Gosto imenso quando
pego num livro e que logo nas primeiras páginas me faça perder a noção de tudo
o que me rodeia, e consiga manter agarrada à sua história até ao fim, foi o
que aconteceu com Últimos Ritos.
Baseado numa história
real na Islândia, no ano de 1829, Agnes Magnúsdóttir é acusada de assassinar dois
homens, sem ter hipótese de se defender é condenada à morte por decapitação,
sendo a última pessoa a ser morta desta forma no país. Como não havia prisões
na Islândia, Agnes tem que ser acolhida na casa de pessoas designadas para
tal, até à sua execução. E ao longo do livro vamo-nos apercebendo da pesquisa exaustiva que a autora fez.
Agnes é levada para uma
quinta distante e isolada de uma família com duas filhas adultas, a chegada
desta estranha à sua casa é inquietante,
o receio é palpável e normal pois trata-se de uma assassina, todo o seu preconceito é evidente.
E o mote desta desta
história é precisamente acompanhar Agnes nos seus últimos dias de vida.
Os capítulos estão
divididos, numa parte temos as ocorrências do dia a dia desta família
juntamente com a prisioneira a sua perspectiva, os seus receios, os seus medos, a sua reacção em
relação a uma pessoa que desconhecem e que não sabem se lhe poderá fazer mal,
dos vizinhos que acentuam ainda mais esses receios, noutra temos os
pensamentos, as reflexões, as divagações de Agnes daquilo que viveu, da sua
vida, que são partilhadas com o conselheiro espiritual que escolheu para a
acompanhar até à sua morte, e é através dele que vamos descobrindo os detalhes
do crime pelo qual Agnes foi acusada e desvendar toda a verdade, e que nos faz
questionar, e ainda a perspectiva do próprio conselheiro. À medida que se avança
na narrativa vamos tendo uma percepção de quem é realmente Agnes,
assim como da família que a recebeu.
E somos completamente
envolvidos através da escrita impecável da autora, tão fluída, a maneira como escreveu
este romance fez com que me sentisse
perto dos personagens, que visualizasse as paisagens agrestes deste país, onde é evidente a crueldade dos seres humanos,
que é descrita com intensidade e que se coaduna com todo o cenário frio e inóspito da Islândia.
A
tensão é palpável
durante toda a leitura, a ansiedade de chegar ao final e saber se
Agnes é ou não culpada, também as mudanças que ocorrem na relação entre a
prisioneira e alguns dos personagens no seio da família
surpreendem-nos, por vezes as pessoas mudam com a presença de outra
pessoa que as faz reflectir e chegar à conclusão que não se pode julgar
ninguém
sem se conhecer.
Os personagens estão muito bem construídos, frios, distantes, já Agnes apresenta-se como uma figura
enigmática, solitária, que nos atrai, pela qual sentimos empatia, e nos faz questionar sobre quem é afinal esta mulher, se
realmente é uma criminosa, sendo ou não, terá um fim que sabemos que é inevitável, e que depende somente da opinião dos outros.
Uma
narrativa sobre redenção, retratada de forma sombria, triste, melancólica,
comovente, que nos toca sobremaneira, é desconcertante, torna-se por
isso inesquecível, quer pela história
em si, quer pela escrita magnifica, sublime da autora, da qual gostei imenso.
Por norma não ligo
muito às capas dos livros mas esta atraiu-me imenso, a paisagem, a figura, acho
que se adequa.
4 comentários:
Viva,
Não conhecia o blogue, mas conto vir aqui mais vezes.
Terminei a leitura deste livro e gostei bastante, mas o que me deixa mais impressionado é mesmo o excelente comentário ao livro, muitos parabens, confesso que com a sinopse do livro me foi dificil comentar o que o livro tem para oferecer e eis que vejo este coemntário, muito bom :)
bjs e boas leituras
Olá,
Acabei de ler o livro e sem duvida um grande livro, alias pela sinopse que apresenta tive imensa dificuldade em comentar o livro, mas ao ler o teu comentário fiquei surpreendido, está muito bom, pelo que muitos parabens :)
E aquele final, foi mesmo muito bom ;)
Bjs, boas leituras e espero não ter comentado em duplicado :D
Muito obrigada pelo elogio :)))
Também já li a tua opinião e gostei muito, tens lá algumas frases muito pertinentes sobre esta história fascinante, beijinhos e boas leituras também
Odete Silva
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