Iniciamos hoje uma nova rubrica no Destante.
Não se trata de crítica de cinema mas apenas de opiniões pessoais que iremos divulgando sobre os filmes que vamos vendo.
Abraham Lincoln é uma figura incontornável da história da
humanidade e toda a gente sabe, ainda que vagamente, a sua história. Isto, à
partida, pode ser encarado como um fator que favorece o sucesso do filme. Mas
parece-me que não é bem assim; o facto de o filme pegar numa história bem
conhecida é, pelo contrário, um desafio enorme que se colocou a Spielberg. Era
difícil surpreender. Mas o certo é que o grande mestre do cinema atual
conseguiu-o. Ele proporciona-nos um filme bem-disposto no meio de uma matança
de quase um milhão de pessoas. Consegue mostrar-nos um Lincoln inesperadamente
frágil, como qualquer ser humano: o homem acima do mito.
Por outro lado, o filme envolve uma enorme atualidade: para
além de uma explicação bem clara do impacto da guerra civil na América moderna,
ele transmite uma visão do poder político bem interessante: nem o grande
Lincoln foi capaz de ultrapassar o fantasma da corrupção; se bem que a mensagem
possa ser deturpada pela leitura fácil de que a corrupção é aceitável por uma
boa causa, o certo é que vai muito mais além: a corrupção é um mal quase
incontornável porque é indissociável do próprio poder.
Para além disso, o espetador sai da sala com uma convicção
bem clara: com ou sem corrupção, aquela é uma história de um tempo em que havia
políticos com ideais. Hoje e aqui, como estamos longe desse tempo!
Uma curiosidade: afinal quem mudou a história da humanidade,
ao abolir a escravatura foi Lincoln ou a mulher de Lincoln?
Nota 8/10
A ficha do filme no IMDB:
3 comentários:
Não podia estar mais de acordo.Contudo o que mais me surpreendeu foi aquela mente argumentativa de Lincoln, simultaneamente serena e forte, aquela tendência para usar o humor em situações dificílimas, o que evidencia o carácter de um líder inteligente e focado na sua causa.E que dizer do actor? O desempenho da sua personagem não deixa equívocos quanto ao merecimento de um Óscar.
Eu tinha para mim que o presidente Lincoln era um mito, uma figura inatacável, um Deus para os americanos. Não sabia que estivesse ligado a qualquer escândalo de corrupção.
Podem não acreditar mas fecharam a única sala de cinema que restava em Viana do Castelo, capital de distrito, ao que isto chegou...
Foi coisa pouca, Luís :) Segundo o filme (não sei se corresponde à realidade) Lincoln e seus partidários tiveram que oferecer uns "jobs" a alguns deputados da oposição para estes votarem a favor da abolição da escravatura. Nada que se compare com os roubos declarados de hoje em dia.
E essa de terem fechado o cinema em Viana é mais um exemplo da insanidade em que está a cair este país.
Abraço
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