Odete: Fale-nos um pouco sobre si.
Pedro Jardim: Olá a todos! Em
primeiro lugar gostava de agradecer à Odete e ao Blogue Destante a oportunidade
em me dar a conhecer a todos vocês, a quem ainda não me conhece, e falar-vos um
pouco sobre a minha obra. Falando um pouco sobre mim: nasci em Lisboa, tenho 39 anos e sou chefe de Polícia.
Licenciei-me em Sociologia, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da
Universidade Nova de Lisboa e estudei escrita criativa com Margarida Fonseca
Santos, João Tordo e o Pedro Chagas Freitas. Apesar de ter nascido em Lisboa,
foi no Alentejo, desde muito novo, que descobri o prazer das artes, porque
também pinto, e pela literatura. Venci o prémio Mais Literatura 2013 e já
editei as obras: As Crónicas do Avô Chico,
Chiado Editora (2011); A Senhora da
Tapada, Chiado Editora (2012); O
Dragão Rouxinol, Alfarroba Edições (2013); Gigante Gigantão, Edições Livro Directo, (2014) e agora O Monstro de Monsanto, com a Esfera dos
Livros (2015).
Odete: Como
surgiu a escrita na sua vida? E já agora como surgiu a ideia de
escrever um livro?
Pedro Jardim: A
paixão pela escrita nasceu desde muito novo, em Vila Viçosa, berço da poetisa
Florbela Espanca. Tudo me movia a escrever: os meus sentimentos, o calor do
Alentejo, as cores quentes, a vivência com os meus avós e as aventuras que
experienciei na minha infância. Depois fui crescendo e esse amor cresceu
comigo. Escrevia sobretudo prosa poética e pensamentos soltos, despegados. Só
recentemente, desde 2011, decidi escrever com o fim de editar. Essa ideia, a de
escrever um livro, surgiu com o falecimento do meu avô materno. Quis
prestar-lhe uma homenagem em forma de livro. Foi a maneira que encontrei para acalmar
a dor que sentia. Assim, de certa forma, eu gosto de acreditar que sim, o meu avô
ficará vivo, entre as páginas de As Crónicas
do Avô Chico. E todos os leitores terão a oportunidade de conhecer um
grande homem, um homem simples, que era poeta popular e de um coração enorme.
Odete: Publicou “O Monstro de Monsanto", onde é que se inspirou para
escrever o seu livro?
Pedro Jardim: O Monstro de
Monsanto é, apesar de já ter obra publicada, o meu primeiro romance. Se é
propositado o facto de ser um policial? Sim, claro que sim. Inspirei-me
claramente em tudo o que já vive e experienciei com a minha profissão. O facto
de ser chefe de Polícia e de ter o curso de investigação criminal ajudou
imenso. Tudo aquilo que relato no livro é, apesar de as situações serem
ficcionadas, verdade. Tem um grande cunho de verdade. Desde o ter um caso em
mãos para se investigar, explicar como se tenta recolher a prova, como se
processam alguns trâmites legais, como se relacionam os polícias, a linguagem,
tudo foi propositado. Tudo foi pensado para ser assim. Há uma forte
verosimilhança, pelo feed back que
tenho recebido dos leitores, na primeira parte do livro, quando retracto a cena
do assalto ao BES. Posso-vos dizer que tive de entrevistar os meus colegas (um
homem e uma mulher) que foram os primeiros a chegar ao local do assalto e que
libertaram 4 reféns. E tudo começou daí, tudo nasceu a partir desse relato. Inspiração
não me faltou e não me faltará também quando escrever outros policiais, porque
o livro O Monstro de Monsanto, melhor, as personagens de O Monstro de Monsanto ainda têm muito para dizer em futuras
investigações e em futuros trabalhos meus.
P: Como foi o percurso até ver o seu primeiro livro publicado?
