08/02/2013

Cartas que Falam de Bruno Araújo



Opinião:
Este é um livro que na minha modesta opinião deve ler-se devagar para digerir as “cartas” que nos relatam a enorme revolta de um ser humano que foi agredido física e verbalmente ao longo da sua vida de uma forma marcante pelos pais, pelos amigos e colegas desde bem pequeno, e devido a isso nunca se sentiu amado.

Filipe deita para fora todos os seus sentimentos de dor, frustração, rejeição, de raiva contra tudo e todos os que lhe fizeram a vida num inferno, pais, amigos e conhecidos. E canalizou toda a sua energia a “odiar” estas pessoas. Será que perdoando e colocando de lado todos estes sentimentos não lhe trazia um pouco de paz de espírito e alguma felicidade? Sou eu a pensar.

É uma narrativa intensa e nota-se que esta pessoa sofreu muito, pois cada carta que lemos está repleta de raiva e de dor de alguém que não teve um escape até uma certa idade. Mesmo assim no meio disso tudo houve algumas pessoas na sua vida que o mantiveram à tona de água e foram realmente marcantes de forma positiva, o avô materno que era um pilar para ele e a madrinha de casamento dos pais, que foi de certa forma um apoio que ele teve sempre que precisou.

Não é nada fácil estar a ler e a visualizar as situações, principalmente quando se conhece uma pessoa que sofreu exactamente às mãos dos pais o que este rapaz passou, chegando a duvidar se os pais algum dia o amaram, até hoje, mas mantendo sempre a mente sã conseguindo abstrair-se do que lhe fizeram, sendo hoje um pai e marido maravilhoso, uma pessoa feliz.

Já Filipe foi por outros caminhos deixa que o seu sofrimento o levem a pensar em acabar com a vida, a sua solução passa pelo suicídio, ele tenta encontrar um objectivo  que o faça sentir vontade de viver e ser feliz é a sensação que me dá, mas caiu tão fundo que lhe é difícil deixar de sentir ódio, porque apesar de ter amado, ele sabe que no fundo não consegue ser feliz sem ajuda de alguém, ele precisa que o agarrarem, amparem e o amem para vir ao de cima. E depois o facto de ser abandonado pelas namoradas e o afastamento de amigos não o ajudou em nada.

Com uma escrita muito intensa, "agressiva", o autor consegue com que não fiquemos indiferentes a Filipe, e a toda a violência de que foi vitima quer fisica quer psicologicamente. Este livro é um pedido de ajuda de alguém que sofre de maneira inegável e que precisa que lhe estendam uma mão para se levantar. 

Não foi fácil depois de esta leitura começar a ler outro livro, porque fiquei a pensar nestas cartas que tinha acabado de ler, fiquei impressionada, dão um baque no estômago. De salientar que achei que o autor escreve muito bem, envolve-nos, e deixa-nos a reflectir.

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