10/10/2013

Um Comércio Respeitável, de Philippa Gregory (opinião)



Opinião:
Gosto imenso de romances históricos e sou fã da autora Philippa Gregory, desconhecia que tivesse publicado um livro sem ser sobre a época Tudor, "Um Comércio Respeitável" foi uma agradável surpresa”.
Estamos em Bristol, no ano de 1787, centro marítimo onde se fazem negócios nas docas, os barcos atravessam o oceano para África e outros países, para trazerem açúcar, rum e tabaco são os produtos mais requisitados, mas também vamos ter um vislumbre de outro comércio que crescia a olhos vistos - o tráfico de escravos.
Esta narrativa foca-se em três personagens, Josiah Cole o comerciante, Frances a sua esposa e em Mehuru o escravo, sacerdote africano.
Josiah um comerciante ambicioso e determinado, quer subir na vida e fazer parte da sociedade inglesa, quer expandir os negócios, mas precisa de capital, para o conseguir convém ter alguém ao seu lado com um certo estatuto, vê essa oportunidade quando conhece Frances Scott, uma solteira, que já passou da idade de casar-se, com uma saúde muito frágil, mas que vem de uma família bem conceituada. Como Frances precisa de se casar, pois encontra-se sozinha, sem dinheiro e sem casa, não rejeita o pedido de Josiah, trata-se portanto de um casamento de conveniência para ambos.
“Um Comércio Respeitável” dá-nos uma visão de como os escravos eram tratados por estes comerciantes e pela classe alta, para eles eram simples animais, e não seres humanos, na sua opinião não tinham sentimentos, a maneira cruel como eram transportados nos navios, acorrentados como cães uns aos outros, com argolas no pescoço, empilhados, sem higiene, muitas vezes sem comida, fazia com que durante o trajecto muitos morressem, e outros ficassem doentes, e aí eram simplesmente atirados ao mar por vezes ainda vivos, é algo doloroso de se ler, e depois o destino a que eram sujeitos ou seja para trabalharem nas plantações, onde muitos não sobreviviam, ou aqueles que ficavam nas casas de famílias, trabalhavam sem remuneração e os obrigavam a usar uma coleira com o nome que lhes atribuíam. Uma desumanidade inimaginável.
Josiah leva para casa escravos para que sejam ensinados pela esposa a falar inglês, para mais tarde os vender a famílias da classe alta.
Mas ao contrário dos outros Frances depressa percebe que os escravos tem sentimentos e emoções, e começa a criar empatia por eles, pelas crianças, mas em particular por Mehuru, que se destaca dos outros pois demonstra ter uma inteligência muito superior, criam uma amizade proibida, era uma época em que a própria mulher também não tinha direitos, não era dona de si, no fundo era como se fosse uma escrava, sujeita às vontades do marido no matrimónio.
Este romance faz-nos olhar para um período da história da humanidade no século XVIII com outros olhos, ver como era lucrativo o comércio de escravos onde os comerciantes ingleses acumulavam fortunas e faziam lucro à custa do sofrimento humano atroz, o qual afectou milhares de vidas, pessoas que foram obrigadas a  tornarem-se escravas, deixando a sua terra e família, em prol da ganância de outros.
A autora tem o dom de contar histórias fascinantes, é um romance bem escrito, envolvente e surpreendente, com um bom enredo, com personagens credíveis, acho que retratam bem a época, assim como todo o cenário, as descrições bem reais do que se passava, trata-se de uma narrativa muito perturbadora, comovente e sombria da qual não ficamos indiferentes. Um livro marcante que gostei imenso de ler, recomendo sem dúvida alguma, muito bom.

Pode ver o livro "Um Comércio Respeitável"aqui 


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