23/12/2013

O Cerco de Leninegrado, de Michael Jones (opinião)



Opinião:
O Cerco de Leninegrado ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial, durou cerca de 900 dias, de 8 de Setembro de 1941 a 27 de Janeiro de 1944. Mais de um milhão de pessoas morreu.

“O objectivo dos nazistas era selar a cidade e matar de inanição a toda a população civil, dois milhões e meio de pessoas. Incluídos meio milhão de crianças.”

Apesar de já ter ouvido falar e lido algumas coisas sobre este terrível episódio negro durante a Segunda Guerra Mundial, em que cerca de 3 milhões de pessoas ficaram prisioneiras  na cidade de Leninegrado, quando os alemães cercaram a cidade, confesso que não estava preparada para ler os relatos deste livro, é preciso ter o estômago forte para aguentar ler sobre tantas atrocidades cometidas.
O autor e historiador Michael Jones baseou-se em impressionantes testemunhos de sobreviventes e em relatos encontrados em diários, pinturas e desenhos, ou seja em factos reais e dá-nos a conhecer os horrores que milhões de pessoas passaram ao ser privadas das necessidades básicas para sobreviver prisioneiras na sua própria cidade.
Um livro que nos faz ver a crueldade sem precedentes do homem sobre outros seres humanos, o cerco impenetrável dos alemães fiz com que uma cidade inteira sofresse com a guerra, mas ainda pior, que tentassem sobreviver no meio do caos, em condições miseráveis, com fome, que fez com que muitas pessoas fossem levadas a  praticar canibalismo, (no mercado negro vendia-se carne humana), ninguém estava seguro ao andar na rua sozinho, pois podia ser apanhado por canibais, acrescentar  a isto as doenças, as epidemias,  tudo debaixo das intempéries de um frio extremo, em que chegavam a estar 40 graus negativos, sem electricidade, sem fonte de calor algum.
A fome era tanta que as pessoas comiam erva, ferviam papel das paredes, os cintos de couro, os livro e outras coisas mais. Para enganar o estômago, inacreditável. Mas matar à fome fazia parte do plano macabro, dos objectivos de Adolf Hitler.

“As pessoas estão tão enfraquecidas da fome que a morte lhes é completamente indiferente. Morrem como se adormecessem. Esta gente semimorta, que ainda anda por aí, já nem dá atenção a quem morre. A morte tornou-se um fenómeno do quotidiano, e as pessoas habituadas a elas. Estão apáticas, sabendo que este é o destino que as espera se não for hoje, amanhã. Quando saímos de casa de manhã encontramos cadáveres na rua. Ficam ali durante muito tempo, porque não há ninguém para os levar.”

Durante a leitura deste livro, vamos emergindo nestes relatos dolorosos, parei muitas vezes e pensei como era possível que tais actos bárbaros possam realmente ter  acontecido, parece que estamos a ler um daqueles contos de terror, e não algo real que aconteceu mesmo, é inimaginável para o ser humano comum, e tudo isto porque? Por motivos de ódio ideológico e racial, homens que fazem parte da história da humanidade como verdadeiros assassinos, como foi Hitler.
É verdade que a guerra pode trazer ao de cima os piores instintos num ser humano, quando luta para sobreviver, mas também faz sobressair o melhor que há nas pessoas, a bondade para com os outros, o heroísmo, a vontade de sobreviver a tantas atrocidades, e foi no meio deste horror que o autor também destaca como o ser humano consegue através de muita força de vontade vencer adversidades do tamanho do mundo, pois relata-nos casos de pessoas que sobreviveram graças à seu enorme vontade que os fez sair vitoriosos, e ainda outros que mesmo no limite das suas forças tinham actos de compaixão para com o próximo. 
Uma narrativa com uma escrita tão cheia de detalhes vivos, faz com que não seja uma leitura fácil, é um livro perturbador e muito doloroso de se ler, mas que precisava ser escrito sem dúvida alguma, são páginas negras que fazem parte da humanidade e que tem de continuar a ser lembradas e recordadas, para que não se volte a repetir nunca mais. Um livro a não perder, que todos deviam ler.

Michael Jones teve acesso a este espólio, falou com sobreviventes e traz-nos um relato de viva voz da extrema crueldade e da suprema bondade que se revelam quando a vida de todos os dias mergulha no mais absoluto horror.

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