em que o lixo e os ratos proliferam...
É neste contexto que Jan-Baptiste Baratte, um engenheiro de origens humildes é destacado pelo ministro do rei para "limpar" Les Innocents - o cemitério da cidade do amor.
Um cemitério que atingiu o seu limite no que diz respeito a receber os mortos de Paris. Note-se que muitos destes encontram-se enterrados em valas comuns. O cheiro que o cemitério emana, é tão forte que se infiltra nas roupas, nas casas e até na comida que adquire outro sabor... o sabor da morte!
Perante a cidade, o engenheiro fará o papel do diabo, daí que este personagem se depare com inúmeras questões cujos superiores não tiveram a mínima preocupação, como: Onde serão depositados os ossos depois de removidos?; Para onde irão morar o coveiro e a filha?; O espólio da igreja, quem o protegerá; O que será feito do órgão e do organista que continua a tocar...
Achei o personagem Jean-Baptiste Baratte muito bem caracterizado, um personagem cuja personalidade é muito forte, os seus valores são sempre questionados aquando das suas acções. Este questionamento diz respeito ao que lhe pedem (ordens superiores), ao que ele deveria fazer (de acordo com os seus valores) e ao que realmente vai ser feito (os superiores levam sempre a sua avante).
No decorrer da história, o cemitério que era um local abandonado, isolado, onde o tempo parecia ter parado, acaba por se transformar num verdadeiro inferno"Cravam-se archotes nas paredes da vala. Agora, a cena transformou-se verdadeiramente num espectáculo: um bando de homens numa cova avermelhada, a puxarem ossos debaixo dos pés. O paredão de ossos estende-se a toda a largura de um dos lados da vala e já dá pela altura dos ombros de um adulto" pág 145
A demolição da igreja é também descrita de forma magnífica em que um acidente que vitimiza um trabalhador marca simbolicamente a morte da própria igreja.
Este é um livro que embora não tenha muita acção, o que pode tornar a leitura um pouco mais lenta, é um livro rico em reflexão. 
Gostei bastante!

Comentário publicado no blogue ...viajar pela leitura...

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