17/08/2010

a festa

A banda tocava sob um impressionante céu de estrelas artificiais, a sua variação de cores e intensidade era de tal forma rápida e forte que na minha retina ainda tenho imagens dessa "áurea boreal". O jogo psicadélico das cores que era reproduzido pelo técnico, que numa dança dedilhada mais parecia o Stieve Wonder, magoava-me o córtex cerebral.
O som aquele que ficou nos meus tímpanos durante o resto do dia seguinte, não parecei-a no momento inicial com tantos decibéis que pudesse perdurar tal efeito. O técnico que mexia e comandava todos os interruptores, switchs e comutadores na sua mesa, de dimensões enormes que mais parecia o seu sarcófago, fazia-o com tal destreza que esta tarefa só lhe ocupava uma mão na outra segurava o seu telemóvel, ao rito do seu corpo, que me parecia estar a filmar a banda ou então a gravar o seu som, somente, para posteriorizar o evento.
E de repente assim do nada a banda já actuava em palco, elevei o meu olhar, a confusão era total, luz, som, fumo, movimentos loucos no palco bateram ocamente no meu sistema sensorial e quase que o avariaram, segundos depois, já recomposto, comecei lentamente a percorrer o placo de norte para sul.
Mais a norte estavam os percussionistas, era um dueto, um "cara" que num português pouco fluente permanecia quase sempre sentado, oferecia as suas mãos aos tambores com uma dinâmica de se lhe tirar o chapéu O outro percussionista era um negão, caridosamente apelidado pela vocalista, loiro mais parecido com um jogador de futebol da segunda liga.
Bem ao lado destes estava o guitarrista, cabeleira farta, figura surgida de uma banda de metal puro e duro, mas com uma delicadeza de invisibilidade, passava despercebido neste rio de gente, bem no centro o baixista dedilhava com um verdadeiro guitarrista exuberante nos movimentos aos mais incautos este sim era um guitarrista de verdade, pulava, corria e dedilhava solos quase imperceptíveis a seu lado o baterista, no fundo do palco, no fundo do seu mundo, no fundo da música. O último músico trajava de um verde florescente tipo lâmpada incandescente era o teclista, um brutal homem de envergadura considerável
A primeira fila era preenchida pelos bailarinos dois machos e uma fêmea que, nestes tempos, em tudo faziam para representar o protótipo da sua raça, em palco não paravam um segundo, até as minhas vista, já cansadas, permaneciam acordadas com tal violência de movimentos, mas era vivacidade em nada era comparada com a vivacidade da vocalista uma explosão de energia que parecia, atingir, com particular incidência os adolescentes do sexo masculino com as borbulhas à flor da pele.
O público estava dividido em três fases, parecia um afatia de bolo em camadas, massa, chocolate com pedaços e a cobertura. A cobertura estava impregnada junto ao palco onde jovens e crianças davam os seus primeiros passos nas suas noitadas de farra sem o álcool à mistura, uma alegria genuína
A camada seguinte concentrava um público atento, uma mistura de gosto pelo abanico do esqueleto e atenção ao que se passavam à sua volta. Era uma camada dispersa sem o normal acotovelamento das multidões, o refúgio dos recentes pais que assim poderiam controlar as crias e ver alguma coisa do concerto.
A última camada deste delicioso bolo era a massa compacta onde os movimentos eram lentos e difíceis tal ordem era o número de pessoas em tentativas de movimentação contrastando com outra onde a sua fixação ao seu lugar era quase uma obsessão.
Personagem dignas dos melhores livros de terror, ficção, policiais e até romances deambulavam pelos espaços vagos deste bolo tentavam penetrar no palco os seus movimentos captavam a minha atenção por breves instantes, que de seguida entrava em normal observação.
imagem retirada daqui

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