08/03/2011

O preço inacreditável dos livros em Portugal

Que os livros em Portugal são caríssimos ninguém duvida. Mas hoje fiz uma experiência cujo resultado me deixou absolutamente chocado.

Não vou fazer comentários, sequer. Deixo-vos com dois prinscreens e tirem as vossas conclusões.

Num site português de vendas on-line:
Num site francês de vendas on-line:

... e não esqueçam de ter em conta, também, o poder de compra da população francesa, quando comparado com o nosso.

14 comentários:

Especialmente Gaspas disse...

Com preços destes só desmotiva quem gastava de ler mais... enfim...

Paula disse...

Manuel belo post!
É realmente uma vergonha! E nem escolheste um livro dos mais caros,
"O Equador" do Miguel Sousa Tavares que comprei na altura que saiu, lembro-me que foi à volta de 25,00€!!
Há um que vi há tempos que custava 35 acho. É "Sá Carneiro" de Miguel Pinheiro!
Os de segunda mão que comecei a comprar estão um pouco amarelecidos, mas em muito boas condições e foram 3,50 ;) (livro de bolso, nomeadamente O Fio da Navalha e O Fim da aventura e Fauto - Goethe- por 6,50 de capa dura) boas compras não foram :P
Abraço

Unknown disse...

Sem dúvida nenhuma, Paula, grandes compras.
Eu penso que em Portugal teremos todos de incentivar as publicações "de bolso" que tanto êxito têm, por exemplo em França. Recentemente, a Leya veios daruma grande "sapatada" neste sector e parece que já saiu uma colecção de bolso da Assírio e Alvim que promete. Penso que é por aí que o mercado deve caminhar.
PS- eu escolhi este exemplo mas todos nós podemos fazer a experiência com qualquer outro livro: na Amazon, em francês, são sempre mais baratos que em Portugal..

Anónimo disse...

Chatice!
Só sou capaz de ler em português.

Isabel

Laura disse...

Ora aqui está uma verdade.
E depois querem que se leia mais com preços destes... Um dia destes começo só a comprar edições online em sites como o the book depository ou então procuro lojas que vendam livros usados.
É única solução, basicamente...

Cat SaDiablo disse...

Podem ser sempre mais baratos do que em Portugal, mas a verdade é que também são piores. A qualidade de edição em Portugal é excelente. O papel é de excelente qualidade, e do mais caro, e o consumidor português rejeita o produto se assim não for.

Há também, além do que referiu o Manuel quanto ao poder de compra, a diferença gigantesca do poder da publicação em língua francesa, e nem falando na língua inglesa. Não em França, mas nos territórios de língua francesa. As tiragens são de milhões, e vendem por todo o lado, o que permite, como é óbvio, reduzir a margem unitária, porque o bolo final compensa. Esta é essencialmente a maior diferença entre as duas realidades, e por si só justificaria a diferença de preços.

Se além disso adicionarmos um papel que em Portugal é comprado a peso de ouro (e a meio do ano passado houve uma enorme crise de papel em Pt que pouca gente de apercebeu), e percentagens na ordem dos 30% na distribuição (Fnacs, Wooks, Modelos e Jumbos, etc...) dos livros que ficam para a distribuidora. Já para não falar dos impostos nacionais...
A verdade é que quando se analisam todos os factores a coisa não permanece assim tão linear. E existem diversos outros factores que influenciam o preço dos livros (traduções e direitos de publicação, por exemplo) e concerteza muitos outros que não faço ideia.

Agora, também não sou ingénua ao ponto de achar que livros de autores portugueses como Miguel Sousa Tavares e José Rodrigues dos Santos têm preços razoáveis. Para uma obra sem tradução e de autores tão populares, com garantia de retorno mais segura, é simplesmente de uma pessoa se sentir roubada. (é por isso que os compro todos em segunda mão)
Admito que grandes grupos editoriais como a Leya pudessem sem dúvida descer a sua margem de lucro baixando os preços.

