Opinião:
O Cerco de Leninegrado ocorreu
durante a Segunda Guerra Mundial, durou cerca de 900 dias, de 8 de Setembro de
1941 a 27 de Janeiro de 1944. Mais de um milhão de pessoas morreu.
“O objectivo dos nazistas era selar a cidade e matar de inanição a toda a população
civil, dois milhões e meio de pessoas. Incluídos meio milhão de crianças.”
Apesar de já ter ouvido
falar e lido algumas coisas sobre este terrível episódio negro durante a
Segunda Guerra Mundial, em que cerca de 3 milhões de pessoas ficaram
prisioneiras na cidade de Leninegrado,
quando os alemães cercaram a cidade, confesso que não estava preparada para ler
os relatos deste livro, é preciso ter o estômago forte para aguentar ler sobre
tantas atrocidades cometidas.
O autor e historiador
Michael Jones baseou-se em impressionantes testemunhos de sobreviventes e em
relatos encontrados em diários, pinturas e desenhos, ou seja em factos reais e
dá-nos a conhecer os horrores que milhões de pessoas passaram ao ser privadas
das necessidades básicas para sobreviver prisioneiras na sua própria cidade.
Um livro que nos faz
ver a crueldade sem precedentes do homem sobre outros seres humanos, o cerco
impenetrável dos alemães fiz com que uma cidade inteira sofresse com a
guerra, mas ainda pior, que tentassem sobreviver no meio do caos, em condições
miseráveis, com fome, que fez com que muitas pessoas fossem
levadas a praticar canibalismo, (no
mercado negro vendia-se carne humana), ninguém estava seguro
ao andar na rua sozinho, pois podia ser apanhado por canibais, acrescentar a isto as doenças, as epidemias, tudo debaixo das intempéries de um frio
extremo, em que chegavam a estar 40 graus negativos, sem electricidade, sem fonte
de calor algum.
A fome era tanta que as
pessoas comiam erva, ferviam papel das paredes, os cintos de couro, os livro e
outras coisas mais. Para enganar o estômago, inacreditável. Mas
matar à fome fazia parte do plano macabro, dos objectivos de Adolf Hitler.
“As
pessoas estão tão enfraquecidas da fome que a morte lhes é completamente
indiferente. Morrem como se adormecessem. Esta gente semimorta, que ainda anda
por aí, já nem dá atenção a quem morre. A morte tornou-se um fenómeno do
quotidiano, e as pessoas habituadas a elas. Estão apáticas, sabendo que este é
o destino que as espera se não for hoje, amanhã. Quando saímos de casa de manhã
encontramos cadáveres na rua. Ficam ali durante muito tempo, porque não há
ninguém para os levar.”
Durante a leitura deste
livro, vamos emergindo nestes relatos dolorosos, parei muitas vezes e pensei
como era possível que tais actos bárbaros possam realmente ter acontecido, parece que estamos a ler um daqueles
contos de terror, e não algo real que aconteceu mesmo, é inimaginável para
o ser humano comum, e tudo isto porque? Por motivos de ódio ideológico e racial,
homens que fazem parte da história da humanidade como verdadeiros assassinos,
como foi Hitler.
É verdade que a guerra
pode trazer ao de cima os piores instintos num ser humano, quando luta para
sobreviver, mas também faz sobressair o melhor que há nas pessoas, a bondade
para com os outros, o heroísmo, a vontade de sobreviver a tantas atrocidades, e
foi no meio deste horror que o autor também destaca como o ser humano consegue através
de muita força de vontade vencer adversidades do tamanho do mundo, pois
relata-nos casos de pessoas que sobreviveram graças à seu enorme vontade
que os fez sair vitoriosos, e ainda outros que mesmo no limite das suas forças
tinham actos de compaixão para com o próximo.
Uma narrativa com uma
escrita tão cheia de detalhes vivos, faz com que não seja uma leitura fácil, é um
livro perturbador e muito doloroso de se ler, mas que precisava ser escrito sem
dúvida alguma, são páginas negras que fazem parte da humanidade e que tem de
continuar a ser lembradas e recordadas, para que não se volte a repetir nunca
mais. Um livro a não perder, que todos deviam ler.
Michael
Jones teve acesso a este espólio, falou com sobreviventes e traz-nos um relato
de viva voz da extrema crueldade e da suprema bondade que se revelam quando a
vida de todos os dias mergulha no mais absoluto horror.
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