Opinião:
Como o próprio titulo
indica o livro centra-se na vida do filho de Philomena Lee, Anthony,
acompanhamos a sua história a partir do seu nascimento e todo o seu percurso de vida em
adulto, um livro baseado numa história real.
Em 1952, na Irlanda
todas as mulheres jovens solteiras que ficassem grávidas tinham que dar os
filhos para adopção, pois a igreja achava imoral que ficassem com o filho do
"pecado praticado", por isso os bebés nasciam numa abadia, onde as mães podiam
ficar com eles durante um determinado período de tempo até as crianças
serem adoptadas. Casais vinham dos EUA para adoptar e o negócio era feito
através de generosos donativos, quer a mãe da criança quisesse ou não, não
tinha opção.
"Todas as crianças
enviadas para a América significam mais um donativo para a Igreja e um problema
a menos para o Estado."
Este negócio, este
comércio de bebés da parte da igreja
durou ainda muitos anos, sem que alguém colocasse um término ao assunto.
“Quando
Joe Coram pesquisou os números para entregar ao seu ministro, calculou que mais
de 4000 (4 mil) crianças ilegítimas de todos os cantos do país se encontravam ao cuidado
da igreja...”
E foi assim que Philomena Lee viu-se forçada a ficar sem o
filho, depois de estar na sua companhia na Abadia durante 3 anos. Foram
separados à força, Philomena não teve outra alternativa, a família não podia e não queria ajudar, e ela sozinha
nunca teria condições de o criar sozinha.
É uma leitura que não
se faz de animo leve pois revolta a maneira como as coisas eram feitas e os
filhos arrancados das próprias mães.
As mães tinham que
trabalhar no convento na cozinha, na horta, nas limpezas, fosse naquilo que lhe
ordenassem para poderem estar com os filhos um pouco do seu tempo livre e assim
usufruir da sua maternidade. Não usavam o seu nome de baptismo para não serem
identificadas, tudo era feito secretamente. Eram obrigadas assinar uma
declaração em como renunciavam e abdicavam de qualquer direito sobre a
criança ou bebé. Depois um dia de repente sem aviso prévio alguém chegava e levava o
filho ou a filha, uma crueldade para a criança que teria 3
anos e para a mãe serem separadas abruptamente.
Anthony nutria uma
amizade e um sentido de protecção por uma menina mais pequena que ele, a sua
amiga Mary, quando a mãe adoptiva veio escolher uma menina, não resistiu a
levar Anthony junto com Mary, pois ele tinha uma ar doce e cativante difícil de resistir e foi assim que começou a sua odisseia de vida numa terra distante
sem a sua família de origem com uns pais adoptivos, Marge e Doc e os seus 3 filhos já
existentes.
Começam por mudar o seu
nome para Michael (Anthony) e temos todo o seu percurso de menino na escola, na
universidade e mais tarde como jurista
principal do Comité Nacional Republicano no tempo de Reagan e Bush.
O livro aborda não só a
sua vida familiar e pessoal, mas também a sua carreira na politica.
A sociedade nos anos 70 e 80 era
uma sociedade cheia de preconceitos e quando surge o flagelo da SIDA em
que morreram centenas, sem que o governo se preocupasse em que se fizessem
investigações para encontrar uma cura para esta doença, tudo devido ao modo como ela
se transmitia, o partido que liderava condenava completamente os homossexuais,
portanto nada se fazia nesse sentido, a homofobia naquela época estava enraizada, isso via-se no comportamento
crítico e hostil das pessoas.
Um livro muito
interessante sobre o percurso de um homem que foi retirado de sua progenitora à
força e que nunca se conformou de não saber quem era a mãe e o porque de ela o
ter dado para adopção, na sua mente vaguearam sempre recordações que no fundo
não sabia se seriam reais ou não, pois tinha apenas 3 anos quando tudo
aconteceu, o facto de ter sido “abandonado”esteve sempre na sua mente,
regressou às suas origens duas vezes na tentativa de descobrir alguma coisa.
No fim do livro sabe-se
que a mãe Philomena Lee, também nunca se conformou com a sua perda e contrata um
jornalista para procurar o filho, e é baseado nessa pesquisa que se conhece
como foi a vida de Anthony, na América.
Muito bem escrito,
apesar das quase 500 páginas, ficamos presos a esta leitura, pois todo o percurso, as
voltas e reviravoltas da vida do filho de Philomena Lee é absolutamente absorvente, uma história admirável, extraordinária, muito rica em pormenores, espero em breve ver o filme que dá uma visão diferente do livro, mas que não deve ser menos
interessante. Recomendo, trata-se de uma narrativa excelente baseada em factos reais.
Pode ver o livro aqui
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