17/07/2011

Os Buddenbrook, de Thomas Mann

Em "Os Buddenbrook", Thomas Mann descreve-nos a decadência e queda de uma família burguesa alemã ao longo de quatro gerações. Os Buddenbrook personificam a ascensão social e económica da classe burguesa na Alemanha da segunda metade do século IXX. A casa comercial com o mesmo nome confunde-se com a família, cuja ascensão e poder se baseiam sobretudo na hipocrisia. Tendo como objectivo primordial o desenvolvimento e fortalecimento da casa comercial, todos os membros da família servem esse desígnio, os sonhos e os objectivos pessoais são secundários. Nesse sentido, os homens da família deverão casar-se com mulheres pertencentes à mesma classe social, com fortuna semelhante ou superior. O dote conseguido ajuda a reforçar o património da firma e a importância social da família. É neste contexto que Thomas Buddenbrook, pertencente à terceira geração da família, e sendo o filho varão, toma o destino desta nas suas mãos. O cônsul Thomas Buddenbrook, na sua ascensão política, é eleito senador. Pessoalmente, o cônsul é obcecado pelo decoro e pelas aparências. Dedica-se com afinco à renovação do seu guarda roupa e gasta imenso tempo a vestir-se, a pentear-se, é como um actor que se prepara para entrar em cena. A sua concentração e esforço faz com que consiga comportar-se de maneira diferente com quem estivesse a falar. É este o seu caminho, o sacrifício que tem de fazer em prol do crescimento da sua casa comercial. Os negócios florescem, o património e o nome da família crescem, tudo parece estar a correr bem... Com o passar dos anos, um vazio interior apodera-se de Thomas e começa a pôr em causa as suas crenças e valores. É então que desperta para a leitura e, ao ler uma obra filosófica, fica como que iluminado, acredita na morte como fonte de libertação pessoal. Os seus sentidos despertam para a arte, particularmente para a música, esse mundo do qual a sua mulher e o seu filho já fazem parte e de onde esteve sempre afastado. No entanto, esse estado de iluminação e arrebatamento não duram muito e depressa põe de parte esses conceitos que pareciam dar um novo sentido à sua vida com medo de ser ridicularizado pelos seus pares. Depressa volta à sua antiga maneira de ser e o vazio interior torna-se mais profundo. O distanciamento com o seu próprio filho é latente, pese embora o seu esforço para moldá-lo para seu sucessor na firma. Ironicamente, este herda da mãe o gosto pela música, sendo dotado de saúde e espírito frágil não tendo qualquer gosto pelos negócios. Com o passar dos anos, o futuro é sombrio, vários membros da família morrem, a fortuna é dividida, não há mais ninguém capaz de tomar as rédeas da casa comercial. O fim da firma funde-se com o fim da família. Em conclusão, pode afirmar-se que o autor recorre ao realismo para fazer uma sátira à classe social de onde a sua própria família provém. As personagens são profundas e marcantes, o autor realça as suas lutas interiores, as suas dicotomias, os seus anseios, esperanças ou medos, através delas descobrimos a ironia, bem patente ao longo de toda a obra.

6 comentários:

Cristina Torrão disse...

É um clássico da Literatura Alemã, em que Thomas Mann dá expressão a uma dicotomia, que usa em, pelo menos, mais um livro, "Tristan" (título alemão): a saúde e a pujança física estão ligadas ao sucesso nos negócios; a fragilidade liga-se mais ao gosto pela arte.

O personagem Thomas vê-se nesse conflito, é a geração intermédia. O seu pai, com uma saúde de ferro, manteve o negócio da família; o seu filho, frágil e doente, não está em condições de o continuar. O próprio Thomas tenta-o, mas não se consegue livrar desse "vazio".

Paula disse...

Luís,
Nunca li Thomas Mann, gostei do teu comentário.
O que a leitura faz...e a importância que, por vezes, damos aos outros... sempre uma questão tão actual!!
Parece-me uma leitura bastante interessante.
Quem sabe um dia leio Thomas Mann (Há por aqui a Montanha Mágica)

dobra disse...

Como todos os livros de Thomas Mann: GENIAL.

MJ FALCÃO disse...

Um livro maravilhoso! Com Thomas Mann "aprendia-se" a pensar. Havia tanta coisa interessante... "Os Buddenbrook" e a "Montanha Mágica" são livros fundamentais, acho eu. Sei que me encheram a vida e ainda hoje os recordo. Creio que li a Montanha Mágica umas 3 vezes. E tenho saudades...
Ainda bem que se fala deles!
Abraço grande

MJ FALCÃO disse...

Desculpe, Paula, posso dar-lhe um conselho de amiga? Leia a MOntanha Mágica nestas férias. Deixe-se "levar" ... até ficar presa.
Um beijinho
o falcão

Paula disse...

MJ Falcão,
Humm, estou a ficar tentada...