Pedro Jardim: Eu sempre fui
estudante. Desde que me conheço que o sou e vou continuar a sê-lo. A minha vida
tem sido uma persistente formação contínua. Comecei a trabalhar com 16 anos
para ajudar os meus pais e não foi isso que me impediu de continuar a estudar à
noite e terminar o secundário. Vim para Lisboa e, quando ingressei na Polícia,
continuei a estudar e tirei vários cursos de especialização, entre eles: o
curso de investigação criminal. Cheguei a chefe de Polícia, decidi entrar na
universidade e tirar o curso de Sociologia. É claro! Mais tarde, quando me
confrontei com o facto de que teria de ter um percurso sério na escrita, lá fui
eu tirar uns cursos de escrita criativa. Não tirei um, tirei alguns. Se foram
suficientes? Diria que não. Aprende-se imenso, sempre. Os factores intrínsecos:
a minha própria vida, a minha predisposição, a minha ânsia de querer fazer bem,
de aprender. Mas considero que os factores que mais influenciaram o meu
percurso foram, sem dúvida, aqueles que estão ligados a esses cursos: àquilo que
se aprende e se nutre ao nível do “conhecimento”. É como desmontar o mundo,
fazer o pino, ou revirar as nossas ideias e pensamentos. E isso faz falta,
muita falta. Só depois decidi publicar.
Odete: Gosta de ler? Quais os seus autores favoritos portugueses e
estrangeiros?
Pedro Jardim: Quando era novo não gostava muito de ler. Escrevia, sim;
transportava tudo para o papel, também. Mas ler, não lia muito, tirando livros
de banda desenhada. Não lia, de facto, o que os outros escreviam. E depois, do
nada, e ainda bem que assim foi, de repente, senti uma necessidade enorme de
conhecer, de aprender mais, de ver o que não podia ver, de entrar em outros
mundos. Sabem, aquela sensação de ser transportado para outro lugar. E foi
então que se plantou em mim a paixão pela literatura. É por isso que, apesar do
pouco tempo que tenho disponível, não passo sem ler hoje em dia. Posso indicar
alguns autores de que gosto muito (portugueses): Fernando Pessoa (identifico-me
muito com ele), um clássico; João Tordo, Afonso Cruz e José Luís Peixoto,
contemporâneos; Margarida Fonseca Santos e Luísa Fortes da Cunha, literatura
para infância. Outros autores (estrangeiros): Nicholas Sparks, Joel Dicker,
Paula Hawkins (uma promessa no policial), Stephenie Meyer, Dan Brown, Ken
Follett, Paulo Coelho, entre outros.
Odete: Mencione um livro que o marcasse pela positiva.
Pedro Jardim: Tenho muitos, mas vou frisar este: As palavras que nunca te direi, de
Nicholas Sparks. Foi o primeiro livro que li “de fio a pavio”.
Odete: Existe algum autor que influencie a sua escrita?
Pedro Jardim: Há sempre autores que nos influenciam, há sempre um
pouco que fica, sobretudo daqueles que nos dão os seus ensinamentos. Isto, apesar
de cada um de nós ficar, diria, com uma impressão digital quando escreve. E
quando isso acontece é muito bom; é a forma de sermos identificados quando nos
lêem. Posso dizer que o João Tordo me influenciou muito na escrita de romance.
Tanto que me levou a tirar um curso com ele. Ele ajudou-me imenso a dar os
primeiros passos quando escrevi o meu romance de estreia, este que vos estou
agora a dar a conhecer, O Monstro de
Monsanto. Incentivou-me muito e o seu feed
back foi claramente positivo. Já na escrita para crianças, porque também
escrevo para crianças, como já referi, a Margarida Fonseca Santos foi a autora
que também me ajudou e que me influenciou quando comecei a escrever este
género. Tirei alguns cursos com ela e não me arrependo nada. Ela é a minha
capitã da fantasia, digo-o em todo o lado. Se hoje tenho o sucesso que tenho
com os meus livros infantis, junto da comunidade escolar e da criançada, em
grande parte o devo a ela.
Odete: Acha que é difícil ser escritor em Portugal? Ou sente que os leitores
estão receptivos aos autores portugueses?
