10/10/2013

CRÓNICAS DE UM PORTUGAL DEMASIADO PORTUGUÊS


CRÓNICAS DE UM PORTUGAL DEMASIADO PORTUGUÊS


JEREMIAS – PARTE IV

Como sabem, trabalhei como empregado de limpeza num tribunal. Foi porreiro até, mas se nunca tivesse saído de lá não teria sido futebolista, repositor, super-herói, actor e polícia de trânsito. 
Há males que vêm por bem. Da mesma forma que não teria visto as gajas que vi, porque emprego é sempre sinónimo de gajedo. Não me levem a mal, gajas que me estão a ler. É, aliás, um elogio que faço à fêmea da espécie humana. Gajas são para mim como o sol é para os girassóis: onde quer que elas estejam eu volto-me sempre na sua direcção. E se a gaja for muito boa somos muitos girassóis. Mas eu sou sempre um girassol, seja que gaja for que atravesse o meu caminho, excepto se for uma gaja não gaja - não me queria repetir relativamente a este assunto, mas tenho de deixar esta situação bem clara.
Agora que penso nisto, maldito óleo de girassol, sempre que o vejo à venda sinto os meus tomates a serem triturados numa máquina qualquer. Felizmente isso ocorre apenas na minha cabeça.
Girassol-gaja-gaja-girassol.
Já se fartaram do tema? Não? Pois bem. Posto isto, claro que Van Gogh é o meu ídolo. Tentei ser pintor em tempos, mas não deu. Não havia pincel que desse azo ao meu talento e acabei por desistir. Relembrando o Van, fico com a certeza de que mutilou a orelha não por falta de girassóis mas devido à escassez de sol, ou seja, metaforizando, por falta de gajas, pois toda a gente sabe que o céu da Holanda está sempre nublado - se calhar nem os pintou em solo holandês, mas ele também não batia muito bem dos miolos. Às vezes as pessoas, quando visitam Amesterdão, pensam que está sol, mas isso não é sol, são as drogas a fazer efeito. E fala-se tão bem sob o efeito das drogas. Eu que o diga que depois ter salvo a ministra Graça fiz um discurso de três horas na sua festa de salvamento.
Ai a Graça... aquele cocktail químico ambulante... que saudades...
Mas dissertava eu acerca do meu emprego no tribunal.
Consegui-o numa altura em que não andava muito atarefado. Tinha-me fartado de ver os carros a passar, de espreitar as vizinhas lésbicas que moravam em frente, de contar o número de vezes que cada nalga de cada gaja que se exercitava no parque subia e descia com o ritmo da corrida, de passar à porta dos cabeleireiros na esperança de chocar contra uma brasileira e de danificar as rodas dos carrinhos dos supermercados para depois ver as gajas estamparem-se contra as prateleiras. Sabem, era muito estimulante vê-las a tentar dominar o carrinho como elas me tentam dominar enquanto ponho os meus músculos a trabalhar. Para além disso, as saias sempre levantavam um bocadinho e os decotes ficavam mais à vista. Em casos extremos eu até ia dar uma mãozinha.
Adiante.
Como andava entediado resolvi assistir a julgamentos. Um show. Como dizem que o primeiro é sempre o melhor, ou pelo menos o mais marcante, nunca o esqueci. O caso era sobre um gajo da Biquinha, chamado Jaime, que era defendido por uma gaja muito boa, a Rosalina, que mais tarde acabou por deixar o direito para se dedicar ao sexo na internet. Comi-a treze vezes, virtualmente, claro.
Nessa sessão o gajo passou-se e queria bater em toda a gente. Eu impedi-o, ajudando os agentes de segurança - foi quando descobri que queria ser polícia. Daí em diante passei a ser visto como um herói, ainda longe de ser super.
Passado uma semana fui contratado para empregado de limpeza. Isto porque não havia mais nenhuma vaga, porque senão dava-se um jeito e talvez pudesse chegar a ser secretário, guarda ou até mesmo juiz.
No entanto não tinha muito jeito para limpar, a não ser as gotículas de suor das gajas. Mas não podia usar a língua para remover o pó das cadeiras, dos computadores, dos arquivos e das mesas. Por isso fui-me desleixando.
Joguei à paciência na mesa do juiz, vesti as batinas enquanto assistia aos programas da manhã sem roupa por baixo, acedi aos e-mails dos doutores e namorei com a Rosalina à distância.
Ah e vasculhei pastas de casos encerrados ou por encerrar.
E isso foi divertido, deveras divertido.
As coisas que fiquei a saber... Qualquer dia abro o jogo, assim que arranjar emprego nos serviços secretos para que não me persigam. Mas posso levantar um pouco o véu. Descobri, por exemplo, que há suspeitas que a maçonaria foi criada em Mação e que o próprio George Washinghton - famoso mação - ia lá anualmente como outros vão a Fátima; que Fátima é considerada o centro do universo pelos alienígenas mais avançados; que a descendência da monarquia portuguesa é alienígena; que a monarquia não era liderada por um rei mas sim pelo seu animal de estimação; que os Estados Unidos da América são uma espécie de monarquia camuflada em democracia e que o tom de pele do actual líder é fruto de um acaso genético; que o cão de água português que vive na Casa Branca manda nesse país, logo manda no mundo.
Não digam a ninguém, mas acho que Portugal é mais do que aquilo que querem fazer crer.


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