Volta e meia compro livros em inglês porque de facto são mais baratos, mas não são todos. São os livros em paperback que são baratos, porque quando um livro sai no mercado inglês, sai em capa dura, e custa entre 15-20€. Passados meses sai a edição paperback e o preço desce. Em Portugal não temos hipótese de suportar duas edições do mesmo livro, e penso que até temos um compromisso entre capa dura e capa mole interessante na maioria dos livros.

Concordo com o Manuel, quando diz que o futuro do mercado editorial passa muito pelos livros de bolso. Já que é difícil baixar o preço do livro, tenta-se baixar o custo de produção. A razão pela qual só se têm feito edições de bolso de livros já publicados prende-se com as despesas de direitos, tradução, edição, revisão, etc, que se mantêm independentemente do formato. Só se aposta reduzir para 6€ nos livros que tenham tido algum retorno prévio.
O livro que exemplifica a custar 6,17€ é precisamente uma edição de bolso, que anda mais ou menos à volta do preços das nossas edições nesse formato.

É sem dúvida uma discussão que daria pano para mangas, e peço desculpa pelo testamento :P

Mas não deixo de concordar que os livros são cada vez mais um bem quase de luxo, e não o deveriam ser. Quando vemos o mesmo livro noutro país, muito mais barato, é de facto impossível não bradar aos céus.

Unknown disse...

Obrigado CatSaDiablo pelos esclarecimentos que nos ajudam a perceber melhor este fenómeno. De facto, a solução terá de passar pela redução dos custos; caso contrário não saimos da "pescadinha de rabo na boca": são caros, logo, há menos vendas, logo, têm de ser mais caros para dar lucro.
A Cat fala dos custos de tradução e de direitos de autor. Mas eu não acredito que a tradução fique mais barata em França que em Portugal. E os direitos de autor também serão os mesmos. Quanto ao preço do papel haverá tanta diferença? e pelo que conheço a qualidade do papel nas edições francesas não é muito diferente das portuguesas. O grande argumento será sem dúvida o volume de vendas. Mas também os gastos enormes com marketing e com margens de lucro de 30 por cento!

Cat SaDiablo disse...

Manuel, quando soube da margem das distribuidoras fiquei simplesmente chocada. E o pior é que, tirando as editoras com sistema de distribuição próprio, todas se têm de sujeitar.
Esta e outras coisas soube através de pessoas que trabalham em editoras e em tradução, principalmente em discussões no fórum Bang!

Quanto às traduções, de facto não sei se haverá diferenças significativas nos preços entre França e Portugal, e acredito que não (referia-me essencialmente às obras de língua inglesa). Quanto muito o tradutor francês até será melhor pago que o português, como em quase tudo :)

Quanto ao papel, sei que é de facto muito mais caro em Portugal, até porque é todo importado, e sei que as editoras têm muitas dificuldades com o papel (que é afinal de contas a sua matéria prima, porque as palavras só ganham vida no papel).

Por isso acredito, que além do volume de vendas, o principal inimigo do leitor português e das editoras (porque nenhuma editora deixaria de baixar preços se isso significasse vender mais) é, sei lá, o sistema em si do funcionamento da produção editorial? Além dos preços do papel, os abusos das distribuidoras e os impostos, não admira que estejamos a assistir a cada vez mais fusões de editoras em grandes grupos editoriais.
Mas o leitor é que sofre.

Sara disse...

Bom, devo dizer que de economias não percebo nada, mas lá que os livros são caros em Portugal são...A leitura não devia ser um luxo, mas infelizmente é. Uma pessoa que ganhe o ordenado minimo com contas para pagar pode lá pagar 25 euros por um livro... é um absurdo. Eu falo por mim, quando saiu o livro "os pilares da terra" fiquei entusiasmada porque romance histórico é o meu genêro predilecto..quando vi o preço... 25euros os dois volumes...um abuso!! Ultimamente tenho apostado na compra de livros em segunda mão que sempre são mais baratos e tento aproveitar as promoções...se pudesse lia os originais são a metade do preço. Paga-se bem caro as traduções em Portugal e nem sempre ficamos bem servidos.

Sinceramente não sei como se pode fomentar a leitura a estes preços...

cumps

slayra disse...

