Manuel Poppe, Dramaturgo, romancista, ensaísta. Colunista do Jornal de Notícias. No que diz respeito à dramaturgia, publicou, na Teorema, as peças Os amantes Voluntários (encenada por Roberto Merino, Seiva Trupe, com Romy Soares e Manuel Geraz), A Tragédia de Manuel Laranjeira e Aranha (encenada por Moncho Rodriguez, Teatro Municipal da Guarda) e Pedro I (obra esta comentada aqui no blogue).
Publicou, nos Cadernos do Teatro Municipal da Guarda, o monólogo A Garrafa (encenado e representado por Valdemar Santos, no TMG), as peças Os Sobreviventes e A Acácia Vermelha. Escreveu o texto Boca de Fogo, para o espectáculo transdimensional de Júnior Sampaio e Júlio Cardoso, Seiva Trupe. Grande prémio de APE, 1995 (Crónicas Italianas). Obras traduzidas: A Mulher Nua e Sombras de Telavive (Teorema, novelas).
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Destante: Quem é o Manuel Poppe?
Manuel Poppe: Um homem que nasceu, por mero acaso, em Lisboa. Cresceu na Guarda. Viajou, por razões familiares, em Portugal, e, por razões profissionais e pessoais, pelo Mundo. Viveu em 18 casas, cinco países: Portugal, Itália, São Tomé e Príncipe, Israel e Marrocos, ou seja, em 3 continentes. Entende que o mundo depende do olhar de cada um. Ama as viagens. Ama admirar e apaixonar-se. Não tem medo da morte mas é a coisa que mais detesta e não lhe apetece. Realmente, adora a vida. E acha que em todas as pessoas existe uma criança que espera pela nossa estima e pelo nosso respeito.
D. - Olhando para a sua carreira literária que é bastante completa, o que é que sente que ainda há por fazer?
M.P. Considero-a bem incompleta! E creio que será assim até ao último momento... Gostaria de escrever mais ficção narrativa e dramática. Conforta-me, apenas, saber que tenho um Diário, iniciado em 1960, com milhares de páginas, sempre a aumentarem e destinado a publicação 50 anos depois da minha morte.
D. - Como é que vê a escrita? Uma urgência, uma relação a dois em que mais ninguém se mete ou um espelho do mundo, onde cabe tudo o que o rodeia?
M.P. -Uma necessidade absoluta. Tal qual respirar, amar. Uma necessidade vital.
D. - Ao ler a sua obra “Pedro I”, sente-se que a escreveu com muita paixão, muito sentimento. Estou certa não estou?
M.P. É um dos meus livros que mais amo. Junte-lhe ‘O Pássaro de Vidro’ e ‘A Mulher Nua’. A figura de Pedro I fascina-me. Porquê? Pelo seu excesso, pela sua capacidade de paixão, pela sua sede de justiça. Pela sua revolta, diante da hipocrisia e da injustiça da morte. Diante do absurdo da vida.
D. - Pode-se dizer que a vida deste rei nos contagia a todos?
M.P. A todos, não sei. A mim, arrebatou-me.
D. - Entre 21 e 26 de Fevereiro deste ano, decorreu na Guarda “O Ciclo Manuel Poppe”. O que é que se sente quando se vê um trabalho assim reconhecido?
M.P. Uma profunda gratidão. Uma fortíssima emoção. A Guarda é a minha Pátria. Lá cresci e aprendi tudo: poesia, amor e sexo (se é que se podem separar, amor e sexo...).
D. - E a crítica em Portugal, o Manuel Poppe sente-a diferente ao longo do tempo, ou sente-a de forma igual ao que era quando publicou o seu primeiro livro? Quer falar um pouco sobre isso?
M.P. A crítica, em Portugal, entrou em letargo, desde a morte do nosso maior crítico: João Gaspar Simões.
D. - O que pensa desta nova geração de escritores? Qual o seu preferido?
M.P. Prefiro não referir camaradas vivos. Mas, como, para mim, em Arte, não há novos nem velhos, direi que, dentre os vivos, prefiro Herberto Helder.
D. - E do surgimento de tantas e diversas editoras? Na sua opinião, terão elas o objectivo primeiro de divulgar os autores e as suas obras ou ganhar com isso?
M.P. Há as que são investimentos capitalistas, sem pudor e sem preocupação de qualidade, e há as que têm uma acção cultural importantíssima. Dou-lhe dois exemplos destas últimas, verdadeiras heroínas (e desculpe quem eu, involuntariamente, omitir). A Relógio d’ Água e a Assírio & Alvim.
D. - Manuel, dê-me um nome de um livro que o tenha marcado desde sempre.
M.P. “Recordações da Casa dos Mortos”, de Dostoievski.
D. -Se marcasse um jantar com 3 personalidades, quem seriam elas e que assunto teria em mente falar-lhes?
M.P. O poeta Luís Amaro, a pintora Paula Rego, a pianista Maria João Pires... E, já gora, se me autoriza, acrescento mais uma pessoa: o polifórmico artista Américo Rodrigues. O tema? Uma simples pergunta: “Que raio de merda de vida é esta que andam para aí os poderosos do mundo a cozinhar?”
Manuel Poppe, muito obrigado pelo seu tempo a equipa do Destante, deseja-lhe tudo de bom.
Manuel Poppe: Um homem que nasceu, por mero acaso, em Lisboa. Cresceu na Guarda. Viajou, por razões familiares, em Portugal, e, por razões profissionais e pessoais, pelo Mundo. Viveu em 18 casas, cinco países: Portugal, Itália, São Tomé e Príncipe, Israel e Marrocos, ou seja, em 3 continentes. Entende que o mundo depende do olhar de cada um. Ama as viagens. Ama admirar e apaixonar-se. Não tem medo da morte mas é a coisa que mais detesta e não lhe apetece. Realmente, adora a vida. E acha que em todas as pessoas existe uma criança que espera pela nossa estima e pelo nosso respeito.
D. - Olhando para a sua carreira literária que é bastante completa, o que é que sente que ainda há por fazer?
M.P. Considero-a bem incompleta! E creio que será assim até ao último momento... Gostaria de escrever mais ficção narrativa e dramática. Conforta-me, apenas, saber que tenho um Diário, iniciado em 1960, com milhares de páginas, sempre a aumentarem e destinado a publicação 50 anos depois da minha morte.
D. - Como é que vê a escrita? Uma urgência, uma relação a dois em que mais ninguém se mete ou um espelho do mundo, onde cabe tudo o que o rodeia?
M.P. -Uma necessidade absoluta. Tal qual respirar, amar. Uma necessidade vital.
D. - Ao ler a sua obra “Pedro I”, sente-se que a escreveu com muita paixão, muito sentimento. Estou certa não estou?
M.P. É um dos meus livros que mais amo. Junte-lhe ‘O Pássaro de Vidro’ e ‘A Mulher Nua’. A figura de Pedro I fascina-me. Porquê? Pelo seu excesso, pela sua capacidade de paixão, pela sua sede de justiça. Pela sua revolta, diante da hipocrisia e da injustiça da morte. Diante do absurdo da vida.
D. - Pode-se dizer que a vida deste rei nos contagia a todos?
M.P. A todos, não sei. A mim, arrebatou-me.
D. - Entre 21 e 26 de Fevereiro deste ano, decorreu na Guarda “O Ciclo Manuel Poppe”. O que é que se sente quando se vê um trabalho assim reconhecido?
M.P. Uma profunda gratidão. Uma fortíssima emoção. A Guarda é a minha Pátria. Lá cresci e aprendi tudo: poesia, amor e sexo (se é que se podem separar, amor e sexo...).
D. - E a crítica em Portugal, o Manuel Poppe sente-a diferente ao longo do tempo, ou sente-a de forma igual ao que era quando publicou o seu primeiro livro? Quer falar um pouco sobre isso?
M.P. A crítica, em Portugal, entrou em letargo, desde a morte do nosso maior crítico: João Gaspar Simões.
D. - O que pensa desta nova geração de escritores? Qual o seu preferido?
M.P. Prefiro não referir camaradas vivos. Mas, como, para mim, em Arte, não há novos nem velhos, direi que, dentre os vivos, prefiro Herberto Helder.
D. - E do surgimento de tantas e diversas editoras? Na sua opinião, terão elas o objectivo primeiro de divulgar os autores e as suas obras ou ganhar com isso?
M.P. Há as que são investimentos capitalistas, sem pudor e sem preocupação de qualidade, e há as que têm uma acção cultural importantíssima. Dou-lhe dois exemplos destas últimas, verdadeiras heroínas (e desculpe quem eu, involuntariamente, omitir). A Relógio d’ Água e a Assírio & Alvim.
D. - Manuel, dê-me um nome de um livro que o tenha marcado desde sempre.
M.P. “Recordações da Casa dos Mortos”, de Dostoievski.
