16/04/2014

Longbourn – Amor e Coragem, de Jo Baker (opinião)



Opinião:
Sou fã de clássicos da literatura, e ler este livro contado do ponto de vista dos criados e a sua perspectiva sobre o seu trabalho em torno do bem estar e conforto da família Bennet de Orgulho e Preconceito é totalmente diferente, e apesar de no fundo saber como era, não deixa de ser surpreendente.
Em Longbourn, vamos conhecer um mundo à parte daquele a que nos habituamos a ler sobre a sociedade inglesa no século XIX, uma atmosfera que não tem nada a ver com as histórias dos donos das casas e de todas as suas comodidades.
Faz nos pensar quão injusta era a vida para estas pessoas que passavam a vida a servir os outros, pois não tinham outras oportunidades, nasciam pobres, não podiam fazer mais nada, por isso dependiam dos caprichos dos seus senhores, das suas ordens.
Levantavam-se de madrugada para preparar tudo, desde lavar a roupa toda à mão, amassar o pão e preparar todas as refeições, carregar água (pois não haviam instalações sanitárias), acender lareiras, enfim um sem número de tarefas, de trabalhos infindáveis, passavam o dia a trabalhar, sem parar, para servir os pais e as cinco filhas Bennet, era fisicamente desgastante. E um facto é que os senhores pouco ou nada sabiam sobre quem os servia.
A autora conseguiu e muito bem recriar o ambiente em torno dos criados, além de nos dar a uma perspectiva do trabalho de bastidores que eles faziam, também nos dá a visão daquilo que pensavam em relação aos senhores da casa e da vida que levavam, que no fundo não era vida, eram como escravos, apesar da escravatura ter sido abolida, não tinham vontade própria, não tinham liberdade de escolha, não podiam simplesmente sair e mudar-se, pois isso não era bem visto, tinham que se sujeitar uma vida ao serviço dos outros, trabalhavam, comiam e dormiam na casa sem nunca sair de lá.
Nesta narrativa destaca-se uma personagem, Sarah, treinada pela governanta  da casa a Sra. Hill, que serve as meninas Bennet, não era mal tratada pelas mesmas, lia os livros que lhe emprestavam, recebia vestidos que já não queriam, mas no fundo almejava outra vida para si.
Temos também o misterioso James, um criado que aparece na casa, vem auxiliar e muito nos trabalhos pesados, mas a sua vida está envolta em mistério, ninguém sabe nada sobre o seu passado.
E é através da jovem criada a Sarah que temos a visão do que se passa em Longbourn no andar de baixo, além de todo o trabalho árduo, também tinham os seus momentos de alegria entre eles, muitas vezes passados na cozinha, amavam, tinham as suas paixões e segredos escondidos, personagens estes que nos cativam logo de inicio, dos quais faz parte também Polly, uma ajudante ainda menina.
Longbourn é sem dúvida um relato comovente, cheio de pormenores, muito bem escrito, com descrições da época muito bem feitas, cenários e personagens muito bem conseguidos, transporta-nos para  a dura realidade do dia a dia daqueles que nasciam para servir, dá vida às personagens que não são realçadas na história de Orgulho e Preconceito. 
Um livro que nos deixa a pensar, que para uns usufruírem dos prazeres da vida outros tinham que sofrer. Pessoalmente gosto muito deste género literário, gostei muito desta narrativa, por isso recomendo.

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