04/04/2013

Imperfeitos



"Imperfeitos", de Scott Westerfeld

Opinião de Ana Nunes:
Embora não tão bom como Peeps (do mesmo autor), Uglies tocou-me de uma forma bem diferente. A sociedade aqui apresentada, tem muitos defeitos, mas também tem muitas coisas boas, o que mostra que não existe perfeição, apenas a ilusão da perfeição.
O que me espantou neste livro, foi a forma como o autor conseguiu mostrar como a sociedade molda os jovens e as suas ideias, de tal forma que o que é absurdo, lhes parece normal, e o que é normal, lhes parece abjecto (ou pelo menos aquilo que nos parece normal a nós).
A história fala de uma sociedade em que, aos 16 anos, todos os jovens são submetidos a extensas intervenções cirúrgica, para ficarem todos belos/perfeitos. Até essa idade, estão colocados à parte da sociedade e são chamados de feios/imperfeitos.
O autor consegue transmitir esta sociedade de forma tão competente, que em certos momentos, cheguei mesmo a acreditar, tal como a Tally, a nossa protagonista, que na verdade a sociedade dos lindos/perfeitos é que era a correcta. Só para verem como o autor consegue dar vida ao cenário e à mentalidade da época.
Assim, o grande ponto forte do enredo, é esta luta, pelo que é correcto ou não, pela vida das cidades, dos Perfeitos, e a vida livre dos Smokies.

As personagens, a meu ver, serviram mais como um veículo para essa ideia e o autor soube usá-la muito bem, embora isso tenha, por vezes, tornado difícil a ligação às personagens, enquanto indivíduos, e não enquanto idealismos. Na realidade gostei do David e até da Tally, mas a Tally é daquelas personagens que não sabemos se havemos de adorar ou odiar, isto porque ela passa o livro todo a mentir e chegou a um ponto em que o leitor não percebia porque ela continuava a mentir e isso irritava. Mas mesmo tendo em conta isso, a Tally foi, sem dúvida, uma personagem bem explorada e muito 'real'. Só tive pena que a Shay não tivesse o mesmo tratamento, mas acredito que na novela gráfica (Uglies - Shay's Story) isso seja solucionado.

Como já referi, a escrita do autor funciona muito bem e ele consegue fazer com que o leitor sinta o mesmo que as personagens, que pense como elas e até, por vezes, pondere se não faria o mesmo. Tendo já lido outros dois livros, de sagas diferentes, do autor, posso dizer que o tom é diferente em todos, mesmo que se veja a sua mão, ele adapta o estilo à história. 

Para finalizar, este foi um livro que li/ouvi com muito gosto, que me fez pensar muito e que embora esteja escrito para um público mais jovem, pode também ser desfrutado pelos mais adultos. O tema é, afinal de contas, mais actual que nunca e é fácil sentir empatia pelas personagens. O mundo criado pelo autor é muito interessante e bem explorado, ficando a vontade de ler a continuação muito em breve (ou não terminasse o livro com um grande cliffhanmger). 

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