14/05/2013

O filho de mil homens de valter hugo mãe - Leitura Conjunta

Leitura Conjunta O filho de mil homens de Valter Hugo Mãe



Ângelo
Crisóstomo, vive só e pretende ter um filho para colocar alguma razão na sua existência, Camilo (um jovem a quem o avô faleceu) “cair-lhe-á” aos seus braços, para completar a sua felicidade Isaura (mulher de vida dura mas com o nome mais bonito do mundo) juntar-se-á a este dueto, para assim criarem um triângulo amoroso muito genuíno.

Com um preconceito homossexual muito forte, exagerado em certos aspectos, impressionante por vezes, esse é o poder que valter hugo mãe tem ao imprimir conceitos tão marcantes de uma forma quase poética. A narrativa envolve-nos numa espécie de nevoeiro matinal que nos protege das agressividades solares.
Uma crítica à sociedade onde a salvação se poderá encontrar através do amor e compreensão.

Está em linha com os últimos livros editados pelo autor, sem o vigor e a força do Remorso de Baltazar Serapião... mas não deixa de ser um bom livro.

Ana
Sem nunca ter lido nada do autor e apenas lhe conhecendo a fama, foi sem expectativas que comecei este livro e fui agradavelmente surpreendida.

A história parece, à primeira vista, corriqueira, mas chega a ser bastante complexa, na sua humanidade. Passada numa qualquer vila portuguesa, num qualquer tempo (e, sim, isto faz-me impressão, porque certas coisas apontam para um tempo moderno, enquanto muitas outras fazem parecer que estamos nos anos 60/70), julgo que qualquer leitor poderá identificar várias caricatas personalidades como muito realistas, muito próximas do português da aldeia de outros tempos, ou será de hoje? (e com isto não pretendo ofender)
Algumas situações representadas neste livro, testaram a minha credulidade, especialmente pela sua crueldade e malícia. Mas não chegou a cruzar os limites e também na bondade este livro se excedeu, mais lá para o fim.

A nível de personagens, há-as para todos os gostos. Personagens que nos parecem familiares, que nos tocam, que nos movem, que nos enojam e nos fazem pensar que as pessoas ainda têm muito que aprender sobre a diferença, e que infelizmente isso é tão verdade agora, como antes.
Escusado será dizer que o meu favorito foi o Crisóstomo, com o seu singelo desejo de ser pai e o seu amor incondicional por todos. Também as outras personagens principais foram marcantes, mas não da mesma forma. Camilo, Isaura, Antonino, Matilde a Mininha, foram personagens cheias de defeitos e cheias de virtudes, que me mantiveram agarrada às páginas.

Já no que toca à prosa do autor, gostei bastante desta, em quase todo o livro, e foi ver que neste livro o autor não usou certos artifícios literários que me teriam deturpado a leitura (ex: não usar maiúsculas). Contudo, há que dizer que certas partes do romance me soaram falsas, especialmente quando personagens que sempre foram 'labregas', se saíam com pensamentos ou discursos mais elucidados e eruditos, que nada mais pareciam que pregações. 
A já mencionada falta de localização temporal, levou-me a questionar várias vezes os acontecimentos e as vivências das personagens, e isso não foi bom. Fiquei com a sensação que o autor não quis dizer a data, para não correr o risco de ser chamado à atenção por alguma inconsistência.

Em suma, este foi um livro que me agradou bastante e que, apesar de começar num tom muito triste (por vezes até macabro), no fim terminou de uma forma inesperadamente optimista. E sabe bem ler algo assim para variar.
Irei com certeza revisitar o autor!

Manuel
Depois de magníficos livros como A Máquina de Fazer Espanhóis e, principalmente, O Remorso de Baltazar Serapião, as expectativas eram altas para este livro de Valter Hugo Mãe. Anunciava-se o regresso às maiúsculas e o assumir de uma perspectiva mais positiva e uma escrita mais suave. Desde logo, anunciava-se o abandono de uma linha pessoal que VHM ia seguindo nas suas obras anteriores.

Esse abandono de um estilo bem pessoal não me agradou mas devo dizer antes de mais nada que estamos perante um bom livro. A leitura é agradável, a escrita poética dá uma certa musicalidade ao livro e a sensibilidade do autor está sempre “à tona da água”.
Conta-se a história de um homem que, como o autor, cruza os quarenta anos de idade e questiona o sentido da sua existência, decidindo-se pela procura de algo que o complete: uma mulher e um filho.
Crisóstomo, pescador, era metade. Fez 40 aqnos e sentiu-se só. Procurou um filho e encontrou-o: Camilo, catorze anos. Encontrou uma mulher e sorriu: Isaura (o nome mais belo que existe). Sorriu.
Uma anã sem nome era infeliz. Só. Mas 15 homens, quase todos os que havia na aldeia a visitavam. E da doença e da solidão nasceu um filho. A mãe, anã, completou-se e morreu.
Isaura com 16 anos cedeu ao amor carnal e começou a morrer. Conheceu um maricas e casou. Mais tarde o maricas será chamado pelo seu nome (Antonino); antes disso foi sempre renegado porque maricas não é ser gente. Um dia o maricas foge e Isaura descobre que o amor é esperar. Chora.
Camilo, o filho da anã, é adoptado pelo velho Alfredo. Alfredo morrerá e Camilo herda a solidão. Para Isaura “ser o que se pode é a felicidade”. Assim foi até conhecer Crisóstomo e Camilo, entretanto adoptado pelo homem que fez 40 anos. Todas as metades se completaram e o maricas voltou. Antonino é acolhido pela nova família: Isaura, Crisóstomo e Camilo. A união entre os pobres, solitários deserdados da vida. Ainda havia tempo para que todos sorrissem.
Como se vê a mensagem é bonita, o enredo é interessante mas falta aqui (na minha opinião, é claro) Valter Hugo Mãe. Falta o cunho pessoal, o estilo “tsunami” a que VHM nos vinha habituando.
A solidão foi derrotada, assim como o preconceito, esse monstro devorador da vida, do qual nasce a solidão.
Independentemente da qualidade inegável da obra, a palavra chave que me assoma à mente é esta: cedência.

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