Opinião:
Este foi um livro cuja leitura me deixou pensativa por algum tempo depois de a terminar. E pensativa porquê??
Porque li as primeiras 200 páginas sem sentir nada pelo personagem nem pelo enredo. Isto foi o que me aconteceu. O livro está muito bem escrito, mas ao longo da leitura comecei a pensar que não me prendia, parecia que lia de forma linear sempre à espera que algo acontecesse e nada acontecia de facto.
Nas últimas 5 páginas, aconteceu o inesperado – agarrei-me ao livro, senti naquelas páginas o que não tinha sentido nas duzentas anteriores. Naquelas cinco páginas olhei a angústia, as dúvidas, os reencontros, as saudades e principalmente a falta de respostas para com aqueles personagens que ao longo da narrativa eu não havia sentido nada…
O que quero dizer é que no fim, todo o romance começou a fazer sentido. Tive de reler algumas partes, pensar noutras para então captar a mensagem das palavras que compõem este livro .
A história em si, fala de um músico de jazz - toca contrabaixo - que depois de algumas dificuldades como pessoa e como profissional decide tirar um ano sabático e ficar junto da família em Lisboa. Porém, ao invés de se organizar e de encontrar a sua paz interior, Hugo vai encontrar uma parte de si (o seu possível gémeo) que lhe multiplicará os problemas. Hugo passará a ser uma pessoa incompreendida pelos outros e até por si mesmo. O seu mundo começa a deixar de fazer sentido quando se sente traído, roubado e até abandonado por aqueles que mais ama.
Este é um livro que trata na sua essência a música, das composições, da paixão e das frustrações que um músico pode sofrer por não conseguir atingir os seus objectivos ou simplesmente por não ser entendido pelos outros. Talvez também porque quem ama o que faz, muitas vezes, não se consiga fazer entender…
O amor pelos instrumentos musicais está aqui também patente. O contrabaixo é aquele que adquire maior relevo, talvez porque João Tordo também toque este belo instrumento que se assemelha à figura feminina … há outro elemento que achei curioso e que tem a ver com a vida do autor - nesta história, a acção principal gira à volta de gémeos e João Tordo também é gémeo…
No final tive a sensação de que esta foi uma história que o autor escreveu essencialmente para si e para os que partilham o gosto pela música, por esta arte que às vezes é estranha aos outros. Estranha não pelo facto dos outros não gostarem de música, mas por não estarem inteirados das barreiras que se colocam e que se estabelecem para quem inicia e tem pretensões de chegar mais longe. Sim, estou a falar de música neste caso concreto, mas também poderia estar a falar da escrita… dos novos autores… ou de muitas outras coisas mais, porque barreiras e obstáculos é o que não tem faltado ultimamente a quem quer vencer!
Opinião também publicada no blogue ... viajar pelaleitura ...
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