Sinopse:
Depois de descobrir que o sobrenatural não representa um
medo irracional e que as criaturas caminham lado a lado com os humanos, Carla
tem de enfrentar as consequências do seu envolvimento com o Caael.
Os demónios já deixaram marcas na vida da Ana e da Raquel e a Carla começa a sentir algumas dificuldades em encontrar-se.
Entre lacunas na memória, sentimentos e novas preocupações, surge uma existência virada do avesso com a linha da vida mais ténue do que nunca.
Com a ausência do Caael, assomam revelações que levantam um plano ancestral de uma disputa entre iguais. A Carla vê-se num tabuleiro de xadrez, como um rei isolado, com a rainha a jogar contra ela.
Os demónios já deixaram marcas na vida da Ana e da Raquel e a Carla começa a sentir algumas dificuldades em encontrar-se.
Entre lacunas na memória, sentimentos e novas preocupações, surge uma existência virada do avesso com a linha da vida mais ténue do que nunca.
Com a ausência do Caael, assomam revelações que levantam um plano ancestral de uma disputa entre iguais. A Carla vê-se num tabuleiro de xadrez, como um rei isolado, com a rainha a jogar contra ela.
Comentário:
Os demónios existem. Talvez sem querer, a jovem bracarense Andreia
Ferreira comprova-o: eles são pedófilos, incendiários, assassinos em série.
Existem, para mal dos pecados da humanidade. Mas, coisa curiosa, também existem
na ficção e às vezes são bonzinhos. Ou melhor: às vezes tudo fica de pernas par
o ar e os demónios viram gente boa e simpática, assim como os anjos (que, como
toda a gente sabe também existem) se tornam consideravelmente maus.
Todos nós já vivemos belas experiências com demónios e todos
nós já fomos tramados pelos anjos, que por vezes são uns chatos. De tudo isto
acontece neste livro segundo, da trilogia “Soberba” de Andreia Ferreira.
A ficção e a realidade, o bem e o mal, o amor e o ódio mais
radical, tudo se mistura no conjunto de ambivalências de que a vida é feita.
Alguns pormenores fazem antever um excelente futuro de
Andreia Ferreira como escritora: brilhante o contraste entre a folia do S. João
e o ambiente de terror no Hospital Psiquiátrico. Em algumas passagens, a
precisão descritiva e a economia narrativa permitem construir cenários de
verdadeiro terror, sem nunca se perder a dimensão humana e realista da estória:
Carla vive situações fantásticas mas não deixa de ser a jovem normal que
frequenta uma escola normal e que tem uma família como a nossa.
No entanto, o valor maior da obra, na minha opinião, é a
ambivalência de valores a que me referia acima; anjos e demónios, o bem e o mal
sempre presentes, lado a lado, por vezes presentes na mesma personagem. A
ficção como a vida: bondade e maldade não existem em estado puro na terra. E os
maiores anjos, como os maiores demónios, não são de outros mundos; são os de
cá. Neste livro, o mais puro dos anjos é bem terreno: é alguém que escapa por
completo ao domínio do fantástico – é o jovem Filipe, irmão mais novo de Carla;
ele é o verdadeiro anjo bom. No outro extremo, o pior dos demónios é todo ele
de carne e osso: Tó, o irmão de Ana, amiga de Carla.
Em suma, trata-se de mais um livro muito agradável de ler,
em que o fantástico se apresenta sobre uma forma bem realista e com “pano para
mangas” para o terceiro volume da trilogia.
0 comentários:
Enviar um comentário