29/06/2014

Palmeiras na Neve, de Luz Gabás (opinião)



Opinião:
África, quando ouço falarem deste país, é sempre com grande emoção e comoção que o fazem, pessoas que viveram e sentiram na pele algo que se tornou inesquecível para elas, nada se compara com o que lá viveram, vivências únicas e indescritíveis, quer pelas pessoas, pelo clima, pelas cores pela comida, os sabores, o cheiro que emana deste pedaço de terra exótica, inebriante consoante as suas palavras.
Palmeiras na Neve, um romance que pode dizer-se histórico, pois abrange um período da colonização espanhola na Guiné, no ano de 1953, onde o famoso cacau era comercializado.
A autora nesta narrativa conta-nos duas histórias, em dois lugares distintos, que além de serem distantes um do outro não podiam ser mais diferentes, na sua cultura, na religião, nos costumes da própria sociedade. Por isso a colonização travou tantos conflitos entre os nativos e os estrangeiros, foi algo conturbado, que pode ter sido pacifico numa dada altura, mas mais tarde resultou em guerra e na explosão de estrangeiros da Guiné.
Conhecemos a história dos dois irmãos Kilian e Jacobo, quando viveram numa fazenda com o pai a trabalhar no cultivo do cacau, e outra nos dias actuais, em que a filha de um deles descobre sem querer umas cartas que a levam a querer investigar o passado do tio e do pai.
E temos assim um romance que tanto gosto com saltos temporais, onde conhecemos a vida de dois jovens irmãos quando chegam à Guiné, a sua vida e trabalho na fazenda, a sua adaptação, as suas aventuras, num país despojado de tudo, das condições mais básicas, mas com uma imensa riqueza nos recursos naturais do café e do cacau, e na sua cultura, pois quem lá viveu não tinha vontade de partir nunca mais, o que será que torna este país tão único? Ainda gostava de sentir isso.
Depois temos o presente em 2003 em Espanha, onde Clarence a filha de Jacobo que depois da descoberta que fez, fica intrigada e resolve visitar o país, à procura de segredos que ficaram para sempre guardados e fechados, também ela vai viver uma experiência única ao visitar os mesmo lugares onde o avô, o pai e o tio viveram e trabalharam num período da sua vida.
Será que o que ela vai tentar descobrir sobre o passado do pai e do tio não mudará para sempre a vida de todos? Marcas vão ficar, pois feridas serão abertas e depois de se saber não há volta a dar.
Por vezes o melhor é não remexer no passado, mexer em velhas feridas pode resultar na descoberta de coisas que são melhor não se saber, todas as famílias guardam segredos, e a vida prossegue na mesma, mas Clarence não resiste.
Descobre uma história de amor proibido entre um estrangeiro e uma nativa, um dos irmãos, sempre viu os nativos como iguais para ele a única coisa que mudava era cor, o que não acontecia com os outros, uma paixão avassaladora que nenhum deles consegue controlar, uma relação condenada, impossível, que sendo descoberta levaria ao ódio, um inimigo poderoso capaz de matar....
No decorrer da leitura é impossível não pensar, no que faz as pessoas amarem este país? Um país onde a chuva tropical e calor excessivo faz com que as pessoas se sintam sempre coladas por mais que se refresquem, onde o perigo espreita em cada esquina, quer na forma de animais selvagens quer através do próprio homem, pois o ódio de alguns pelo facto de apoderarem das suas terras também os torna perigosos, mas o facto é que quem viveu num sitio destes fica agarrado, o país apodera-se da pessoa, quiçá pelo mistério que emana de si tão naturalmente através do seu exotismo.
As descrições são fabulosas, detalhadas, quer dos lugares onde se desenrola a história, quer dos personagens, do clima, do ambiente a autora fez um excelente trabalho, também em torno do mistério que envolve a vida dos dois irmãos, e do segredo guardado de um acto terrível cometido, que os acompanhará o resto dos dias, será que existe perdão para tal acto? Não.
Um romance muito bonito sem dúvida alguma, que nos fala de vivências e experiências da adaptação num país desconhecido, das fortes amizades estabelecidas, mas também de paixões e segredos que ao serem descobertos trazem memórias dolorosas que estavam adormecidas, mas não esquecidas, e que para os quais talvez não haja perdão.
Uma narrativa tão impregnada de cheiros, cores e sons tão próprios de África, um livro para ser saboreado, muito bom.

Pode ver o livro Palmeiras na Neve aqui
 
 

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