09/11/2012

Servidão Humana, Somerset Maugham

Opinião:
Este foi um livro que entrou para os melhores livros que já li até hoje!
Depois de pesquisar um pouco sobre a vida do autor percebemos que “Servidão Humana” tem muito de si, da sua vida, das suas paixões, dos seus sofrimentos. Uma obra profunda sobre o ser humano, sobre os seus sonhos, os seus objectivos e também sobre a coragem para os alcançar ou para desistir. Porque às vezes é também importante desistir.

Philip, é o nosso personagem principal, à volta do qual tudo gira nesta obra. Perde a mãe quando ainda é um menino e vai viver com o seu tio William – Vigário em Blacktable. Sentindo-se um estranho naquela casa e com aquele gente, este menino cria um mundo só seu e não deixa mais ninguém entrar. Comportamento este que lhe acompanhará até à idade adulta.

Ao receber uma educação severa e fria, Philip sente-se muito só, a entrada para a escola constituirá mais um buraco negro na sua existência. A sua deficiência (pé boto) irá chamar a atenção das outras crianças sobre si de forma negativa. É de realçar que Philip tinha uma infelicidade imensa pela sua deformação. Assim, é alvo de comentários maldosos por parte dos colegas, tornando-se mais tarde num adulto inibido, com falta de confiança em si e com baixa auto-estima. Porém é uma criança inteligente, de uma cultura geral superior aos seus colegas. Factor esse que nem todos os professores apreciavam. Neste ponto, Somerset tece uma crítica aos ensino no que diz respeito ao ensino adquirido por meio da transmissão do saber (prof/aluno) onde nada se questiona, apenas absorve-se! Ensino este que esteve em prática anos e anos!
Os professores modernos apreciavam o espirito crítico de Philip e viam nele um aluno cheio de potencial (transição do ensino que muitos não apreciavam).

É ainda em criança que corta relações com Deus, um Deus que tanto amava e venerava, mas que não lhe respondeu à sua suplica de lhe curar o seu pé boto! Quando esta ruptura acontece, Philip tem consciência que consegue apreciar melhor o meio que o rodeia, pois já não receia o castigo divino. Philip sente-se livre! (mais uma forte crítica, desta vez à igreja)

Na sua juventude, Philip é observador e torna-se presunçoso (na minha opinião), tudo o irrita e enoja. Tudo o atrai e repulsa! Por momentos pareceu-me um ser contraditório! Que não sabe bem o que quer! Por vezes tem “sede” de tudo e de um momento para o outro despreza tudo e todos à sua volta! Para se defender e para expor as suas ideias é capaz de magoar o outro e sente-se bem com isso! É como se tentasse contrabalançar a deficiência do seu pé com o “excesso” de inteligência sobre os outros. Com o passar do tempo Philip aprenderá a conter este impulso que lhe está tão entranhado!

Como jovem estudante que era, as dúvidas instalam-se sobre que estudos a seguir, tenta contabilidade, pintura e por fim ser médico. Mas não era rico e deveria viver com algumas privações, no entanto Philip era uma pessoa bondosa, muitas vezes pensava mais nos outros do que em si e acaba por gastar mais do que deveria, acabando por passar necessidades. Durante o seu percurso de estudante, passará fome, dormirá ao relento, é de salientar que Somerset é fantástico no que concerne a passar para o leitor as necessidades de Philip.
Nós conseguimos perceber o crescimento do personagem e a forma como amadurece. Será sempre sensível à sua deficiência, pois as humilhações que sofre em criança marcaram-lhe a personalidade, mas será um ser mais consciente dos seus actos.

Houve momentos durante a leitura que fiquei exasperada com o comportamento do personagem!  Apaixonado, sofre, dá tudo por amor e sabe que não receberá nada em troca senão ingratidão.
Philip toda a vida luta por estudar e ser alguém, por viajar e conhecer o mundo. Mas a vida vai ensinar-lhe que às vezes há objectivos mais simples e mais gratificantes do que conhecer o mundo. Muitas vezes “o mundo” está tão perto e não percebemos. Mas Philip perceberá!

Se é um livro de leitura obrigatória?
Para mim sem dúvida que sim!
Aconselho!

Opinião também publicada no blogue ... viajar pela leitura...

2 comentários:

Luís Miguel disse...

Parece ser um clássico intemporal e obrigatório, convenceste-me.

Odete Silva disse...

Eu gosto imenso deste autor, este livro e "O Véu pintado" são sublimes :)