Cat, sei que as coisas são difíceis no panorama editorial português, mas as editoras nem tentam! Há imensas coisas que podiam fazer que acho (também não sou nenhuma especialista, claro, quem sabe se não estou a dizer uma grande parvoíce) que ajudariam.

Por exemplo, fazer mais estudos de mercado; géneros como a fantasia urbana e o romance paranormal são extremamente popular lá fora, mas parece-me (pela análise dos livros em PT expostos nas livrarias) que ainda há um certo preconceito no que a estes géneros diz respeito... vejo muito romance contemporâneo e histórico, obras mais "pretenciosas" digamos, mas só recentemente algumas editoras decidiram explorar este mercado da fantasia contemporânea, com resultados, pelo que posso ver, muito bons.

Com o novo acordo ortográfico, porque não expandir para outros mercados? Não sei se será muito viável, mas parece-me que li nalgum lado que era um dos objectivos do tal acordo. :p Não sei.

Quanto às edições, certamente que são "de qualidade" (pelo menos algumas, desculpem lá mas as da Via Láctea - Editorial Presença não são nada de especial e algumas da Gailivro também não e mesmo assim custam entre 16 e 18 euros), mas acho que se fossem um pouco menos ninguém se importava. Livros um pouco mais pequenos, mas compactos (estou a lembrar-me do "Shiver" da Maggie S. publicado recentemente pela editorial Presença que é um livro mais pequeno e que mesmo assim custa 18 euros... exagero!!! ) com capas de cartão "à la paperback" e sem as "orelhas" reduziriam um pouco os custos e eu ainda os compraria - pessoalmente. Eu sei que agora há edições de bolso, mas se custam entre 10 e 12 euros, não obrigado; continuo a ir ao The Book Depository.

Quanto aos "Hardcovers" custarem 18 a 20 euros no estrangeiro não é totalmente verdade - pelo menos em Inglaterra, segundo a minha experiência -. Tenho adquirido bastantes com preços entre os 11 euros e os 18 (só um que me lembre é que custou 18). Em média ficam a cerca de 12 a 14 euros, e não esquecer que são de capa dura! As nossas edições podem ser "de boa qualidade" mas muito raramente são de capa dura.

Basicamente, por mais que se diga que têm de se pagar as traduções - que muitas vezes não são assim muito famosas (e que os franceses tb têm) ou os direitos de autorização para traduzir (que os franceses e ingleses tb têm... mesmo obras americanas não podem ser lançadas sem mais nem menos na Inglaterra) continuo a achar que os preços dos livros em Portugal são um exagero.

Desculpem lá se estou a fazer pouco sentido, lol mas pagar mais de 20 euros por um livro é irritante. :(

Cat SaDiablo disse...

Slayra, concordo contigo! Pagar o que pagamos pelos livros é mais que irritante, é revoltante!

É claro que as editoras querem fazer dinheiro e aproveitam para cobrar 18€ por um livro que podia custar 15€ (o caso do Shiver, a Presença anda a lançar muitos livros nesse formato mais pequeno, mas diferença nos preços, que é, nada), aquilo que disse no comentário anterior foi apenas para estarmos um pouco mais informados e para podermos argumentar com conhecimento de causa (como já me aconteceu), e porque são factos reais da indústria editorial em Portugal.
Pode não parecer, mas os encargos de uma editora faz com que a margem de lucro por livro não seja assim tanta. Se me disseres que uma editora que esteja incluída no grupo Leya, ou uma Porto Editora, por exemplo, poderiam sem dúvida baixar os preços, não poderia concordar mais. Têm volume de negócio suficiente, e principalmente apoio "logístico" de distribuição, na minha opinião.

Quanto a "diminuir" a qualidade dos livros, retirando as badanas, com capas mais fracas, etc, achas que já não se lembraram disso? :P Lembraram-se pois, e não resultou. Porque na esmagadora maioria das vezes o leitor português (ou a pessoa que compra o livro) não gosta, e não fica satisfeito com o produto. Acredita que alguns estudos eles devem fazer, porque chegaram a esta conclusão.

