07/07/2012

O Deus das Moscas, William Golding

Opinião:
Atenção, este comentário contém spoilers
“O Deus das Moscas” é uma obra perturbante!
Um avião despenha-se numa ilha deserta com crianças a bordo. O piloto morre, mas as crianças ficam ilesas. No entanto, encontram-se numa ilha deserta e há que sobreviver.
Destacam-se três crianças do grupo, são elas: Rafael, o Bucha (que nunca chegamos a saber o seu nome) e Jack. Rafael, destaca-se pela coerência e organização; o Bucha pela inteligência e Jack pela arrogância.
Conscientes de que sem adultos terão de ter regras de convivência e de higiene, Rafael, depois de eleito líder, tenta organizar o grupo de forma a manter a ordem, a sobrevivência e sobretudo a esperança. O Búzio que carrega e que todos respeitam é sinal de poder, a fogueira que tenta manter sempre acesa é o sinal da esperança, porque para sobreviver é essencial ter esperança. E assim, depois de organizados em “sociedade” eis que Jack (o mais arrogante) decide infringir as regras e criar um segundo grupo em que ele próprio é o líder. Um grupo desestabilizador, em que o objectivo primeiro é caçar, matar, matar!
Com estes dois grupos, William Golding mostra-nos a natureza humana na convivência, o que somos capazes de fazer para sobreviver. Quer seja salvando ou mesmo matando. Como um indivíduo é capaz de mudar de comportamento em função dos outros! O poder do grupo é bastante evidenciado aqui.
Costumamos dizer que as crianças não têm maldade e realmente não a têm quando nascem. Existe a chamada “idade da inocência”, no entanto esta é fortemente corrompida quando o pequeno ser interage com a sociedade.
Há uma frase que me marcou no livro e que é dita quando um oficial chega à ilha para salvar os rapazes. Ao ver o caos em que estão, é dito o seguinte: “(…) eu pensava, que um grupo de rapazes britânicos – sóis britânicos não é verdade? – seria capaz de fazer bem melhor do que isso.”
Esta é uma frase proferida por alguém que nunca passou por tamanha necessidade ou simplesmente nunca pensou no que a natureza humana é capaz de fazer para sobreviver. Ter de lutar para comer ou para manter uma simples fogueira acesa pode ser algo muito violento em condições extremas.
Uma frase vã, fria, desprovida de qualquer compaixão ou compreensão em contraste com os sentimentos de Rafael que naquele exacto momento estavam ao rubro – era a próxima caça dos seus amigos.

Uma leitura excelente!

1 comentários:

Ana C. Nunes disse...

Paula, acho que o livro é mesmo sobre isso: a corrupção da inocência e de como a necessidade de sobrevivência pode trazer ao de cima o "animal" do ser-humano.
Gostei muito deste livro, mas a verdade é que choca.