31/03/2013

Tempo para Falar de Helen Lewis



Helen Lewis sobreviveu ao maior pesadelo alguma vez sonhado pelo homem. A sua história é apavorante, mesmerizante e lê-se com incrível gratidão pela sua clarividência, honestidade e coragemIan McEwan

Opinião:
Ao longo dos anos já li muitos livros sobre as atrocidades cometidas no Holocausto, mas continuam sempre a chocar-me da mesma forma, cada vez que leio outros relatos, de outras pessoas que passaram por este pesadelo, mas tal como diz no livro todos têm que ser recordados, não só por aquilo que sofreram como também para garantir que tal nunca mais voltará a acontecer”. 

E é o que o eu penso desde a minha adolescência, quando falo com outras pessoas sobre o que aconteceu, que deve ser relembrado em todas as gerações, nas escolas, em casa, seja onde for, deve-se falar e escrever sobre o Holocausto - este episódio tenebroso da história da Humanidade, para nunca mais se repetir, e que nas gerações vindouras não se cometam os mesmos erros.

A autora Helen Lewis nasceu em Trutnov, na Checoslováquia em 1916, tinha uma paixão pela dança e foi a isso que se entregou, estudou no Mayerova Milca escola de dança em Praga, também ensinou dança e coreografia. Mais tarde casou, mas passados 4 anos em 1942 por ser judia foi deportada juntamente com o marido Paul, para o campo de concentração nazi de Terezin, em 1944 foi para o campo de Auschwitz, na Polónia. Começou ai o pior pesadelo que qualquer ser humano possa imaginar, consegue contar-nos a história da sua vida de uma maneira simples e serena, mas muito realista, sofreu juntamente com milhares de pessoas as atrocidades que outros seres humanos lhes infligiam, privações como não ter roupa para o frio, fome, doenças que não eram tratadas, coisas simples, que um ser humano precisa necessidades básicas, a brutalidade exercida, violência e agressividade por parte das SS, que os obrigava a trabalhar, sem forças para isso, impressiona e choca. O tratamento desumano que lhes era infligido são poucas as palavras para o descrever.
Como é que alguém conseguiu sobreviver a todo este calvário? é o que me pergunto muitas vezes, como é que no meio disto tudo conseguia-se criar um fiozinho de esperança e agarrar-se a ele dia a dia para sobreviver a todas as provações diárias, sem saber se naquele dia ia viver ou morrer, com fome, frio e doente, ou mesmo enviado para a morte.
A autora conta-nos tudo com uma calma e simplicidade, como sobreviveu a estes cenários arrepiantes de maus tratos, mas também descreve actos de bondade de pessoas que provavelmente lhe salvaram a vida, até mesmo da parte de elementos das SS. Relata um episódio, em que foi necessária para ensaiar uma coreografia de dança para os oficiais das SS, e que mesmo com os pés congelados, com fome, o seu corpo ainda se lembrava dos movimentos das longas horas de ensaio na escola de dança em Praga. Conseguiu comida extra e provavelmente foi-lhe poupada a vida, eram esses momentos de humanidade, pequenas gentilezas que traziam alguma esperança.
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Uma narrativa de memórias incrível, uma história com um testemunho notável, comovente e muito marcante, de uma mulher corajosa, de uma sobrevivente de Auschwitz, a maneira como escreve as suas recordações parece que não esteve lá mas sim que foi uma testemunha ocular dos acontecimentos, um livro inesquecível, de muita tristeza, mas contada sem amargura ou raiva.
É um testemunho que todos devem ler.

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