Custa um pouco “entrar” neste livro. Um início algo confuso corre o risco de afastar alguns leitores menos pacientes. As várias personagens são apresentadas em catadupa e as diferentes estórias do enredo causam alguma confusão na mente do leitor. Mas chega-se ao final com a sensação de prazer que uma boa leitura proporciona.
O grande problema da literatura policial é que, desde há muitos anos, talvez desde Simenon, se tornou muito difícil superar ou sequer igualar os grandes clássicos do género: Sir Arthur Conan Doyle e Agatha Christie. Talvez por isso, parti para esta leitura sem grandes expectativas. E isso é meio caminho andado para se gostar de um livro. Surpreendeu-me pela positiva.
Ao longo do livro há um crescente de emoção, um ritmo narrativo cuidadosamente planeado para esse crescendo.
Jack Caffery procura desvendar uma série de crimes violentos (assassinatos disfarçados de suicídios) relacionados com estranhos rituais de origem africana, envolvendo tráfico de órgãos humanos. Neste contexto, as descrições de Hayder são muitas vezes verdadeiramente arrepiantes.
“Pele” foge com sucesso de todos os clichés da literatura policial; aqui não há detectives super-inteligentes e super-honestos: há uma investigadora subaquática que tenta encobrir um crime cometido pelo irmão alcoólico e um detective que recorre a estratégias fora de qualquer protocolo e mesmo desonestas. Não há também o eterno cliché da paixão “assolapada” do detective pela bela mulher-polícia; há, isso sim, seres humanos com os dilemas e os problemas das pessoas comuns. Não há sequer aquelas coincidências extraordinárias que geralmente tornam estas estórias totalmente inverosímeis. Aqui todo decorre dentro da lógica possível que há na vida.
Em suma, quem lê este livro é convidado a subir uma montanha íngreme, com alguma dificuldade, mas depois passeia no planalto de um enredo envolvente e emocionante. Vale a pena a subida.
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