CRÓNICAS
DE UM PORTUGAL DEMASIADO PORTUGUÊS
CARDOSO
– PARTE VII
Como dizia, assisti a um filme
inesquecível.
Fiquei tão entusiasmado com ele
que decidi alterar o programa da festa da freguesia, que estava sendo
preparada há três meses. Subitamente atirei para trás das costas a
imagem do santo padroeiro cá do sítio, o São Romão ou o São
Roque. Não me recordo bem, mas acho que é um destes porque eu
costumava confundir os seus nomes com os das terras de algumas das
minhas patroas favoritas. Ainda hoje me recordo daquilo que lhes
dizia: Josefina és de são Romão e bates forte no meu coração e
Olívia és de São Roque e ficas em brasa só com um toque. Se
calhar o raio do santo é o Isidoro, ou essa será a marca das minhas
salsichas favoritas? Já nem sei e também não é muito relevante.
Afinal, santo só é lembrado quando precisamos dele e os meus
paroquianos dão-me tudo o que necessito.
O que importa é que atirei a
imagem para trás das costas. Nem se partiu nem nada - o gajo deve
ser mesmo milagroso. E depois substituí-o pelo boneco representativo
do tal filme que mais recentemente me marcou.
A festa começaria dali a dois
dias. Não havia tempo a perder. Avisei toda a gente acerca das
mudanças e todos concordaram. Bem, nem todos, mas os que se
revelaram contra são agora infiéis, logo não contam. E ficaram
cheios de sorte porque a inquisição foi abolida, senão queria
vê-los a barafustar.
Portanto, para as novas
festividades tive de correr que nem um tolinho. Felizmente o Carnaval
estava próximo e consegui encontrar umas indumentárias jeitosas.
O dia chegou e estava tudo em
pulgas.
Primeiro apareceu a águia
Vitória sobrevoando a praça principal. Como a maioria dos
habitantes, ela também vestia um fato, infelizmente pesado demais,
pois acabou por se estatelar no chão. Estava disfarçada de
pteranodonte.
A seguir foi a vez do rinoceronte
que comprei no ebay desfilar pelas ruas da localidade. Tinha
colado umas coisas bicudas no dorso para que se fizesse passar por um
tricerápoto, pelo que estava perfeito. No entanto o gajo ficou
parado sem se mexer, mesmo em frente à fábrica clandestina de
sapatos do Quim Zé. Deitou-se no chão e ficou ali de papo para o
ar, o inútil. Liguei o facebook no telemóvel. Preparava-me para
ameaçar o vendedor quando percebi que os cidadãos se encostavam ao
peito do rinoceronte e que iam e vinham com a respiração. Por isso
mudei de ideias e não armei um escândalo porque o pessoal parecia
estar a gostar.
O terceiro a aparecer foi uma
girafa que pedi emprestada ao zoo. Depois um urso cujo fato eu havia
roubado numa loja da Natura que falira, um veado emprestado por um
caçador americano, um hipopótamo domesticado por um príncipe
africano e o rei do jet set do momento. Todos disfarçados de
dinossauros.
Eu apareci no fim, mascarado de
t-rex. Eu era o maior de todos eles, o verdadeiro predador.
Claro que o filme que eu tinha
visto era o “Jurassic Park” e a freguesia lá do sítio passaria
a ser a nova terra dos dinossauros. Mal a festa terminou iniciei uma
petição para que o nome da terra passasse a Parque Jurássico. O
povo gostou da ideia. Claro que eu tinha de pensar num estratagema
para que o presidente da Junta se demitisse, pois apesar de ter limpo
valetas e alcatroado as estradas o gajo era anão. E um anão não
tem lugar de destaque numa terra de gigantes. Talvez servisse noutra
população, ou talvez pudesse ser readmitido no ano seguinte, por
altura das festas. Afinal sempre quis ver “O Senhor dos Anéis”.
Logo de imediato telefonei ao Steven Spielberg para se candidatar à
presidência da Junta. Ele recusou, assumindo que já era presidente
da Schindler Portugal, uma empresa de elevadores. Mandei-o à merda e
depois tentei entrar em contacto com o autor que tinha escrito o
livro no qual Spielberg se baseara para fazer o filme. Mandei-o à
merda também a ele por não me ter respondido aos e-mails.
Acabou por me contactar um gajo qualquer que assumia ser o seu
agente. Explicava que o senhor Crichton tinha morrido. Obviamente não
engoli essa. Toda a gente sabe que os famosos só ficam famosos
depois da sua morte. Era lógico que esse tal Crichton tinha simulado
o seu enterro.
Fiquei fodido, mas surgiu-me uma
ideia. Lembrei-me lá na minha caixinha de memórias que o Quim
Barreiros tinha uma música intitulada de “Meu Dinossauro”.
Liguei-lhe mas estava incontactável. Por algum motivo o gajo era
mais difícil de encontrar do que o Spielberg. Mandei-o à merda
também ele.
E então tomei uma decisão.
Não, eu não me candidataria à
presidência.
Eu arranjaria uma senhora
presidente, em vez de um homem presidente. Eu chamaria a Dina, a do
festival da canção, a que trinca e mete na cesta. A Dina era
perfeita, ela seria a rainha-mãe de todos os dinos.
2 comentários:
E agora...tan...tan...tan....Realizador,e esta,ein?!
kkkkkkkkkkk
LOL :D
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