16/01/2014

A Menina que Fazia Nevar, de Grace McCleen (opinião)



Opinião:
Não sendo praticante de nenhuma religião respeito quem o faz, mas que o faça sem impor aos outros ou “obrigue” os filhos a seguir o mesmo, que deixe que escolham em adultos aquilo que querem para a sua vida. Este livro trouxe-me memórias que estavam guardadas na minha mente há imensos anos, mas as quais nunca vou esquecer, quando era miúda vivi de perto a situação de uma amiga em que os pais professavam uma religião idêntica ou talvez seja a mesma, pelo que a autora descreve leva-me a pensar que sim, e o que mais me impressionava era o facto de obrigarem a minha amiga a seguir os mandamentos de Deus, ela era tão infeliz, e para agravar como as crianças são cruéis naquilo que pensam e fazem uns aos outros, como era diferente e não participava em certas actividades sofria o que se chama hoje de bullying, é o que faz o fanatismo numa religião.
Judith é uma menina doce, solitária, que tem apenas 10 anos, ficou sem mãe quando nasceu, pois devido à religião não recebeu assistência médica conveniente. Judith vive sozinha com o pai, não tem amigos além daqueles com quem se encontra no Salão de Reuniões, em casa não existe uma boa relação de pai para filha, não há afinidade, existe algo que os separa na parte afectiva. Com uma imaginação muito fértil, resolveu fazer no quarto um mundo só seu em miniatura ao qual lhe deu o nome de Terra de Leite e Mel, constrói com tudo o que encontra na rua e que os outros já não querem, faz casas, estradas, montanhas, pessoas e assim passa os seus dias num mundo há parte isolada de tudo o que a rodeia. Há noite depois de jantar com o pai lêem juntos versículos da Bíblia em voz alta.
Na escola claro que os colegas notam que é uma menina diferente dos outros, não entra em certas actividades, o que faz com que um rapaz da turma comece a persegui-la nas aulas, no recreio, fazendo-lhe mal, ameaçando-a e perseguindo-a até mesmo em casa.
É ai que o medo vem ao cima em Judith e começa a pensar como pode escapar dos actos do colega. O facto de acreditar naquilo que a Bíblia ensina, e o estar sempre sozinha leva-a a pensar que ouve e fala com Deus, e ao mesmo tempo que tem um dom, o de fazer milagres, mas que poderão ser tanto para o bem como para o mal.
A autora transmitiu muito bem o que as condicionantes numa religião levam as pessoas a fazer pela mesma, e demonstrou neste livro que no fundo não são pessoas felizes como querem fazer crer, o pai de Judith vive obcecado e não vê mais nada, nem mesmo a própria filha, o que é importante para ele é seguir e praticar o que a Bíblia manda. No fundo são pessoas que não vivem a vida na sua plenitude no dia a dia, nas relações pessoais, quando comem, na maneira como se vestem ou se divertem.
É um livro inquietante que nos leva a reflectir, e nos marca pela profundidade do assunto complexo e delicado que é – a religião, em que a solidão anda de mãos dadas, não pensem que vão ler um livro religioso, não o é, é sim uma narrativa que leva a uma introspecção sobre o que é a fé, e que todos deviam ler sendo crentes ou não em Deus, e demonstra em como os nossos actos trazem consequências na nossa vida e na dos outros que nos rodeiam. Uma história brilhante narrada sob o ponto de vista de uma criança a quem lhe foram impostas regras e não opções de escolha, mas também uma história inspiradora pelo seu final. Gostei muito.

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