Quando Douglas Preston chegou
a Florença para começar a trabalhar no seu novo romance, nunca pensou que os
seus planos se alterassem tão repentinamente. Tinha pensado escrever um
policial sobre o desaparecimento de um quadro famoso e muito antigo tendo como
pano de fundo a bela cidade de Florença, o berço do renascimento. Para iniciar
o seu trabalho de pesquisa, precisava de saber como funcionavam as forças
policiais italianas. Assim, foi aconselhado a contactar Mário Spezi, repórter
criminal do jornal La Nazione com uma
vasta experiência sobre o assunto. No meio de uma das suas conversas, Douglas
Preston ficou a saber que o local onde ficara a residir era famoso por diversas
razões, uma das quais por ter sido lá perpetrado um crime. Curioso, quis saber
mais acerca desse crime e Mário Spezi explicou-lhe que se tratava de um dos
duplos homicídios do chamado “monstro de Florença”, baptizado assim pelo
próprio Mário Spezi que tem seguido o caso desde o princípio, há já mais de
duas décadas. O monstro de Florença é um assassino em série que nunca foi
encontrado e o caso constitui o mais longo e dispendioso processo da justiça
italiana. À medida que fica a conhecer a história em pormenor, Douglas Preston
fica tão fascinado pelo caso que propõe a Spezi escreverem um livro sobre o
monstro de Florença. Esse livro é a procura de ambos pela verdade num caso que
atingiu proporções inimagináveis: Douglas Preston foi acusado de diversos
crimes, desde perjúrio a obstrução da justiça e Mário Spezi foi acusado de ser
o próprio monstro de Florença, tendo mesmo sido preso.
O que posso dizer deste livro
é que é viciante, é um policial que não se consegue para de ler e ainda por
cima baseado em factos verídicos e em que os autores são arrastados para a
própria história. A primeira parte é um relato cronológico e uma descrição detalhada
dos crimes. Mário Spezi foi o primeiro jornalista a tomar conhecimento do caso
e chegou mesmo a estar em alguns locais do crime sem que lhe fosse barrado o
acesso. De referir que estamos longe da era CSI, não havia exames de ADN e os
locais do crime não eram devidamente isolados. As próprias forças policiais
italianas, a polícia e os carabinieri competem entre si para
ver quem fica com os louros o que faz com que a própria investigação saia
prejudicada. A um nível mais elevado temos os juízes e procuradores à procura
da ascensão na carreira ao invés de procurarem a verdade em si.
Entre 1974 e 1985 foram
levados a cabo uma série de sete duplos homicídios. O modus operandi era sempre o mesmo: o assassino atacava de noite e
os seus alvos eram casais em carros estacionados nas colinas em redor de
Florença à procura de privacidade. No momento em que estes se encontravam mais
vulneráveis eram abatidos a tiro, primeiro o homem, depois a mulher.
Seguidamente, o assassino arrastava a mulher para fora do carro e mutilava-a.
A crescente pressão dos média
e da população em geral fez com que a polícia tentasse apresentar resultados a
todo o custo. A brutalidade dos crimes levou a população a um estado de
histeria tal que foram investigados mais de cem mil indivíduos. Vidas e carreiras são destruídas devido a denúnicias, na sua maioria infundadas. Suspeitos são
presos mas libertados passado pouco tempo em virtude de o monstro ter voltado a
atacar. Um crime anterior, cometido em 1968 parece estar ligado aos do monstro
de Florença, foi provado que a arma do crime é a mesma. Porém este crime está
resolvido e o autor confesso foi preso e condenado. Como foi possível então que
fosse utilizada a mesma arma? Spezi estava convencido que, se a arma fosse
descoberta, o monstro seria apanhado…
A investigação muda de rumo
consoante as mudanças de procuradores e investigadores e chega a seguir um
caminho de todo impensável: o monstro de Florença tem vários cúmplices que
praticam os crimes por encomenda e a mando de pessoas importantes da sociedade
florentina que participam em rituais satânicos!
O ponto alto do livro é, sem
dúvida, a entrevista com a pessoa que os autores acham que é o monstro de
Florença. Quando estão prestes a acabar o livro e quando a sua publicação está
para breve, surgem os problemas. Como a linha de investigação deles vai contra
a da polícia, e como no seu livro desmontam a linha de investigação oficial, podemos
dizer que compraram uma luta contra uma força poderosa. Douglas é acusado de
vários crimes e vê-se obrigado a sair de Itália. A casa de Spezi é vasculhada e
todos os seus documentos sobre o caso são levados pela polícia. É preso e fica
na solitária durante cinco dias sem ter acesso ao seu advogado, medida
excecional aplicada para crimes mais ligados à máfia italiana. Douglas, na
América nem quer acreditar no que está a acontecer, o caso tornou-se ele
próprio num monstro.
Este é um policial a não
perder, baseado em factos verídicos. Diz-se que Thomas Harris baseou a
personagem de Hannibal Lecter no Monstro de Florença.
Como diz Douglas Preston uma
das características intrínsecas do mal é a sua incompreensibilidade.
4 comentários:
Parece bastante interessante :)
Tenho que ler este livro :)
ja estou lendo ,muito bom !
e muito bom eu ja li ele uns dos melhores livros que ja li muito interessante
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