Opinião:
No fim do livro a
autora escreve o seguinte: «oxalá esta
história fosse um romance de ficção e não um romance realista. Durante dez anos
trabalhei com homens que como o pai de Merry e Lulu destruiram as suas famílias
– homens que não eram monstros, mas que cometeram atrocidades.»
Na
véspera do décimo aniversário de Lulu, o pai transforma-lhes a vida num
pesadelo.
Um livro que é narrado
por ambas as personagens, as irmãs Lulu e Merry. Conta-nos a história de uma
família destruída pela tragédia.
Quando o pai lhes bate
à porta de casa, apesar dos avisos da mãe para não o deixar entrar, Lulu não
resiste, e abre-lhe a porta, de imediato o pai começa agredir e acaba por lhes matar a mãe, também esfaqueia Merry de apenas 5 anos, ficando com
cicatrizes no peito para o resto da vida, mas não são essas as mais
importantes, são as que ele lhes deixa no coração, traumas que nunca mais vão
passar, ficando assim ambas marcadas com a dor e a perda da sua mãe e da
tragédia que se abateu sobre ambas as irmãs. Vão ter de sobreviver apoiadas uma
na outra já que após a morte das avós, mais ninguém as acolhe, aprendendo da
pior maneira como a vida lá fora é dura e cruel quando vão para uma casa de
acolhimento.
Tendo ambas
personalidades muito distintas cada uma tenta lidar à sua maneira com este
drama, o facto do pai ter assassinado a
sua mãe, e apesar da mesma não estar isenta de culpas, pois era uma mãe “despreocupada”,
nada justifica tal acto.
Lulu sente-se culpada
porque deixou o pai entrar em casa, tem necessidade de proteger a irmã mais
nova em todas as situações. Não quer ver nunca mais o pai, quer esquecer que
ele existe. E consegue seguir com as sua vida para frente, formando-se, e
tornando-se bem sucedida na sua profissão e na sua vida pessoal. Tendo sempre lacunas,
mas isso é impossível não as ter depois de tudo o que passaram na vida. Aquilo
que Lulu mais quer é que o pai nunca mais sai da prisão, que morra lá.
Merry é o oposto da irmã
é inconstante em tudo o que faz, até nos relacionamentos que tem com os homens,
sempre instável, talvez porque nunca conseguiu desligar-se do pai visitando-o
na prisão, e mantendo sempre o contacto por meio de cartas. Sofre com tudo
isso. O pai ao contrário do acto cruel que praticou, demonstra interesse pelas
filhas.
Fiquei envolvida neste drama
familiar, muito sofrimento da parte das
irmãs, senti uma ligação com as personagens ao ponto de pensar o que faria se
estivesse no seu lugar, será que perdoava ou não o pai que lhes destruiu a vida? A
narrativa está dividida em três partes desde a infância até à idade madura quando
ambas já tem mais de 30 e mais de 40 anos. E demonstra a enorme capacidade de resistência que um ser humano tem para enfrentar tragédias é muito maior do
aquela que julgamos ter.
Um livro muito bom, cativante, envolvente, comovente, surpreendente, perturbador, (podia colocar mais adjectivos), uma história muito intensa, emocionante, feita de
muita mágoa e de dor, mas também de resistência. Gostei muito, recomendo.
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