03/06/2014

Anna e o Beijo Francês (opinião)

"Anna e o Beijo Francês (Anna and the French Kiss 1)", de Stephanie Perkins (Quinta Essência)

Opinião (Ana Nunes):
Há já algum tempo que tinha curiosidade em ler este livro. Muitas pessoas, cujas opiniões eu tenho em conta, recomendaram-no. Mesmo assim, e tendo em conta que se trata de um YA (Young Adult - Livro para Jovens Adultos), e sendo um romance contemporâneo, confesso que ia um pouco de pé atrás.

A história em si é, basicamente, o que é contado na sinopse: Anna é obrigada, pelos seus pais, a frequentar a Escola Americana em Paris, durante um ano, e o livro fala sobre a sua vida lá e, especialmente, sobre o rapaz que ela lá conhece. Nada de surpreendente aqui!

Tenho de confessar que amei o início do livro. A Anna tinha uma voz muito própria, adolescente mas com garra, e a autora soube dar uns primeiros parágrafos que souberam captar-me. E durante o resto do livro a escrita da autora continuou agradável, por vezes até brilhante; romântica sem ser lamechas, colorida sem ser florida. Ou seja, muito bem conseguida.

Anna é uma protagonista com quem as raparigas e até mulheres mais adultas, se conseguirão relacionar. É bem retratada para a idade que tem mas não é uma daquelas jovens que só faz coisas que os adultos acham absolutamente ridículas e infantis. Se comete erros? Muitos! Mas isso torna-a mais rica, dá-lhe mais personalidade. Sobre o Étienne digo o mesmo. Pena é que não possa dar iguais referências às outras personagens, que pouco mais são que figurantes. Mas, ainda assim, no pouco que aparecem, transparecem como bastante ricas! A autora sabe criar personagens com carisma. Excepção feita aos anti-heróis. Grande excepção! Porque, sinceramente, a típica cheerleader que é uma bully; e o jeitoso que parece simpático e seduz a protagonista mas no fim se mostra um parvalhão; é cansativo de se ver e fez-me revirar os olhos.
Já agora, o pai da Anna era suposto ser o Nicholas Sparks ou quê? É que pela descrição parecia. :)

De volta à história, há pouco a dizer, já que todo o livro se centra à volta dos laços que se constroem entre a Anna e o Étienne. Mas aqui tenho de dar os parabéns à autora por ter conseguido criar uma relação aos poucos, dando-lhe alicerces, testando-a, tornando-a mais forte. Não foi insta-love e não foi uma relação simples. Disso, eu gostei!
Do que não gostei foi do facto de, a partir do momento em que a Anna conhece o Étienne, todas as outras pessoas na sua vida passarem a ser figurantes. Ou seja, deixaram de ter importância. Amigos? Alienou-os a todos! Os que tinha nos USA foram rapidamente esquecidos, e os que fez em França ficavam sempre em segundo lugar. E a família? Pior ainda! Foi quase totalmente esquecida, sendo mencionada ocasionalmente para queixinhas. Mas com o Étienne passou-se o mesmo. A Anna surgiu na sua vida e todos os outros deixaram de ter importância. Embora com ele não tenha sido tão dramático e notório, especialmente no campo familiar.
Ou seja, foi o típico romance em que parece que os pombinhos não precisam de mais ninguém para viver. Detesto isso! Especialmente quando a Anna começa a agir como se o Étienne fosse o seu tudo. Caramba, eles nem namoravam ainda e ela já dizia que ele era a sua "casa". A sério?

Ah, e mais uma coisa, a autora tinha mesmo de usar os clichés físicos?
Deixem-me exemplificar: a Anna é linda mas não se apercebe disso; têm de ser os amigos a dizer-lhe e ela fica incrédula. O Étienne tem o cabelo mais maravilhoso, os olhos mais cativantes, os lábios mais carnudos, os dedos mais perfeitos, o sotaque mais irresistível, a personalidade mais amistosa, e, apesar de ser baixinho, ninguém pega com ele por isso. Oh-Meu-Deus!
Eu dispenso isto nos romances. Claro que o rapaz mais perfeito fica com a rapariga mais perfeita.

Em suma, Anna e o Beijo Francês é um romance contemporâneo que consegue ser muito fofo, que me dá uma vontade enorme de visitar Paris, e que consegue criar uma relação credível e pela qual eu torci. No entanto negligencia as personagens secundárias e cai nos clichés físicos do costume, além de esticar demasiado o drama de eles não ficarem juntos por causa de o facto de os dois se negarem a dizer que se amam.
Um romance fofo com algumas cenas deliciosas e protagonistas memoráveis, mas que não me surpreendeu nem marcou.

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