Opinião:
Li “Os Anjos Morrem das
Nossas Feridas” no passado mês de Dezembro e fiquei rendida a este autor, não resisti a pegar neste romance que
me fez confirmar mais uma vez que Yasmina Khadra é um excelente contador de
histórias.
Este livro está
dividido em três partes, primeiro relata-nos a vida do doutor Kurt Krausmann
em Frankfurt, onde vive confortavelmente até ao momento em que uma tragédia que se abate sobre a sua vida, tudo se desmorona, sente-se perdido, por isso decide aceitar o convite do seu amigo Hans
e viajar num veleiro até às Comores, longe de imaginar que o barco seria atacado
em águas internacionais por piratas fazendo ambos reféns, o que devia ser uma viagem reconfortante para
apaziguar a sua dor, torna-se no maior pesadelo da sua vida, trata-se de uma
descida ao inferno, o que fará com que Kurt tal como o titulo do livro indica,
pense “cada dia é um milagre”, devido ao horror que vão passar com os seus
raptores, privações, fome, maus tratos, coisas inimagináveis que para ele só acontecia
aos outros.
Vão ser dias de terror
para ambos os amigos, somos juntamente com estes protagonistas transportados para uma África selvagem um país
onde grassa o crime, a maldade, a corrupção, onde os homens são desprovidos de
sentimentos perante os outros, onde são arrasadas aldeias inteiras por pura
crueldade. Ambos vão sentir
na pele o quanto um ser humano pode ser mau para com os outros. Onde a crueldade e poesia podem andar de mãos dadas.
Mas no meio desta
crueldade, é possível haver sempre algo de positivo, alguém que se destaca pela diferença, que no
fundo o seu coração não seja assim tão cheio de ódio e debaixo da sua dureza
exista um ser humano que nutra sentimentos pelos outros, mesmo que não os
queira demonstrar, pois tem que agradar ao grupo que escolheu e para tal
torna-se igual a eles, praticando as mesmas acções. Pessoas que tem sonhos mas que não os conseguem nunca
concretizar, pois estão sujeitos a um governo que fecha os olhos às
necessidades de um povo que nada tem, em que a sua vida nada vale, que não os
protege, pessoas que a vida não lhes deu oportunidade de serem algo mais do que criminosos.
Já na terceira parte do
livro depois de conhecer esta dura realidade Kurt questiona-se como é que
pessoas que tem tudo para serem felizes, não estão satisfeitas com a sua
vida e queiram terminar com a mesma? Enquanto num continente tão distante, onde vivem miseravelmente, outros lutam diariamente para sobreviver? São questões que o fazem pensar, e Kurt depois de tudo o que passou nunca mais
poderá ser o mesmo.
Uma narrativa belíssima, com uma escrita sublime, chega a ser poética pela maneira
quase surrealista que nos descreve esta viagem física, mas também espiritual, que nos faz
reflectir sobre o que realmente importa na vida, pois damos valor e importância a pequenas
coisas que por vezes são tão insignificantes, quando devíamos estar felizes por
estar vivos e com aquilo que temos comparado com outros que nada tem, e que
vivem um dia de cada vez, mais um livro magnifico, comovente, tocante,
fascinante.
"Porque estás triste? .... Não devias. Só
os mortos estão tristes porque não podem levantar-se."
2 comentários:
Olá!
Confesso que este livro nunca me despertou muito a atenção, mas cada vez mais leio comentários positivos acerca do mesmo e começo a ficar cada vez mais curiosa :)
Beijinhos
Olá Nádia :)
também era um autor que não me despertava a atenção, mas depois de ler “Os Anjos Morrem das Nossas Feridas” fiquei rendida, recomendo mesmo,
beijinhos
Enviar um comentário