D. -Se marcasse um jantar com 3 personalidades, quem seriam elas e que assunto teria em mente falar-lhes?
M.P. O poeta Luís Amaro, a pintora Paula Rego, a pianista Maria João Pires... E, já gora, se me autoriza, acrescento mais uma pessoa: o polifórmico artista Américo Rodrigues. O tema? Uma simples pergunta: “Que raio de merda de vida é esta que andam para aí os poderosos do mundo a cozinhar?”
Manuel Poppe, muito obrigado pelo seu tempo a equipa do Destante, deseja-lhe tudo de bom.
8 comentários:
Parece que a crítica em Portugal anda completamente a Leste. Todas as entrevistas aqui publicadas fazem referência a isto. Repararam?
Manuel Poppe, gostei muito de o conhecer...e fiquei curiosa com o seu diário...um diário que certamente não terei o prazer de ler, pois se só será publicado 50 anos depois... eu certamente também já não estarei cá...
Fico-me pelos seus livros editados, mas ... muitos estão esgotados...
Um abraço
Adorei ler esta entrevista.
Isabel
Raquel concordo quando dizes que a crítica está desalinhada com a panorama actual da nossa literatura, mas volto a reforçar que estamos aqui para mudar isso caso contrário isto não valia a pena, juntos podemos fazer algo de diferente dando a conhecer talentos escondidos por essa dita crítica. Tal como a Isabel adorei a entrevista (a entrevistadora está cada vez melhor ;)).
É bom ouvir referências a esse erudito Herberto Helder ou a Dostoievski, Manuel Poppe demonstra uma certa simplicidade, naturalidade e veracidade nas suas respostas... Enfim gostei!
Abraços a todos
É verdade Raquel, a crítica em Portugal anda a leste e parece vai continuar, felizmente, como diz o Ângelo estamos aqui :)
Ângelo tens razão, o Manuel Poppe é uma pessoa muito simpática e simples, adorei conhecer a sua escrita e fazer esta entrevista, se estivesse na Guarda por certo tinha ido assistir ao "Ciclo Manuel Poppe" :)
Raquel, também fiquei curiosa com o diário, e também eu não estarei cá para ler :P
Resta-me, uma vez mais agradecer ao Manuel Poppe pelo seu tempo e disponibilidade.
De Manuel para Manuel:
Devo dizer que fiquei encantado com esta entrevista. Nota-se que estamos a lidar com um homem de ideias fortes (ou não fosse ele um cidadão do Potugal profundo :) )´
Só uns comentáriozinhos dispersos:
- D. Pedro I. Ora nem mais! Um HOMEM como poucos na história de Portugal. Tivesse havido outros com o mesmo amor à justiça e a mesma sensibilidade e teríamos hoje um país bem melhor. Como apaixonado que sou pela história de Portugal devo dizer que só D. João II, D. Pedro IV e o Marquês de Pombal se aproximam (na minha modesta opinião) do rei justiceiro. E não incluo aqui Salgueiro Maia para não lhe pregar a partida de o misturar com políticos, mesmo que brilhantes.
- A Crítica literária. Discordo. Está em letargo, nada! Está moribunda e apenas estrebucha. Anda perdida em publicações mercantilistas e "lambebotistas".
- Editoras. Sim, muita imagem, muito lucro, muito "viperismo" (isto existe? Ou inventei um belo neologismo?). Permita-me acrescentar a Chiado Editora Às que referiu; tem publicado coisas giras de novos escritores.
- As personalidades. Sem desprimor para as outras: Paula Rego. Uma Mulher maior. Ídolo. Ímpar.
Um garnde abraço, Manuel e obrigado por colaborar connosco, com as suas palavras, firmes e directas.
Caros Amigos,
Bem hajam!
É muito bom ler aquilo que escreveram.
Indirecta e directamente, continuaremos a nossa conversa.
Um forte abraço.
É curioso, já passei por vários livros deste autor, mas confesso que não o conhecia. No entanto, as respostas fizeram-me ficar curiosa e certamente procurarei por eles assim que puder. :)
E sabem porque?
Manuel Poppe é um homem além do achismo, alguem que tivemos a honra de conhecer entre um café e uma água, em Lisboa.
O que escreve vem da veia e se assim pudesse ser de verdade, escreveria seus livros com a cor da terra por onde passou.
Fiquei feliz de vê-lo aqui.
Parabéns pela escolha de uma literatura limpa, vem viés.
A Cozinha dos Vurdons.
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