CRÓNICAS
DE UM PORTUGAL DEMASIADO PORTUGUÊS
JEREMIAS
– PARTE IV
Como sabem, trabalhei como
empregado de limpeza num tribunal. Foi porreiro até, mas se nunca
tivesse saído de lá não teria sido futebolista, repositor,
super-herói, actor e polícia de trânsito.
Há males que vêm por bem. Da
mesma forma que não teria visto as gajas que vi, porque emprego é
sempre sinónimo de gajedo. Não me levem a mal, gajas que me estão
a ler. É, aliás, um elogio que faço à fêmea da espécie humana.
Gajas são para mim como o sol é para os girassóis: onde quer que
elas estejam eu volto-me sempre na sua direcção. E se a gaja for
muito boa somos muitos girassóis. Mas eu sou sempre um girassol,
seja que gaja for que atravesse o meu caminho, excepto se for uma
gaja não gaja - não me queria repetir relativamente a este assunto,
mas tenho de deixar esta situação bem clara.
Agora que penso nisto, maldito
óleo de girassol, sempre que o vejo à venda sinto os meus tomates a
serem triturados numa máquina qualquer. Felizmente isso ocorre
apenas na minha cabeça.
Girassol-gaja-gaja-girassol.
Já se fartaram do tema? Não?
Pois bem. Posto isto, claro que Van Gogh é o meu ídolo. Tentei ser
pintor em tempos, mas não deu. Não havia pincel que desse azo ao
meu talento e acabei por desistir. Relembrando o Van, fico com a
certeza de que mutilou a orelha não por falta de girassóis mas
devido à escassez de sol, ou seja, metaforizando, por falta de
gajas, pois toda a gente sabe que o céu da Holanda está sempre
nublado - se calhar nem os pintou em solo holandês, mas ele também
não batia muito bem dos miolos. Às vezes as pessoas, quando visitam
Amesterdão, pensam que está sol, mas isso não é sol, são as
drogas a fazer efeito. E fala-se tão bem sob o efeito das drogas. Eu
que o diga que depois ter salvo a ministra Graça fiz um discurso de
três horas na sua festa de salvamento.
Ai
a Graça... aquele cocktail
químico ambulante... que saudades...
Mas dissertava eu acerca do meu
emprego no tribunal.
Consegui-o numa altura em que não
andava muito atarefado. Tinha-me fartado de ver os carros a passar,
de espreitar as vizinhas lésbicas que moravam em frente, de contar o
número de vezes que cada nalga de cada gaja que se exercitava no
parque subia e descia com o ritmo da corrida, de passar à porta dos
cabeleireiros na esperança de chocar contra uma brasileira e de
danificar as rodas dos carrinhos dos supermercados para depois ver as
gajas estamparem-se contra as prateleiras. Sabem, era muito
estimulante vê-las a tentar dominar o carrinho como elas me tentam
dominar enquanto ponho os meus músculos a trabalhar. Para além
disso, as saias sempre levantavam um bocadinho e os decotes ficavam
mais à vista. Em casos extremos eu até ia dar uma mãozinha.
Adiante.
Como
andava entediado resolvi assistir a julgamentos. Um show.
Como dizem que o primeiro é sempre o melhor, ou pelo menos o mais
marcante, nunca o esqueci. O caso era sobre um gajo da Biquinha,
chamado Jaime, que era defendido por uma gaja muito boa, a Rosalina,
que mais tarde acabou por deixar o direito para se dedicar ao sexo na
internet. Comi-a treze vezes, virtualmente, claro.
Nessa sessão o gajo passou-se e
queria bater em toda a gente. Eu impedi-o, ajudando os agentes de
segurança - foi quando descobri que queria ser polícia. Daí em
diante passei a ser visto como um herói, ainda longe de ser super.
Passado uma semana fui contratado
para empregado de limpeza. Isto porque não havia mais nenhuma vaga,
porque senão dava-se um jeito e talvez pudesse chegar a ser
secretário, guarda ou até mesmo juiz.
No entanto não tinha muito jeito
para limpar, a não ser as gotículas de suor das gajas. Mas não
podia usar a língua para remover o pó das cadeiras, dos
computadores, dos arquivos e das mesas. Por isso fui-me desleixando.
Joguei
à paciência na mesa do juiz, vesti as batinas enquanto assistia aos
programas da manhã sem roupa por baixo, acedi aos
e-mails
dos doutores e namorei com a Rosalina à distância.
Ah e vasculhei pastas de casos
encerrados ou por encerrar.
E isso foi divertido, deveras
divertido.
As coisas que fiquei a saber...
Qualquer dia abro o jogo, assim que arranjar emprego nos serviços
secretos para que não me persigam. Mas posso levantar um pouco o
véu. Descobri, por exemplo, que há suspeitas que a maçonaria foi
criada em Mação e que o próprio George Washinghton - famoso mação
- ia lá anualmente como outros vão a Fátima; que Fátima é
considerada o centro do universo pelos alienígenas mais avançados;
que a descendência da monarquia portuguesa é alienígena; que a
monarquia não era liderada por um rei mas sim pelo seu animal de
estimação; que os Estados Unidos da América são uma espécie de
monarquia camuflada em democracia e que o tom de pele do actual líder
é fruto de um acaso genético; que o cão de água português que
vive na Casa Branca manda nesse país, logo manda no mundo.
Não digam a ninguém, mas acho
que Portugal é mais do que aquilo que querem fazer crer.
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