14/03/2013

A Conspiração dos Fidalgos de Alexandre Rocha (opinião)

A Conspiração dos Fidalgos
de Alexandre Rocha

Edição/reimpressão: 2012
Páginas: 320
Editor: Ésquilo
ISBN: 9789899739697




Um livro notoriamente dividido em duas partes bem distintas, na primeira parte o autor, Alexandre Rocha explora a vivência de Miguel Herculano (personagem principal) num engenho de açúcar, os engenhos poderíamos associa-los a pequenas vilas de vida autómato. Assistimos ao crescimento do menino Miguel, filho do dono de um engenho que vai desfrutando daquilo que a vida lhe oferece, a sua curiosidade levam-no a descobrir e explorar os costumes dos habitantes da senzala mantendo contactos com a cultura dos escravos do engenho da Nossa Senhora da Conceição, esta atitude terá consequências que se manifestaram ao longo de todo o romance.

Uma segunda parte passada maioritariamente no reino, Lisboa, onde Miguel o herói da história, se envolverá na conspiração dos fidalgos de uma forma muito “inocente”, que dá o nome ao livro. Aqui a trama atinge picos assinaláveis, bem estruturada, bem delineada e com um toque de policial pelas entrelinhas, uma parte que adorei ler. Acompanhar Miguel nas suas aventuras é muito interessante, a sua amizade com Bocage e outras personagens estão bem conseguidas.

Um livro bem escrito de uma leitura fluída e agradável, A primeira parte foi a que menos me cativou, talvez pela sensação de repetição de ideias que em mim gerou.
A segunda parte muito mais elabora, a nível contextual, com um grau mais complexo na componente histórica.

No início, Alexandre Rocha, explora o moral uma constante luta entre o científico e a crença no espírito de Miguel que se pretende transpor para o leitor, deixando este decidir qual a melhor opção para si.
Uma componente crítica muito forte está presente, na segunda parte do livro, ao sistema judicial implementado na época e que pouco se modificou através dos tempos decorridos, uma crítica à nossa posição cultural? quiçá...
A multiplicidade de histórias que se passam no reino e a sua ligação com o passado de Miguel, são muito bem conseguidas.
Personagem bem elaboradas e contextualizadas.

É um livro onde a vida do Miguel dava isso mesmo... um livro, repleto de desgostos e tragédias mas sempre com aquele sabor que essa sorte um dia mudaria e Miguel teria o que todos nós desejamos: a sorte, o amor, a felicidade... é um constante agridoce este romance. Uma estreia muito boa deste jovem autor.
Um final muito interessante que vale a pena reler.

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Uma saudação especial ao autor Alexandre Rocha que se disponibilizou para debater o livro em conjunto como o “Clube Leitura Bertrand de Braga”, foi um debate enriquecedor para ambas as partes, e nós os leitores ficamos a saber pormenores do livro que poucos sabem. O Alexandre é que teve que suportar todos os nossos comentários (alguns menos bons) ao seu “bebé”, ser “pai” é assim.

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