Opinião:
Este é um livro que na
minha modesta opinião deve ler-se devagar para digerir as “cartas” que nos
relatam a enorme revolta de um ser humano que foi agredido física e verbalmente
ao longo da sua vida de uma forma marcante pelos pais, pelos amigos e colegas
desde bem pequeno, e devido a isso nunca se sentiu amado.
Filipe deita para fora
todos os seus sentimentos de dor, frustração, rejeição, de raiva contra tudo e
todos os que lhe fizeram a vida num inferno, pais, amigos e conhecidos. E canalizou
toda a sua energia a “odiar” estas pessoas. Será que perdoando e colocando de lado todos estes sentimentos não lhe trazia um pouco de paz de espírito e alguma felicidade? Sou eu a pensar.
É uma narrativa intensa
e nota-se que esta pessoa sofreu muito, pois cada carta que lemos está repleta
de raiva e de dor de alguém que não teve um escape até uma certa idade. Mesmo
assim no meio disso tudo houve algumas pessoas na sua vida que o mantiveram à
tona de água e foram realmente marcantes de forma positiva, o avô
materno que era um pilar para ele e a madrinha de casamento dos pais, que foi de
certa forma um apoio que ele teve sempre que precisou.
Não é nada fácil estar
a ler e a visualizar as situações, principalmente quando se conhece uma pessoa
que sofreu exactamente às mãos dos pais o que este rapaz passou, chegando a
duvidar se os pais algum dia o amaram, até hoje, mas mantendo sempre a mente sã
conseguindo abstrair-se do que lhe fizeram, sendo hoje um pai e marido
maravilhoso, uma pessoa feliz.
Já Filipe foi por
outros caminhos deixa que o seu sofrimento o levem a pensar em acabar com a
vida, a sua solução passa pelo suicídio, ele tenta encontrar um objectivo que o faça sentir vontade de viver e ser feliz
é a sensação que me dá, mas caiu tão fundo que lhe é difícil deixar de sentir
ódio, porque apesar de ter amado, ele sabe que no fundo não consegue ser feliz
sem ajuda de alguém, ele precisa que o agarrarem, amparem e o amem para vir ao
de cima. E
depois o facto de ser abandonado pelas namoradas e o afastamento de amigos não
o ajudou em nada.
Com uma escrita muito
intensa, "agressiva", o autor consegue com que não fiquemos indiferentes a Filipe, e a
toda a violência de que foi vitima quer fisica quer psicologicamente. Este livro é um pedido de ajuda de alguém que sofre de
maneira inegável e que precisa que lhe estendam uma mão para se levantar.
Não foi fácil depois de
esta leitura começar a ler outro livro, porque fiquei a pensar nestas cartas
que tinha acabado de ler, fiquei impressionada, dão um baque no estômago. De
salientar que achei que o autor escreve muito bem, envolve-nos, e deixa-nos a reflectir.
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