22/11/2013

A Bibliotecária de Auschwitz, de Antonio G. Iturbe (opinião)



Opinião: 

«Abrir um livro é como entrar para um comboio que nos leva de férias».
 
Já perdi a conta ao número de livros que li sobre o Holocausto, mas por mais que leia continuo a ficar sempre surpreendida e chocada com as atrocidades cometidas por seres humanos a outros seres humanos, não existem palavras para descrever tais actos bárbaros, e sou daquelas pessoas que concordo plenamente que o mundo não pode esquecer o horror que foi o Holocausto nunca, tem que continuar a perpetuar na memória de todas as gerações vindouras, para que se impeçam mais actos de barbaridade como este que ceifou milhões de inocentes.
Qual era o crime destas pessoas (homens, mulheres, idosos e crianças) que foram vitimas do Holocausto? Apenas um: serem judeus.

A Bibliotecária de Auschwitz é baseado numa história verídica de uma jovem checa de apenas 14 anos, que o autor entrevistou várias vezes na cidade de Praga, uma jovem que arriscou a sua vida para manter viva  a magia dos livros.
A jovem Dita Dorachova foi prisioneira juntamente com os pais no campo de concentração de Auschwitz, onde não se vivia mas tentava-se sobreviver, Fredy Hirsch conseguiu erguer uma “escola” improvisada, no meio das condições mais degradantes que se possam imaginar,  onde os livros eram proibidos, papel ou lápis, por isso os professores davam as aulas verbalmente, os alunos aprendiam simplesmente escutando, e Dita é a bibliotecária do Bloco 31, por incrível que pareça conseguiram esconder oito livros debaixo de tábuas no chão e a jovem todos os dias escondia-os nuns bolsos que mandou improvisar no seu vestido para serem partilhados nas “aulas”. Mas esta biblioteca clandestina também era composta por livros vivos ou seja livros que pessoas sabiam de cor e partilhavam com os alunos.

"Aquilo que os implacáveis guardiãs do Reich tanto temem são apenas livros: livros velhos, sem capas, desfolhados, quase desfeitos..." 
Dita demonstra ter uma coragem sem precedentes, com uma personalidade forte que nunca se deixou abalar, nem desistiu de viver, o seu amor aos livros era inabalável, o simples facto de sentir os seu cheiro passar os dedos pela lombada (aqueles ainda tinham), ou apenas ler algumas  páginas, davam-lhe alento para sobreviver, ela dedicava-se a restaurar aqueles que se tivessem descolado ou rasgado com um amor que só quem ama os livros consegue entender, por isso arriscava diariamente a vida para os proteger e esconder.

“Muitos pequenos momentos em que a chama brilhou, mesmo na mais absoluta escuridão. Alguns desses momentos aconteceram quando, no meio do maior dos desastres, abriu um livro e entrou nele. A sua pequena biblioteca é uma caixa de fósforos..."

Fredy tentava inculcar esperança através dos livros, dizia-lhe que a guerra não ia durar para sempre portanto havia que tentar aprender para depois sobreviver quando saíssem do campo de concentração, não devia nunca desistir, mas sim continuar a resistir, a lutar apesar de todo o sofrimento infligido diariamente.
Todos os dias centenas de pessoas era levadas para as câmaras de gás, os cenários do campo são arrepiantes, a falta de higiene, de comida, de condições sanitárias, de tudo, faz com que nos perguntemos como é que houve quem sobrevivesse a este calvário? Não sei mesmo. Só com muita vontade e coragem e tentando arranjar algo a que se agarrar para sair de lá com vida, como esta jovem a Dita.

“ Em Auschwitz, a vida humana vale menos que nada; tem tão pouco valor que já nem sequer se fuzila ninguém porque uma bala é mais valiosa do que um homem. Há grandes câmaras onde se usa o gás Zyklon porque reduz os custos e com uma só lata pode matar-se centenas de pessoas...”

Uma narrativa que não deixa de ser uma homenagem aos livros e ao poder que exerce sobre as pessoas, mas principalmente a Dita que sobreviveu, e a todos aqueles que foram vitimas da crueldade nazi. Com passagens dolorosas de se lerem, é impossível ficar indiferente ao sofrimento humano sem que as lágrimas nos venham aos olhos, e ao mesmo tempo sente-se uma revolta enorme pelo que se passou, é  um testemunho incrível, comovente e marcante, mais um livro que vai ficar na minha memória para sempre. Muito bom. 

"Os livros conservam nas suas páginas a sabedoria de quem as escreveu. Os livros nunca perdem a memória."



0 comentários: