Constantino Guardador de Vacas e de Sonhos é um livrinho ingénuo, puro, transparente, apaixonado. Alves Redol, um dos maiores vultos da literatura portuguesa do século XX apresenta-nos aqui um dos exemplares mais puros do neo-realismo português, no seu estado mais puro e naif.
Constantino é um menino como qualquer outro. Frequenta a escola primária, é inteligente mas prefere contar ninhos em vez de saber de cor os afluentes do Mondego ou do Guadiana. O único afluente que lhe interessa é o Trancão, que no seu sonho o levará ao Tejo e ao grande Mar. Constantino guarda vacas como quem guarda sonhos, transportando-os numa alma risonha que encara o futuro com aquela nuvem de sonhos que só a infância nos pode oferecer.
Para quem, como eu, cresceu no campo, ler este livrinho é uma bela viagem à infância; ou melhor, ao que de mais belo tem a infância no campo: os ninhos que se contam e cujo segredo se guarda como tesouro, o trepar às árvores como quem do alto vê o futuro, as aventuras no rio onde se aprende a nadar à custa de sustos e goladas de água, as travessuras nos quintais e, acima de tudo, aquele viver irmanado com a natureza, com os pássaros, as plantas, os animais domésticos, etc.
Nem a impiedosa palmatória, nem as más condições da vida no campo, impediam Constantino de ser feliz. Porquê? Porque ele tinha um sonho. Não interessa se o realizou; não interessa sequer se era realizável; o importante é que o guardou. Assim, por detrás de uma narrativa aparentemente ingénua, Alves Redol transmite-nos uma mensagem que devemos reter e recordar sempre: o sonho é que nos guia; o sonho é que nos faz viver.
Em resumo, um livrinho imperdível, de leitura muito agradável, numa linguagem simples do povo que somos nós; um testemunho cristalino das raízes mais profundas de onde todos nascemos: da terra-mãe.
Também publicado em http://aminhaestante.blogspot.com/
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