Pedro Jardim:Posso dizer que é difícil ser escritor em Portugal. Isto
porque se tem de batalhar muito, tem de se trabalhar ainda mais. As editoras
estão a fechar as portas, mesmo aos autores mais conhecidos. Muitos passam
dificuldades, as pessoas nem sonham. Existem portugueses de grande valor, escritores
conhecidos e valorizados não só em Portugal, mas também no estrangeiro. Porém,
o meu ponto de vista prende-se com o facto de que temos valores que não são
aproveitados, que apesar de mostrarem valor, não são ouvidos, que não chegam
onde deveriam chegar. Muitos têm de pagar do seu bolso para editar. É difícil
dar o passo e ser reconhecido no mundo editorial e isso reflecte-se um pouco no
leitor, porque depende da oferta e a oferta que existe, que se dá mais enfâse é
estrangeira e não portuguesa. É mais fácil fazer-se uma tradução de um livro
com sucesso lá fora, do que apostar em novos autores. Quem escreve/tenta editar
sabe do que falo, sobretudo os escritores emergentes. Eu sei, depende do gosto
de cada um, depende do mercado, da moda, da “onda”; mas quando digo que se deve
dar oportunidade aos autores nacionais, quero dizer que existem pessoas que
devem ser lidas e que para muitos leitores não passam de perfeitos
desconhecidos, porque simplesmente não chegam às livrarias e quando chegam, só
estão em uma ou duas. Julgo que as oportunidades geram confiança e é essa
confiança que deve ser depositada nos autores nacionais.
Odete: Tem mais algum projecto literário em mãos neste momento? Se sim, pode
divulgar-nos um pouco sobre ele?
Pedro Jardim: Sim, tenho uma obra que vai ser lançada para meados
de Setembro. Será mais uma obra de literatura para infância: O Sapo Maltês. Vai ser mais um livro que
irei levar, conjuntamente com o Gigante
Gigantão, aos agrupamentos de escolas, externatos e colégios deste nosso
país. Espero, pelo menos, que tenha a mesma aceitação do Gigante. As crianças
adoram esse livro e continua a ser um grande, grande sucesso. Mas não tenho só
esse em mente; tenho pelo menos mais dois de literatura para infância e, como
já aflorei na resposta à pergunta anterior, já estou a escrever o meu segundo
romance policial. Isabel Lage viverá mais uma grande aventura. Uma enorme
investigação está a chegar. Preparem-se! Vai ter muita acção.
Odete: Para terminar, deixe uma mensagem aos nossos leitores.
Pedro Jardim: Vou deixar uma mensagem para aqueles que um dia sonham vir a ser escritor, que
desejam que o seu trabalho seja editado. Não é fácil ser escrevente ou
ambicionar vir a ser escritor. É muito difícil e tem de se lutar muito para se
ter alguma visibilidade e ter uma obra que não seja apenas mais uma, que de
certa forma marque algum tipo de diferença. Hoje em dia há muitas ferramentas,
muitos cursos, que há uns anos não existiam. Eu tenho apostado na formação em
escrita criativa; é uma mais-valia quando queremos fazer uma coisa mais séria.
Todos nós podemos ter imaginação, inspiração, contudo temos de possuir as tais
ferramentas de que falava – para não deixar entornar a água da fonte da
inspiração. Porque o talento pode existir, mas se não for moldado, lapidado,
nunca deixará de ser apenas um diamante em bruto. É esse o meu conselho,
apostem na vossa formação e tentem editar livros com editoras que se preocupem
de facto com os autores e que os ajudem a dar os primeiros passos no mundo
literário. Se o fizerem, façam-no para marcar diferença, senão correm o risco
de serem mais um. E agora sim, a minha mensagem especial para todos vocês:
nunca desistam dos vossos sonhos, são eles que nos mantém vivos. “Os sonhos não se ganham, conquistam-se.”
Arrisquem! Deixo-vos um forte abraço. Muito obrigado.
Odete - Muito obrigada
pela sua disponibilidade, a equipa do Destante deseja-lhe muito sucesso!
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