Quanto aos géneros mais populares, não achas que eles estão a apostar nisso agora? É claro que há anos que é popular lá fora, mas tornou-se um fenómeno global depois do Crepúsculo, como todos sabemos, e a partir daí foi começar a ver as livrarias cheias de capas pretas e assim :P E a tendência do mercado vai continuar a ser essa.. a questão é que não vai ser por isso que o preço vai descer, e custa o mesmo editar um crepúsculo do que um romance mais pretensioso (até pode custar mais, porque os direitos da obra aumentam logo com a popularidade da dita), mas nós não vendemos 300 000 cópias dum livro, como o mercado de língua inglesa.

A diferença está essencialmente, e sempre vai estar, no volume de mercado. Costumo usar uma metáfora para esta situação: é comparar uma mercearia a uma cadeia multinacional de hipermercados. Metade do mundo compra livros em inglês, podem ter um décimo do lucro, que ainda têm 1000x mais.
Acho que só por aí não há mais discussão possível :D

Não pensem que estou aqui a defender as editoras e que acho que os preços são jeitosinhos. Nada disso!

Peço desculpa ao Manuel por estes comentários "paralelos" :P

Fernanda disse...

Olá Manuel,
Realmente uma das coisas que mais me irrita é o preço dos livros em Portugal. Por essa razão é que os mercados (e os blogs) de livros em 2ª mão proliferam! Não perco um!
Para além disso tento sempre comprar nas grandes superfícies, pois aí sei que é mais barato de certeza, do que Fnacs,Bertrands e Bulhosas. Mas mesmo assim, comparando com as edições noutras linguas... deixa-nos frustrados, sem dúvida.
Bom post, sim senhora!

slayra disse...

Cat, eu percebi o teu post anterior e concordo com muitas coisas nele pois realmente o mercado português não é muito apetecível. É pequeno e considerando que a maioria da população não tem hábitos de leitura não deve ser particularmente rentável. Mas há mercados internacionais para onde se poderia considerar expandir... para outros países de língua portuguesa? O_O Não sei se será possível, no entanto, mas não se pode negar que mercado há, agora se conseguimos lá chegar é outra história. A Orbit, empresa inglesa também vende livros em francês penso eu, que acho que vi uma capa francesa com essa marca algures. E a Planeta, os livros deles são muito caros, mas eles são uma empresa bastante grande, acho que também vendem livros em Espanha. Enfim...

Também tens uma certa razão acerca das pessoas não comprarem as edições se lhes tirarem certos "atributos". Foi conversa que já tive com alguns vendedores da Bertrand, e eles bem diziam que as pessoas não gostavam de edições de bolso e que não compravam e etc. As pessoas queixam-se muito dos preços mas depois não querem edições "mais rascas" (para mim, está mais na cabeça das pessoas do que outra coisa... algumas edições e estou aqui a lembrar-me dos livros dos Jogos da Fome da Presença, são bem foleirinhas... ). No entanto, os livros de bolso continuam a ser bastante caros (as edições de bolso da bertrand e sde são entre 10 e 12 euros...).

Compreendo as dificuldades do mundo editorial português, mas isto é um ciclo vicioso... se não se encontrarem alternativas aos preços altos, as editoras nunca vão sair do sitio. Afinal, porquê gastar 30 euros no livro do Ken Follet se posso gastar 8 na versão inglesa? Ou, se não se perceber inglês, olha não se compra... enquanto os livros forem produtos de luxo, as pessoas irão sempre ignorá-los a favor dos bens essenciais, porque é assim que tem de ser.

Unknown disse...

Cat, obrigado pelos comentários "paralelos" de que pedes desculpa :)

Cat, Sara, Fernanda e Slayra estou a seguir os vossos comentários com todo o entusiasmo e queria deitar mais uma acha na fogueira: estive a vasculhar os preços do mesmo livro em outros países. Aí vão os preços:
- Espanha (casadellibro.com): 10.95 € (19 em catalão)
- Inglaterra (amazon.uk): 4.18 £ (cerca de 5 euros, julgo eu)
- Itália (amazon.it): 6 €
- Alemanha (Amazon.de): 9.95 €
- Bélgica (kelkoo.be): 8 €

Aí têm.
Somos um país rico :)