27/12/2010

Sunset Park - Paul Auster

Nova Iorque, 2008/2009. Vive-se o colapso económico da América pós-Bush. Numa casa abandonada vivem 4 jovens à procura de um futuro, mergulhados na angústia de um presente sombrio. Bing, Ellen, Miles e Alice, quatro vidas à procura de sentido.

Após cerca de 20 livros publicados, as personagens de Auster continuam a viajar pela vida à procura de uma identidade, de um sentido. Talvez a vida seja mesmo isso, uma procura incessante de algo. Não de um amor, de uma fortuna ou de um projecto. Apenas algo. Algo de indefinido a que se pode chamar um sentido, uma explicação ou uma identidade.
Neste seu mais recente romance, Auster apresenta-se perigosamente à beira da descrença. O seu cepticismo, a sua crítica mordaz à sociedade norte-americana, começam a dar lugar, nas suas últimas obras, à angústia, ao lamento profundo e ao pessimismo. Por toda a obra há um tom pessimista perante a vida; um Auster mais filosófico mas nitidamente mais triste
Mesmo as personagens mais bem sucedidas na vida, como Mary-Lee, não são felizes; há sempre uma insatisfação, uma procura frequentemente frustrante de algo. Uma fuga. Fuga que Ellen encontra no corpo e na pintura; Bing nas coisas velhas; Alice no cinema.
Bing Nathan procura consertar o presente ressuscitando o passado, no seu hospital das coisas velhas. Alan e Jake personificam um amor que conduz ao tédio no qual se dilui: o amor não dá felicidade quando não há desafios; quando não há esperança. Apenas rotina e sobrevivência. O drama da rotina, da vida gasta no trivial. É por isso que as personagens de Auster vivem inquietas. Como o autor.
Ellen é a imagem da solidão; o amor que não existe até surgir a esperança. A sexualidade reprimida. Não há futuro.
Miles é personagem principal que viveu o drama e a culpa de um trágico acidente do seu meio-irmão. É por isso que a vida dele é uma fuga. Uma fuga ao passado e ao presente, onde só Pilar representa a esperança que é a força da vida. Para trás terá de ficar essa velha e maior inimiga da vida: a culpa.
Morris, pai de Miles, proprietário de uma grande editora à beira da falência: o lamento por uma sociedade que não lê, uma sociedade que cultiva a ignorância.
Bing Nathan, personagem aparentemente feliz na sua vida “marginal”, mesmo sem nunca perder o seu peculiar bom humor e a sua força de espírito, o seu gosto pela vida, cria a sua própria insatisfação através de um sentimento perturbador: quando tudo o resto corre bem, o coração encarrega-se de procurar a infelicidade.
No entanto, a Beleza também existe em Sunset Park: a solidariedade entre os habitantes de Sunset Park; a tremenda lição de amizade que aí se vive. E a força que vem de dentro de quem nada tem: “eu tornei-me viciado na luta” (Miles).

(também publicado em http://aminhaestante.blogspot.com/)

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