16/06/2010

Um livro para sua excelência - nº 4

Tenho uma certa admiração por este senhor. Não só por ser minhoto como eu mas, principalmente pelo seu passado. Alberto Martins foi presidente da Associação Académica de Coimbra nos anos sessenta e, nessa condição, foi um dos mais destacados lideres do famoso movimento de contestação estudantil em Portugal, na sequência do Maio de 68, em França.
O fascismo do já quase moribundo Salazar, de Caetano e de Tomaz foi desafiado por esses jovens temerários, tendo alguns deles pago tal atrevimento com a prisão. Foi o caso de Alberto Martins.
Mas hoje ele é Ministro da Justiça e não posso dizer que o admiro da mesma forma. Aliás qualquer cidadão português vê o triste estado em que está a justiça portuguesa, cada vez mais terceiro-mundista. Nem vale a pena dar exemplos porque qualquer pessoa os reconhece nesta “república das bananas” em que vivemos…
Portanto, para melhor poder meditar no triste estado a que este Estado chegou, aconselharia Alberto Martins uma leitura atenta desta obra magnífica: O Processo, de Franz Kafka.
Nesta obra, sempre actual, Kafka descreve-nos um sistema de justiça que se defende e auto-valoriza pelo afastamento em relação ao comum dos mortais. Ao Estado convém que o cidadão seja ignorante, para que continue a servir o sistema com reverência e respeito cego.
A justiça cultiva uma aparência irreal, misteriosa, algo que paira sobre o cidadão como uma super-estrutura sem rosto. Ao cidadão não cabe compreender nem questionar. Apenas obedecer. Afinal, Joseph K., o herói de Kafka não estva muito distante do cidadão português do século XXI.

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