16/02/2014

O Filho Perdido de Philomena Lee, de Martin Sixsmith (opinião)



Opinião:
Como o próprio titulo indica o livro centra-se na vida do filho de Philomena Lee, Anthony, acompanhamos a sua história a partir do seu nascimento e todo o seu percurso de vida em adulto, um livro baseado numa história real.
Em 1952, na Irlanda todas as mulheres jovens solteiras que ficassem grávidas tinham que dar os filhos para adopção, pois a igreja achava imoral que ficassem com o filho do "pecado praticado", por isso os bebés nasciam numa abadia, onde as mães podiam ficar com eles durante um determinado período de tempo até as crianças serem adoptadas. Casais vinham dos EUA para adoptar e o negócio era feito através de generosos donativos, quer a mãe da criança quisesse ou não, não tinha opção.
"Todas as crianças enviadas para a América significam mais um donativo para a Igreja e um problema a menos para o Estado."
Este negócio, este comércio de bebés da parte da igreja durou ainda muitos anos, sem que alguém colocasse um término ao assunto.
“Quando Joe Coram pesquisou os números para entregar ao seu ministro, calculou que mais de 4000 (4 mil) crianças ilegítimas de todos os cantos do país se encontravam ao cuidado da igreja...”
E foi assim que Philomena Lee viu-se forçada a ficar sem o filho, depois de estar na sua companhia na Abadia durante 3 anos. Foram separados à força, Philomena não teve outra alternativa, a família não podia e não queria ajudar, e ela sozinha nunca teria condições de o criar sozinha.
É uma leitura que não se faz de animo leve pois revolta a maneira como as coisas eram feitas e os filhos arrancados das próprias mães.
As mães tinham que trabalhar no convento na cozinha, na horta, nas limpezas, fosse naquilo que lhe ordenassem para poderem estar com os filhos um pouco do seu tempo livre e assim usufruir da sua maternidade. Não usavam o seu nome de baptismo para não serem identificadas, tudo era feito secretamente. Eram obrigadas assinar uma declaração em como renunciavam e abdicavam de qualquer direito sobre a criança ou bebé. Depois um dia de repente sem aviso prévio alguém chegava e levava o filho ou a filha, uma crueldade para a criança que teria 3 anos e para a mãe serem separadas abruptamente.
Anthony nutria uma amizade e um sentido de protecção por uma menina mais pequena que ele, a sua amiga Mary, quando a mãe adoptiva veio escolher uma menina, não resistiu a levar Anthony junto com Mary, pois ele tinha uma ar doce e cativante difícil de resistir e foi assim que começou a sua odisseia de vida numa terra distante sem a sua família de origem com uns pais adoptivos, Marge e Doc e os seus 3 filhos já existentes.
Começam por mudar o seu nome para Michael (Anthony) e temos todo o seu percurso de menino na escola, na universidade e mais tarde como jurista principal do Comité Nacional Republicano no tempo de Reagan e Bush.
O livro aborda não só a sua vida familiar e pessoal, mas também a sua carreira na politica.
A sociedade nos anos 70 e 80 era uma sociedade cheia de preconceitos e quando surge o flagelo da SIDA em que morreram centenas, sem que o governo se preocupasse em que se fizessem investigações para encontrar uma cura para esta doença, tudo devido ao modo como ela se transmitia, o partido que liderava condenava completamente os homossexuais, portanto nada se fazia nesse sentido, a homofobia naquela época estava enraizada, isso via-se no comportamento crítico e hostil das pessoas.
Um livro muito interessante sobre o percurso de um homem que foi retirado de sua progenitora à força e que nunca se conformou de não saber quem era a mãe e o porque de ela o ter dado para adopção, na sua mente vaguearam sempre recordações que no fundo não sabia se seriam reais ou não, pois tinha apenas 3 anos quando tudo aconteceu, o facto de ter sido “abandonado”esteve sempre na sua mente, regressou às suas origens duas vezes na tentativa de descobrir alguma coisa.
No fim do livro sabe-se que a mãe Philomena Lee, também nunca se conformou com a sua perda e contrata um jornalista para procurar o filho, e é baseado nessa pesquisa que se conhece como foi a vida de Anthony, na América.
Muito bem escrito, apesar das quase 500 páginas, ficamos presos a esta leitura, pois todo o percurso, as voltas e reviravoltas da vida do filho de Philomena Lee é absolutamente absorvente, uma história admirável, extraordinária, muito rica em pormenores, espero em breve ver o filme que dá uma visão diferente do livro, mas que não deve ser menos interessante. Recomendo, trata-se de uma narrativa excelente baseada em factos reais.

Pode ver o livro aqui


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